Fonte: Anarquia e Poesia – Blog para divulgação de poesias libertárias e outras de caráter crítico
A Hora
Hora de sacrifícios e entusiasmo!
Pulsa meu coração, meu peito arqueja
No momento da ação replito e pasmo.
É a batalha final! Trovo, troveja,
Além-mar, o canhão; foi-se o marasmo
Da plebe una, e a revolta bemfazeja
Move espada e morrão, ódio e sacasmo.
Levantam-se os escravos contra os amos!
Há um clamor de vitória em toda a Terra…
Somos nós, anarquistas, que clamamos!
Nós que vamos sorrindo e subvertendo,
Arrastando os irmãos à Maior Guerra,
Num rebate de loucos, estupendo!
O protesto
Contra a fé que reduz o homem a alma submissa,
Iludindo-o com céus que nunca se abrirão.
Clamo contra o senhor, clamo contra a cobiça,
Inventora de leis, criadora de opressão.
Sou Spártacus e odeio a pátria se esperdiça
Meu sangue e faz, do suor, esforço hostil e vão.
Bradam, no meu protesto, os prantos do passado…
Ira acêsa de todo um mundo sofredor;
Mártir do amo, do rei, do padre, do soldado!
Sou a nova intuição contra a lei do Senhor;
Sou a ação que destrói a moral do pecado,
Para erigir o orgulho e libertar o amor.
(José Oiticica – 1919)
A cidade
Não sigo a mesma norma dos doutores
E ergo, acima das baias, minha vista.
Aperto, entre meus dedos compressores,
A garganta da casta comodista;
Anuncio outra lei e outros valores;
Sou a palavra santa que conquista.
Vou sozinho, arrostando o ódio dos amos…
E em pó, no topo da colina extrema,
Indico ao povo a Sião para onde vamos:
Vamos para a cidade iluminada!
Vejo-a ao longe, a faiscar, como diadema,
Entre a prata e os carmins da madrugada.
José Oiticica
-1919