Fonte: O Rio de Janeiro através dos Jornais
“Começou ontem o movimento dos operários a favor da greve geral. A polícia interveio, com o objetivo de impedir que algumas fábricas tivessem seu movimento paralisado. Logo depois, eram espalhados boatos alarmantes de que “os operários anarquistas planejavam uma revolução, estando, para isso, fortemente municiados”. Em realidade, pelo que pudemos verificar, os operários não têm pretensões políticas; disputam tão somente a garantia de um direito, que é assegurado aos operários de todas as partes do mundo e que aqui, até agora, lhes tem sido negado. (…)
O que querem os operários é suavisar suas condições de vida; é a regulamentação das horas de trabalho; é uma lei sobre os acidentes; é a proteção às crianças e mulheres; é, enfim, fiscalizar como compete a todos os cidadãos a ação do poder público, submetendo ao seu exame as soluções desses problemas, entre nós, tão retardado. Este movimento dos operários era conhecido e esperado. Infelizmente, porém, não se revestiu de uma caráter inteiramente pacífico. Houve sérias consequências a lamentar, talvez, devido à ação das autoridades policiais, que se precipitaram em sua ação, efetuando prisões a torto e a direito, utilisando da maior violência, trancafiando no xadrez todo aquele que julga responsável pela situação, sem atender à sua condição social. Foi o que se deu ontem com o professor Oiticica, que antes de ser transferido para a Brigada Policial, esteve encarcerado nas enxovias do palácio da rua da Relação. (…)
De sorte que o movimento operário anunciado por todos os jornais, em favor da greve geral, assim de um momento para outro, assumiu o mais grave aspecto. (…)” – O Imparcial, 19 de novembro de 1918.
“Os acontecimentos que se passaram ontem nesta cidade devem ter trazido a todas as classes conservadoras da população a convicção de que não é mais possível transigir com os agitadores, que procuram arrastar o proletariado brasileiro a uma perigosa aventura, para repetir no nosso país as cenas de anarquia que desorganizaram a Russia e eliminaram, politicamente, do convivio das nações o antigo império moscovita. Quando o movimento revolucionário vem para as ruas lançar bombas e tentar assaltar os depósitos de material bélico, não é mais tempo de discutir reivindicações e de argumentar sobre teorias sociológicas. A hora é de ação, de açào energica, de ação inflexível, sem hesitações e sem temores, para defender a ordem pública, para proteger a propriedade particular, para assegurar a inviolabilidade dos lares, ameaçados pelo saque e pela violência da mashorca. (…)”
“Era já há dias assunto cogitado pela polícia o esperado movimento operário, que, segundo os boatos que corriam, teria as mais graves consequências. Sabedora desse movimento hostil, a que não faltaria o elemento anarquista, a polícia começou a desenvolver a sua atividade, no sentido de reprimir o movimento logo à primeira manifestação de alteração da ordem pública. Todo esse cuidado, entretanto, não só da polícia como das corporações armadas, apesár da rigorosa prontidão em que há dias se achavam os quarteis, não evitou a violência do movimento operário que ontem, à tarde, se fez sentir com tiroteios de revólveres e bombas de dinamite. Atacados no primeiro momento, parece terem fracassado as intenções malevolas dos grevistas, mas, durante as duas horas, mais ou menos, em que reinou a desordem, houve tempo bastante para trazer um grande pânico à população, principalmente dos bairros onde a violência do movimento mais se fez sentir. (…)” O Paiz, 19 de novembro de 1918.
“Declararam-se ontem em greve, precisamente, às 3 horas da tarde, os operários das fábricas de tecidos Carioca e Corcovado, situadas no bairro da Gávea. O número de operários que ali trabalham é aproximadamente de 4000. Os grevistas se mantiveram em atitude pacífica. A polícia imediatamente mandou fortes contingentes de força para guardar as fábricas e as suas imediações transformando o belo e pacato bairro proletário numa verdadeira praça de guerra. (…)
Como é sabido, desde julho do ano próximo passado, os operários tecelões conseguiram, à custa de grandes sacrifícios, a semana de 56 horas, que representavam 6 dias de serviço. Os industriais sempre procuraram, por todos os meios, apesár dos acordos que faziam hipocritamente com a União, arrancar essa concessão por eles próprios oferecidos aos seus operários. No último acordo realizado em fins de agosto último, sorrateiramente os industriais quizeram abolir esse horário, querendo estabelecer o pagamento por horas e não pelos 6 dias da semana, conforme estava fixado. A comissão da União que fez parte do acordo por delegação dos operários não aceitou tal sugestão. Os industriais continuam a persistir no seu intento, apesár de já estar aprovado o acordo aludido. (…)
É, pois, justificável essa greve, que não representa senão um movimento de instinto de conservação, porquanto, com o novo horário imposto pelos industriais, os operários trabalhavam mais ou menos 28 horas por semana, equivalentes a 3 dias completos, fazendo menos da metade dos salários que antes percebiam.
Com a situação deplorável a que foram reduzidos pela epidemia e pelo espectro da fome que paira sobre os seus lares, só a greve geral como único recurso, poderia ser o protesto desses trinta mil trabalhadores espoliados.” A Razão, 19 de novembro de 1918.
“Não há mais dúvida que a greve, o movimento preparado pelos agitadores, está por pouco, esperando-se a todo o momento o estourar do petardo. A polícia cometendo agora verdadeiras violências, vem, mesmo assim, tomando várias providências. Desde muitos dias, como se sabe, está a polícia de rigorosa prontidão, pernoitando constantemente, no seu gabinete o respectivo chefe. Hoje, à tarde, por determinação desta mesma autoridade, foram presos vários individuos apontados como agitadores. E esses, cujo número atinge a cerca de 10, estão recolhidos, incomunicáveis, ao Corpo de Segurança. (…)
Às 3 horas da tarde todas as fábricas paralisaram os serviços, tendo os operários abandonado o trabalho.” A Rua, 18 de novembro de 1918.
“Continua reforçada a guarda do palacio do Catete por uma companhia de guerra do 56o de caçadores, sob o comando do capitão Gregório da Fonseca. (…)
É uma medida cujos resultados têm sido os melhores possíveis, esta tomada hoje pelas nossas autoridades. É o caso que, dos trens procedentes de Bangu e adjacências, em Deodoro, são os passageiros convenientemente revistados por soldados do exército que ali estão sob odem imediata de um oficial. Até à 1 hora da tarde, muitas eram as armas e outros apetrechos suspeitos apreendidos naquela estação. (…)
De regresso paraa estação da Carioca, da estação de Neves, já madrugada, vinha o bonde no 21, conduzido pelo motorneiro Antonio da Silva, quando um forte estampido da explosão de uma bomba se fez ouvir sob as rodas. O veículo passava justamente em frente ao poste no 148 e com o choque veio até a frente do 146, já com o assoalho e o teto furados, desconjuntado, sendo necessário o emprego de grande perícia da parte do motorneiro, para que o carro não tombasse.
Outra bomba, porém, estava colocada nas proximidades deste último poste, que fica quase à esquina da rua Silva Manuel e as rodas do lado contrário do veículo tocaram-na também, explodindo o pétardo, com grande fragor. Mãos terroristas haviam-na colocado alí para que explodissem à passagem dos elétricos. parado, enfim, o veículo, verificaram os que nele estavam que a linha estava minada de aparelhos explosivos. Do lado contrário as rodas quase tocavam um novo pétardo e mais adiante, na linha contrária, em frente à casa no 54, viam-se colocadas mais duas bombas. (…)
A polícia, num cálculo ao que parece errado, forneceu à imprensa a nota de que se acham paralisados apenas 15 fábricas, estando em greve cerca de 15.190 operários.” – A Rua, 19 de novembro de 1918.
“Pelo movimento observado de hoje pela manhã, em toda a capital está já extinta a agitação que ontem irrompeu em vários pontos da cidade. Ninguém mais ignora pelas notícias dos jornais da manhã de hoje, as ocorrências havidas. Assim só temos que registrar a mais, o aparecimento de bombas de dinamite em vários pontos e ameaças constantes de grevistas a fábricas cujos operários estão em número reduzido trabalhando. No mais, boatos, com o intuito de perturbar a ordem e manter acesa a agitação, que neste momento não serve aos interesses operários e perturba a normalidade governamente, preparada, porém, para manter a tranqüilidade pública. A opinião pública, acompanha sobressaltada a imprevista e injustificável agitação e espera que tanto o patriotismo do proletariado, como as providências do governo concorram para que a vida nacional volte o mais breve possível à normalidade.” Rio Jornal, 19 de novembro de 1918.
“Terminou a bernarda à dinamite que deu ao povo uma impressão pouco favorável do modo por que os anarquistas querem realizar a “nova sociedade”. O governo, que agora reprimiu a desordem, deve saber quais são as justas reivindicações operárias, para apoiá-las. (…)
A cidade voltou ao seu aspecto normal, estando completamente dominado o movimento que quizeram fazer em o operariado. Por precaução, a polícia mantém ainda o policiamento reforçado, não permitindo reuniões na praça pública, nem nas associações operárias. Algumas fábricas já começaram a funcionar, continuando em outras a greve pacífica. (…)
Um perverso, de idéias anárquicas, pela manhã de hoje arremeçou uma bomba de dinamite contra um edifício da Rua Cândido Benicio, em Jacarepaguá, onde funciona um orfanato. O estrondo foi enorme, alarmando todo o bairro, não fazendo, felizmente, nenhuma vítima. Preso o perverso individuo, foi levado à delegacia do 24o distrito, onde deu o nome de Rodolfo Pereira Leal. É ele um vagabundo conhecido na zona.” – Rio Jornal, 20 de novembro de 1918.
“A polícia do 23o distrito apreendeu hoje, no morro da Carolina, na Vila Militar, duas bombas pequenas de dinamite, que se achavam colocadas sob um montão de capim sapê. Essas duas bombas foram levadas para a delegacia, de onde o sr. delegado fê-las remeter para a Central de Polícia. O policiamento de todo o subúrbio continua com o mesmo número de praças, conforme tem sido feito, apesár do movimento grevista encontrar-se mais ou menos tranqüilizado.” Rio Jornal, 21 de novembro de 1918.
AS MANCHETES
Um Sussuro De Mashorca Politiqueira Explora A Greve Geral Dos Operários Tecelões – Na Iminência De Uma Greve Geral – Rebentou, Ontem, A Parede De Todos Os Tecelões Do Rio E De Niterói – Setenta Mil Operários Em Greve – O Movimento Paredista Alastra-se À Medida Que A Polícia Estabelece E Espalha O Terror – A Greve Dos Operários Prossegue Intensa, A Despeito Da Barbariedade Alemã Da Polícia. (A Razão)
Os Operários Das Fábricas De Tecidos Declaram-se Em Greve – Uma Delegacia Atacada Pelos Grevistas – Grande Conflito Na Fábrica Confiança – Um Delegado Ferido E Um Grevista Morto – O Litoral E Outros Pontos Da Cidade Policiadas Pelo Exército (O Imparcial)
Estaremos Sobre Um Vulcão? Procura-se Dar À Greve Dos Tecelões Um Caráter Político Muito Sério – A Polícia Age Nas Trevas – Que Haverá De Verdade? – Estará Sufocado O Movimento? – Gorou O Movimento Operário? Tudo Em Paz? (A Rua)
Bernarda Ou Greve? O Aspecto Da Cidade É De Relativa Calma. As Fábricas Continuam Paralisadas, Estando Algumas Delas Ameaçadas Pelos Grevistas. Bombas De Dinamite Encontradas Por Toda A Parte (Rio Jornal)