Por Gilson Moura Henrique Junior
O Estado não massacra apenas com base em policiais armados, escudos transparentes, capacetes e a determinação de manter tudo em seu lugar.
O Estado massacra como coirmão do Capital na retirada da energia cotidiana, na construção do medo, do medo de perder a casa, o respeito, as raízes, o senso, o bom senso, a alegria.
O Estado massacra ao ser cúmplice da mercantilização do morar, ao ser primo-irmão da gentrificação que aluga cavernas insalubres com preço de tendas bordadas a ouro e cobra por elas tudo, abusa de contratos leoninos, esmaga a alma, o viver, o sorriso.
Há quem consiga escapar com a ajuda dos amigos, por algum tempo, e se transferir pra outro canto, sobrevivendo, se movendo, fugindo da sanha feroz de almas que o Estado e o Capital fomentam para além do sentimento comum de seus controladores, mas intervindo até no sonho e na fome de outros massacrados por eles, que naturalizam a lógica de devoramento de homens, mulheres e crianças pela máquina de moer carne das megalópoles urbanas.
Somos todos pisoteados pelo estado e pelo capital, esmagados contra as cercas da cidade, conquistando força na marra, retirando de onde não tem.
Nós ainda temos saída, mas e quem não tem? Quem não tem suporta o peso das botas, do aluguel, do emprego mal pago e muito explorado e reza pra chegar a tempo de se aposentar e trabalhar um pouco menos nos bicos que puder pra complementar renda, rezando pra ainda distribuírem remédios necessários nas unidades de saúde.
E ai não adianta permacultura, falar em bem viver, em veganismo, em soluções mágicas de fuga da realidade esmagadoras de um capital estado onipresente que não poupa nada e não abre espaço pra quem é escravo dele não por ser fraco, mas por não ter nascido alimentado com Purê de Batata Inglesa e Pêra doce a ponto de poder sair levemente de onde dói mais o esmagamento pra um lugar onde o pisar seja mais ameno.
É mole chamar o fudido de “escravo” enquanto ele resiste com uma força inaudita a pressões que cada um dos rebeldezinhos de internet choraria se sentisse meio por cento na pele.
Pra derrubar o estado é preciso ir além da crítica ao voto, é preciso dar suporte para a destruição da relação de esmagamento de famílias sob as botas da precificação do direito de morar.
Sem casa não vivemos. Sem viver, como lutamos?