O que é amar, por Bakunin

bakunin 1

POSTADO EM: Diário da LiberdadePimenta Negra (26 de agosto de 2010)

Carta de Bakunin ao irmão Paulo ( 29 de Março de 1845)


Continuo a ser eu próprio, como antes, inimigo declarado da realidade existente, só que com uma diferença: eu parei de ser um teórico, eu venci, enfim, em mim, a metafísica e a filosofia, e entreguei-me inteiramente, com toda a minha alma, ao mundo prático, ao mundo dos factos reais.

Acredite em mim, amigo, a vida é bela; agora tenho pleno direito de dizer isto porque parei há muito tempo de olhá-la através das construções teóricas e de conhecê-la somente em fantasia, pois experimentei efectivamente muitas das suas amarguras, sofri muito e entreguei-me frequentemente ao desespero.

Eu amo, Paulo, amo apaixonadamente: não sei se posso ser amado como gostaria que fosse, porém não me desespero; sei, pelo menos, que tem muito simpatia por mim; devo e quero merecer o amor daquela a quem amo, amando-a religiosamente, ou seja, activamente; ela está submetida à mais terrível e à mais infame escravidão e devo libertá-la combatendo os seus opressores e incendiando no seu coração o sentimento da sua própria dignidade, suscitando nela o amor e a necessidade da liberdade, os instintos da rebeldia e da independência, fazendo-lhe recordar a sensação da sua força e dos seus direitos.

Amar é querer a liberdade, a completa independência do outro; o primeiro acto do verdadeiro amor é a emancipação completa do objeto que se ama; não se pode amar verdadeiramente a não ser alguém perfeitamente livre, independente, não só de todos os demais, mas também e, sobretudo, daquele de quem é amado e a quem ama. 

Esta é a profissão da minha fé política, social e religiosa, aqui está o sentido íntimo, não só dos meus actos e das minhas tendências políticas, mas também, tanto quanto me é possível, da minha existência particular e individual; porque o tempo em que poderiam ser separados estes dois géneros de acção está muito longe da gente; agora o homem quer a liberdade em todas as acepções e em todas as aplicações desta palavra, ou então não a quer de modo algum; querer a dependência daquele a quem se ama é amar uma coisa e não um ser humano, porque o que distingue o ser humano das coisas é a liberdade; e se o amor implicar também a dependência, é o mais perigoso e infame do mundo porque é então uma fonte inesgotável de escravidão e de embrutecimento para toda a humanidade. 

Tudo que emancipa os homens, tudo que, ao fazê-los voltar a si mesmos, suscita neles o princípio da sua vida própria, da sua actividade original e realmente independente, tudo o que lhes dá força para serem eles mesmos, é verdade; tudo o resto é falso, liberticida, absurdo. Emancipar o homem, esta é a única influência legítima e bem-feitora. 

Abaixo todos os dogmas religiosos e filosóficos – que não são mais que mentiras; a verdade não é uma teoria, mas sim um facto; a vida é a comunidade de homens livres e independentes, é a santa unidade do amor que brota das profundidades misteriosas e infinitas da liberdade individual.

Nota biográfica:

Mikhail Bakunin (1814-1876), de origem aristocrática, que percorreu toda a Europa como activista revolucionário e exilado político, foi um dos fundadores da Associação Internacional dos Trabalhadores, também conhecida por I Internacional, sendo uma das figuras mais importantes do movimento e do pensamento anarquista. Da sua bibliogarfia destaca-se o livro Deus e o Estado.

A carta reproduzida acima tem data de 29 de Março de 1845 e foi enviada de Paris por Bakunin ao seu irmão Paulo.

 

Vídeo: Capitalismo & Outras Coisas de Crianças

capitalism_and_other_kids_stuff

Resenha por Cid Oliveira

Capitalismo & Outras Coisas de Crianças, um vídeo curto e direto que nos convida a olhar de uma forma diferente para o mundo em que vivemos e a questionar algumas das mais básicas premissas da vida no Capitalismo. Um ponto interessante deste trabalho é apresentar em linguagem clara e sem jargões econômicos ou políticos as bases sobre as quais se assentam o Capitalismo e, com isso, levar à capacidade de instruir e despertar a consciência crítica, ao demonstrar que, ao contrário do que quer nos fazer pensar a ideologia imperialista neoliberal estadunidense, um outro mundo baseado na cooperação e na ajuda mutua é possível!

Curdistão: YPJ forma nova divisão em Shingal

ypj-sengal

 

POSTADO EM Rojava Report, 8 de Janeiro de 2015
Tradução livre do Coletivo Anarquia ou Barbárie

Uma nova divisão das Unidades de Defesa das Mulheres (YPJ) está sendo formada como uma parte dos esforços para construir as Unidades de Defesa de Shingal (YBŞ) de acordo com um novo artigo por Rojin Deniz e Sara Xwinda para JINHA News que apareceu em Özgür Gündem. A decisão de constituir uma divisão separada, uma YPJ-Shingal, foi tomada por aproximadamente 50 mulheres Yazidi que já estão lutando com o YBŞ. Um comunicado divulgado pela liderança do recém-formado YPJ-Shingal, seguido da decisão, diz: Nós estamos chamando a todo o povo Yazidi para apoiar a reforçar essa luta, e em particular às jovens mulheres Yazidi para serem sensíveis à nossa luta”.

Para As Sagradas Montanhas de Shingal
O comunicado das YPJ-Shingal continua: “Mulheres de dentro das fileiras das YBŞ têm se organizado através de uma nova identidade, as YPJ-Shingal (Yekîneyên Parastina Jin ê Şengalê). As YPJ-Shingal declararam que seu objetivo fundamental é permitir que as pessoas que vivam em Shingal, as mulheres, as montanhas de Shingal que são sagradas para o povo Yazidi, e a fé Yazidi e a cultura, que vivam livremente em consonância com o democrático, ecológico, feminista e emancipatório paradigma do líder Apo. A organização YPJ-Shingal tem como princípio a organização, de acordo com uma consciência de auto-defesa, de mulheres que vivam em Shingal. Elas lutam para a libertação de Shingal e para manter viva a memória de mulheres curdas Yazidi que foram mortas na luta pela liberdade, e para abraçar a mulheres que perderam suas vidas ao realizarem essa tarefa.

Às fileiras das YPJ-Shingal
Após o anúncio de sua formação, o comando do YPJ-Shingal pediu apoio, dizendo: Nós estamos convidando todas as pessoas Yazidi a apoiar o fortalecimento desta luta, e em particular as jovens mulheres Yazidis a serem sensíveis à nossa luta a se juntarem às fileiras do YPJ-Shingal, a fim de lembrar @s noss@s amig@s Viyan, Evrim, Armanc, Jiyanda, Roni, Dilgeş, Canpolat, Zinar, Ezdin, Kasım e Serdar, que morreram na luta para libertar Shingal, da mesma forma como @s camaradas Ş. Berivan (Binevş Agal), and Ş. Xane.”

“Prometemos às mulheres do mundo que venceremos”

POSTADO EM: Comitè de Solidariedad con Rojava y el Pueblo Kurdo, 13 de Janeiro de 2015.
Tradução livre do Coletivo Anarquia ou Barbárie.
Gülistan Kobanê, comandante das YPJ.

 

Uma das comandantes das YPJ (Unidades de Proteção da Mulher) em Kobane, Gülistan Kobanê, avaliou os ataques do EI (Estado Islâmico) contra o cantão, que começaram em 15 de setembro de 2014, dizendo o seguinte: “O lema das YPJ a este respeito é que enquanto defendermos Kobane, Kobane não cairá. Nesses quatro meses, cumprimos com o prometido contra todo o prognóstico inicial”.

Ela acrescentou que Kobane ainda não caiu e que as YPJ, em um esforço conjunto com as YPG (Unidades de Proteção do Povo), têm evitado que o EI avance em qualquer frente. “As YPJ demonstraram que nem o EI nem nenhuma força poderá com o povo curdo enquanto as YPJ continuarem presentes”.

A comandante recordou que as YPJ também se formaram para combater a mentalidade opressora predominante dos homens em relação às mulheres; seu inimigo por excelência, o EI e seu fascismo islâmico, tem sofrido severos golpes. “A resistência apresentada pelas YPJ contra os crimes do EI deram lugar ao surgimento da esperança entre as mulheres do mundo todo”.

As YPJ dão honra e identidade às mulheres, elas estão lutando heroicamente na linha de frente contra o EI, e os homens combatentes antifascistas professam um grande respeito a elas”.

Nunca pensamos que Kobane fosse cair. Combatentes como Dicle, Delila, Hevi, Nuda e Arîn Mîrkan se negaram a permitir que o inimigo avançasse e sacrificaram suas vidas heroicamente. Essas camaradas têm se convertido em um símbolo de liberdade para as mulheres curdas e do mundo todo”.

Além do mais, a comandante assegura que “a ilusão criada pelo EI tem sido esmagada”, posto que as YPJ tem sido temidas pelos terroristas do EI, fazendo alusão ao desmoronamento do principal fator de recrutamento do EI (o acesso ao paraíso e a concessão de 40 mulheres virgens após a morte na Guerra Santa), o qual está vedado àquele homem que morra em combate contra uma mulher, de acordo com os rumores entre os fascistas.

Gülistan conclui dizendo que “[…] nossa resistência e o combate continuarão. Prometemos às mulheres do mundo que, em memória às camaradas caídas, venceremos”.

Guiné-Bissau: Luta por Água, Eletricidade e por uma Escola Libertária

(GUINÉ-BISSAU) CRÔNICA DE UMA LUTA POR ÁGUA E ELETRICIDADE; E PELO PROJETO DE UMA ESCOLA LIBERTÁRIA

FONTE: Portal Anarquista, Ex-Colectivo Libertário de Évora em 13 de Janeiro de 2015.

(Publicado originalmente na revista anarquista italiana ‘Rivista A’, nº 393, Novembro 2014 e traduzido e publicado depois no jornal ‘A Batalha’, nº 262, de Dezembro de 2014)

foto

Guiné Bissau: Quarenta anos de independência, pobreza e medo

por Vavá Oliveira

A Guiné Bissau tem o recorde negativo de se contar entre os países mais pobres do mundo: 65% da sua população vive no limiar da pobreza. Mesmo famílias que ganham um ou mais salários correm o risco de ter apenas uma refeição por dia. Na capital, Bissau, acresce o péssimo serviço da empresa pública que deve fornecer corrente eléctrica e água potável. Na ausência desta última o quadro sanitário piora e doenças como o tifo e a cólera são endémicas. Nos hospitais o serviço de saúde e os medicamentos estão sujeitos a pagamento. Não há escolas nem professores para todos, e mesmo após pagamento das taxas escolares o curso pode ser suspenso ou cancelado. O resultado é 50% de analfabetismo e uma esperança de vida que a custo ultrapassa os 45 anos.

No âmbito político o país vive sob a hegemonia do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) desde a independência de Portugal. Tal como noutros países da África subsaariana, uma élite nacionalista autóctone, espécie de pequena burguesia, assume o controlo do Estado e dos recursos naturais. Divididas entre si, as facções desta pequena burguesia combatem entre elas pelo controlo dos recursos públicos através de sucessivos golpes de Estado realizados pelos respectivos comparsas no interior das Forças Armadas.

A população, esmagada pela repressão em todas as mobilizações, esconde-se sob um véu de passividade e de silêncio (djitu ka ten). Assassinatos políticos, buscas e detenções arbitrárias, sobretudo nos últimos anos, estão presentes no imaginário popular e reforçam a cultura do medo.

Das acções espontâneas à auto-organização

O agravamento das condições de vida após o último golpe fez aumentar o nível de indignação, especialmente entre os jovens. O aumento do preço dos géneros alimentares, o crescente desemprego juvenil e a carência de sistemas sanitários e educativos conduziram a acções espontâneas. Em Fevereiro de 2014, por exemplo, quatro jovens afrontaram as forças de segurança golpistas num protesto relâmpago frente dos escritórios das Nações Unidas em Bissau. Protestavam contra a suspensão das lições nas escolas públicas e contra a carência de água e electricidade. Paralelamente, nos bairros, alguns jovens organizavam grupos para limpar e reparar as estradas.

Mas se as condições sócio-económicas provocavam a indignação das massas juvenis, o  modelo piramidal do associativismo, dirigido por jovens pertencentes à élite do Partido, os limites ideológicos definidos pelo Estado e pelo “buonismo” sugerido pela cooperação internacional (ONU, União Europeia, ONGs internacionais) constituíam um obstáculo à auto-organização. Próximos da miséria quotidiana e da cultura política oligárquica, um grupo de jovens pertencentes a associações de bairro de Bissau e de Catió decidiu constituir grupos de reflexão sobre o associativismo na Guiné Bissau.

“As pessoas pensam que aos políticos tudo é permitido. Considerando a pobreza da cultura política e o medo reinante na sociedade após a independência, as pessoas crêem-se impotentes para enfrentar problemas que elas mesmas poderiam resolver. Pensam que o Estado é tudo. Pouco a pouco tem-se a impressão que estamos começando a discutir isto com a comunidade. A Bandim Bilà, por exemplo, parte dos habitantes do bairro adquiriu maturidade e consciência de classe, querendo agir directamente para melhorar as condições da comunidade: “Não devemos esperar a intervenção dos políticos que nada fizeram”.(Ailton J.)

guiné bissau p1 cinza JPEGEm fins de 2013 a rádio e canais televisivos relatavam na Guiné Bissau as manifestações contra o aumento das tarifas dos transportes em cidades brasileiras. Dali em diante, durante os debates no interior de algumas associações guineenses, passaram a ser comuns perguntas quanto à forma de organização do Movimento Passe Livre (MPL). Por decisão autónoma, cinco associações (quatro da cidade de Bissau e uma de Canchungo) organizaram-se segundo o modelo e princípios dos “movimentos autónomos”.

“Seguíamos através dos media a revolta do povo brasileiro contra o aumento de tarifas. Isto demonstra que o povo brasileiro tem maturidade política e consciência dos seus direitos. Mas porque é que as pessoas não arriscam fazer o mesmo aqui na Guiné Bissau?” (Zelmar R.).

Em Setembro de 2013, terminadas as discussões teóricas, ficou no ar uma última questão: “O que nos impede de criar um movimento social autónomo que reforce as acções espontâneas da população e promova uma nova cultura política no país?” Os debates deram lugar a atividades de mobilização em bairros da capital. A partir de pedidos concretos dos bairros, criar-se-ia um movimento social cujo foco atendesse às principais necessidades do povo.. No princípio de Outubro uma trintena de jovens de diversas associações fundaram o Movimento Luz ku Iagu (Movimento Luz e Água).

“Antes de criar o Movimento fizemos uma série de ‘trabalhos de base’ em comunidade de Bissau para identificar as principais necessidades. As pessoas que intervinham apontavam sempre a constante falta de luz e de água. Em paralelo participámos numa formação organizada pela JACAF (Associação Jovens de Catió) sobre democracia directa e autogestão. No fim da formação, em que participou uma quarentena de jovens pertencentes a várias associações, realizou-se um djumbai (debate) para individualizar as principais dificuldades que afectavam os jovens no interior da sua comunidade. Todos os grupos presentes concordaram quanto à ausência e péssima gestão dos serviços de água e electricidade. Todos sabíamos que a água era um bem inestimável e essencial para a vida humana. Assim decidimos fundar um movimento para que haja electricidade e água.” (Ailton J.)

Desiludidos com as associações burocráticas e estimulados pelas vitórias de Junho de 2013 no Brasil, os membros decidiram dotar o Movimento com uma estrutura de gestão horizontal. Durante o primeiro ano de existência, as principais decisões foram tomadas colectivamente pelos membros reunidos em assembleia geral com base em em propostas elaboradas em comissões temáticas ou em propostas individuais.

guiné obras JPEGDebates sobre autogestão, democracia, acção directa… 

O primeiro princípio do Movimento é a autonomia. Um Movimento é autónomo a partir do momento em que toma decisões por si só. Somos independentes e não temos qualquer dependência dos partidos políticos. Assumimos, como princípios de base, a democracia directa, a igualdade de género e a autogestão. No MLI não existe líder. Construímos um movimento horizontal no qual as decisões são tomadas pela assembleia geral”. (Valdir K.)

“Ninguém actua em nome do Movimento. Para agir em nome do Movimento é necessário ter sido delegado pela assembleia geral. Quando a assembleia geral toma uma decisão, elege-se um grupo de pessoas que implicitamente se oferecem voluntariamente para realizar a actividade.” (Luizinho B.)

“Os membros do Movimento, presentes na assembleia geral interessados em aprofundar determinados temas, criam uma comissão específica. Uma vez criada a comissão, a sua primeira actividade será elaborar uma proposta a submeter à atenção da assembleia geral. Uma vez aprovada pelo plenário, será levado a cabo a sua realização pela comissão. Funciona assim” (Ailton J.).

Os debates sobre autogestão, democracia, acção directa e direito de manifestação tiveram um papel importante na escolha dos princípios de gestão interna no Movimento. A aplicação prática destes princípios sofreu logo no início forte oposição: um dirigente político juvenil acusou o Movimento de querer destruir “os valores da hierarquia” no país. Noutra ocasião, o presidente duma notável Associação exigiu a eleição dum presidente no MLI, chegando a ameaçar, recusar  reunir-se com os delegados no Movimento na ausência dum ‘responsável’ eleito.

“Esta forma de organização é recente na Guiné Bissau. Decidimos criar uma organização horizontal porque a ‘cultura dos representantes’ não está em condições de cativar as massas. Por exemplo, quando andávamos nos bairros a fazer trabalho político, só conseguíamos falar com o presidente ou com o secretário da associação local. As pessoas da comunidade permaneciam fora da conversação. Abandonamos esta estrutura para trabalharmos directamente com as pessoas, abrindo a todos a participação no processo em debate. Diga-se que mesmo as pessoas acham inusitada esta forma de organização. Estavam habituadas ao ‘representante’ e a não funcionar sem um presidente. Mas já estamos operando há um ano sem presidente e sem que isso apresente qualquer dificuldade. Porque um presidente pode decidir coisas que não exprimem a vontade da maioria. Connosco isso nunca acontece: Todos somos convocados para se tomar qualquer decisão”. (Jailton J.)

Na sua fase inicial, o Movimento Luz ku Iagu centrou-se na realização de três tarefas principais: a) divulgação do Manifesto programático do Movimento e a preparação da Campanha Nacional pelo Luz e Água; b) formação política dos membros do Movimento na «Escola de democracia directa» e no trabalho político entre a comunidade de bairro; c) mobilização da comunidade através de acções directas e constituição de núcleos de bairro.

“Actualmente o Movimento está trabalhando numa campanha por luz e água nos bairros de Bissau. Um dos objectivos é dar a conhecer à população o nosso Manifesto. O nosso propósito é que a EAGB (empresa pública de electricidade e água) passe a breve prazo sob controlo social. A termo médio, queremos criar dois conselhos nacionais, um para a gestão democrática dos recursos naturais e outro para a gestão da água e electricidade. Num tempo mais distante o objectivo final é que a EAGB passe a gestão popular tal como o garante a Constituição do país, nos seus artigos 2 e 3. O artigo 2 afirma que o povo pode exercer o poder político directamente ou através dos seus representantes. Enquanto segundo o artigo 3 os cidadãos têm direito a participar na gestão pública. Queremos que estes artigos sejam respeitados”. (Ailton J.). 

“Outra obrigação é a criação de núcleos nos bairros em que estamos trabalhando. Através destes núcleos podemos realizar acções de impacto imediato. Por exemplo, se uma comunidade tem problemas com o lixo, vamos trabalhar juntos para resolver o problema. Simultaneamente é uma maneira de fazer com que as pessoas tomem consciência dos seus próprios direitos.” (Zelmar R).

guiné  prof e crianças comunidade JPEGUma escola libertária em Bissau

Respondendo ao interesse geral em continuar o debate sobre democracia directa, autogestão e história das lutas sociais, o Movimento decidiu abrir uma escola permanente de formação para os seus membros. A escola autogerida por alunos e professores utiliza as instalações dum liceu citadino. Desde Março de 2014 oferece três temas: Ciência Política, Língua inglesa e História da Guiné Bissau, esta última ausente dos programas de estudo nas escolas públicas e privadas.

No início de 2014 os alunos duma escola conjunta e outros estudantes que não pertencem ao MLI fundaram o Colectivo Autónomo Estudantil (CAE), também ele uma organização com gestão de base. Afrontando a oposição da Confederação Nacional de Estudantes (CONEAGUIB), órgão burocratizado e heterodoxo, e sem temor das ameaças repressivas do Estado, em Maio de 2014 a CAE organizou uma assembleia estudantil das escolas públicas que realizou o primeiro protesto estudantil que se recorda desde há muitos anos. Com o resultado de que o Estado e dois sindicatos de docentes foram obrigados a ceder às exigências dos estudantes: retomar imediatamente as aulas e recuperar o ano escolar 2013/2014.

No interior das actividades realizadas, a acções directas empreendidas pelo MLI em conjunto com os habitantes dos bairros foram aquelas que mais estimularam a auto-organização comunitária. Uma clara demonstração de acções directas e autogestionárias  do Movimento é a Escola Comunitária de Bandim Bilà. Trata-se duma antiga escola primária pública situada num bairro central e pobre da cidade, que após ter sido abandonada pelo Estado e entregue ao saque, acabou por se tornar uma imensa lixeira. Foram anos de abandono, as crianças deixaram de frequentar a escola e casos de malária e cólera, incentivados por esta imensa descarga a céu aberto aumentaram, mas nem por isso a câmara de Bissau (a Prefeitura) removeu um único saco de lixo.

“Queremos repor em funções a escola para a autogerir com os habitantes do bairro. Para começar principiamos por libertar as salas de aula da imundície para dar vida à recuperação”.(Valdir K.)

«Afirmamos defender a autogestão por estarmos certos da capacidade dos trabalhadores e dos estudantes para autogerir as suas necessidades.” (Ailton J.)

Foram enviadas cartas às autoridades, assinadas pela comunidade, com o pedido de reactivar a escola e remover o lixo…Ninguém se dignou responder. Nem mesmo o Ministério da Educação se dignou dar sinal de vida. Este desinteresse não foi surpresa, dado que todos os filhos de políticos e da alta burocracia estudam na Europa ou no Brasil. Agora tocava aos residentes mais activos e aos militantes do Movimento organizar uma série de assembleias de bairro para discutir o que fazer. Não havia nada a perder esperando por resposta do Estado, a proposta do MLI foi que a comunidade devia encontrar uma solução independente.

“O Presidente da Câmara de Bissau (Prefeito) fez saber que não havia fundamento para qualquer actividade. Mas para onde vai o dinheiro dos nossos impostos? Entretanto sugerimos à comunidade a realização de acções para pressionar a autoridade.” (Ailton J.)

Na falta duma intervenção pública e receando a população vir a sofrer repressão pelas forças de segurança, cujos métodos bem conhecidos vão da prisão arbitrária ao espancamento, à tortura, não restava aos habitantes activos de Bandim Bilà e aos activistas do Movimento mais do que arregaçar as mangas, armarem-se de pás e baldes para limpar o lixo, pelo menos nas duas salas da antiga escola em melhor estado. O tecto de lâminas de ferro zincado, como o travejamento e as portas de madeira haviam sido removidas há anos, mas as paredes permaneciam de pé, assim como os ladrilhos do pavimento e a estrutura puderam ser reactivadas.

“Se se fala de política a uma comunidade esta retrai-se. Tem medo de partilhar a nossa ideia. É natural. Por isto privilegiamos trazer actividades práticas à comunidade. Isto demonstra ser a prática correcta para conquistar a confiança das pessoas”. (Zelmar R.).

Solidariedade internacional

Após esta primeira acção de limpeza seguiram-se outras, que reuniram sucessivamente novos membros na comunidade. E não acabaram aqui. Desde que entrou nas suas ideias recuperar a escola graças somente às duas próprias forças, os habitantes discutiram animadamente quanto à sua gestão. Não se tratava de construir uma escola primária mais, mas fazer com que se tratasse duma escola de excelência, que não fosse estatal nem privada, mas autogerida pelas crianças, pelas famílias e pelos professores. Trata-se dum desafio imenso, dado que a escola actual, assim como a única escola superior pública para a formação de docentes se baseava no ensino mnemónico e não participativo dos alunos. O que se pretende é implementar na escola de Bamdim Bilà uma didática indutiva, uma educação personalizada sobre os interesses dos alunos, que eduque para a utilização dos instrumentos de trabalho e de investigação em percursos autónomos. Ensinando a procurar respostas e soluções em processos acompanhados mas não impostos. Para isto ocorre uma ajuda concreta. Servem voluntários: professores, pedagogos, educadores experientes que venham acompanhar os docentes locais, privados de conhecimentos suficientes ou de material didáctico. Companheiros e companheiras docentes, docentes reformados ou que durante as suas férias dedicam um ou dois meses de voluntariado para formar jovens docentes guineenses da escola, acompanhando-os no processo de fazer quotidiano.

De momento são duas as Comissões que trabalham para a criação da escola Comunitária de Bandim Bilá. Uma é responsável pela temática didáctica e psico-pedagógica, dos conteúdos e a docência e da formação dos futuros docentes; a outra está encarregada de organizar a reabilitação dos edifícios (tecto, portas, pintura, serviços higiénicos e outros). Ambas são constituídas pelas famílias do bairro e militantes do MLI. Com as novas iniciativas das Comissões aumenta o número dos residentes que nelas participam. O objectivo é que a escola primária de Bandim Bilà se converta num centro comunitário no qual a população dê início à luta pela água e luz juntamente com outros bairros vizinhos.

“Agora estamos procurando fundos para reconstruir a escola. A escola será comunitária. A comunidade será a proprietária e orientadora da escola, não o Estado.” (Luizinho K.)

“Queremos que a escola seja comunitária para assegurar aos nossos filhos um nível de educação diversificado e excelente. Uma escola que não ensine a obedecer mas a pensar livremente. Para tal temos necessidade urgente da colaboração nacional e internacional que nos acompanhe na formação dos docentes”. (Zelmar R.)

Se agora, a escassa participação inicial deixou de ser fonte de preocupações, a falta de recursos económicos, de pessoal formado e de materiais didáticos são os pontos críticos a superar. É urgente encontrar fundos para continuar a restauração e a aquisição de materiais escolares de primeiríssima necessidade (canetas, lápis cadernos) dado que a  maioria dos materiais didácticos se não encontra na Guiné Bissau.

Para a aquisição de materiais de construção para restauro essencial, dado que a mão-de-obra será fornecida por voluntários da comunidade e do Movimento, necessitam-se 1.300.000 francos CFE (cerca de dois mil euros). Quem quiser contribuir de qualquer modo com a iniciativa da escola comunitária de Bandim Bilà, pode contactar através do endereço e-mail:cordajanis@gmail.com. Para mais informações aceder à página facebook do MLI: Movimentu Lus ku Iagu Guiné-Bissau

 

Je suis Nigéria

unnamed (2)

“Eu também não sou Charlie, apesar de ser contra o atentado e qualquer ação terrorista de qualquer ideologia. Na mesma semana do ocorrido na França, que acompanhei pela tv e internet, umas 2000 pessoas foram mortas pelo BOKO HARAM sem nenhum motivo, sem fazerem piadas ou provocações à religião dos terroristas. Temos aqui uma arte no anexo, JPG, Je suis Nigéria, para ver se os jornais dão um pouco de atenção a essa barbaridade no país africano. É uma arte anónima.”J. N. (por email) para o Portal Anarquista, ex-Colectivo Libertário de Évora. Link na imagem.

Nigéria: Massacre no início do ano é possivelmente o mais mortal da história do Boko Haram

Postado em Consciência.net, p 9 de janeiro de 2015.

“Um massacre de proporções inimagináveis acaba de ocorrer no nordeste da Nigéria. Segundo as primeiras informações das agências de notícias, relatos de moradores que conseguiram escapar do massacre a 16 povoados ocorridos desde 3 de janeiro dão conta de que “há corpos demais para poder contar o número de mortos”.

De autoria dos extremistas do Boko Haram, a Anistia Internacional afirmou que os ataques, realizados principalmente em Baga (estado de Borno) e cidades vizinhas, podem ter sido os “mais mortais do Boko Haram em um catálogo de ataques cada vez mais hediondos realizadas pelo grupo”.

Os primeiros relatos apontam que a cidade foi em grande parte arrasada, com até dois mil civis mortos. “Isto marcaria, se confirmado, uma escalada preocupante e sangrenta de ataque contínuo da Boko Haram contra a população civil”, disse Daniel Eyre, pesquisador nigeriano da Anistia Internacional.

“No momento, estamos trabalhando para descobrir mais detalhes sobre o que aconteceu durante o ataque a Baga e à área próxima. Este ataque reitera a necessidade urgente de o Boko Haram parar a matança sem sentido dos civis, bem como a necessidade de o governo nigeriano tomar medidas para proteger a população que vive em constante medo de ataques deste tipo”, disse Eyre.

Desde 2009, o Boko Haram tem alvejado deliberadamente civis através de invasões e ataques a bomba, com o problema aumentando ao longo dos anos tanto em termos de frequência quanto gravidade.

Um dos principais ataques do grupo, que diz agir em nome do alcorão, aconteceu no dia 15 de abril de 2014 em Chibok, no mesmo estado de Borno, onde a população foi morta ou fugiu e mais de 200 estudantes entre 7 e 15 anos foram capturadas e levadas pela milícia.”

Equipes de resgate e moradores se reúnem no local de duas explosões em um mercado na cidade central de Jos, capital do estado de Plateau, em maio de 2014. Foto: AFP/Getty Images

Equipes de resgate e moradores se reúnem no local de duas explosões em um mercado na cidade central de Jos, capital do estado de Plateau, em maio de 2014. Foto: AFP/Getty Images

 

 

 

Socialismo, Igualdade de Gênero e Ecologia Social nas Montanhas do Curdistão

FONTE: “PORTAL ANARQUISTA – EX-COLECTIVO LIBERTÁRIO DE ÉVORA
7/01/15

318img6

KCK (Koma Civakên Kurdistán, União de Comunidades do Curdistão) é o nome dado a esta organização social. O nome – e a preparação do seu quadro teórico – foi proposto pelo líder do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), Abdullah Öcalan, na sua cela da prisão da ilha Imrali, na Turquia; apesar disto, tanto Öcalan como o PKK reconhecem, sem qualquer dúvida, os indispensáveis e inestimáveis contributos proporcionados por Murray Bookchin.

Giran Ozcan

A KCK é uma organização “guarda-chuva”, democrática, confederal, livre de Estado, da hierarquia e da exploração, do Curdistão Livre.

No interior da organização social KCK existente nas montanhas do Curdistão o conceito de dinheiro é supérfluo. As necessidades econômicas dos habitantes são satisfeitas internamente através da gestão partilhada dos recursos. Não obstante, o dinheiro é utilizado nas relações comerciais com o exterior; internamente o dinheiro é impensável. Ninguém, nem nenhuma comunidade no interior da KCK tem necessidade de gerar reservas de dinheiro ou de recursos. As reservas são distribuídas constantemente e, deste modo, utilizadas. Relativamente às sociedades pré-hierárquicas e pré-exploração a organização KCK acrescenta a cultura do dar mais do que a do trocar.

A gestão partilhada da agricultura assegura uma produção e um autoconsumo auto-suficiente dos recursos humanos, tornando irrelevantes as reservas, o valor de troca e a mercantilização dos bens.

A tentativa de emancipação feminina por parte dos membros do PKK e dos seus dirigentes começou com a “destruição da virilidade”. Um ataque aos conceitos de falsa virilidade inoculada nos sujeitos masculinos por parte do sistema patriarcal. Esta falsa virilidade funcionava de forma a que, enquanto cada homem era oprimido e explorado pelo sistema capitalista em cada célula do seu corpo, não se coibia de explorar a sua própria mãe, irmã, filha ou esposa.

Esta estratégia deriva das interrogações teóricas de Abdullah Öcalan, que chegou a dizer que “as mulheres são as primeiras colônias” e que a primeira exploração não foi produzida sobre a classe trabalhadora, mas sim sobre a mulher. Este é o motivo pelo qual a igualdade de gênero nas montanhas do Curdistão foi obtida através de esforços paralelos de reforço dos poderes da mulher e de purificação dos homens das doenças do patriarcado e da organização hierárquica da sociedade.

As consequências práticas deste facto são: a representação equitativa das mulheres em todas as instâncias administrativas através de um sistema copresidencial e a organização ideológica, política, social e militar das mulheres numa organização autônoma: a KBJ (A União Suprema de Mulheres).

No interior do Curdistão livre, as comunidades estão organizadas de modo a não serem consideradas uma ameaça para o meio-ambiente. Sempre que possível são favorecidas as fontes de emergia renováveis; por suas vez, os recursos energéticos como a a água e o gás são consumidos de modo conjugado a fim de tornarem sustentáveis tanto a sociedade como o meio-ambiente.

O vegetarianismo foi promovido e a caça foi completamente proscrita, assim como a desflorestação (só é permitido queimar ramos e árvores secos). Tudo isto baseia-se na premissa de que o meio-ambiente não é uma fonte de negócio, mas sim de vida; a utilização do meio-ambiente como origem de lucros sucumbe face ao seu reconhecimento como fonte de vida.

Os acontecimentos em Rojava (norte da Síria) mostram que a filosofia do líder do PKK, Abdullah Öcalan, em vez de tornar mais moderadas as reivindicações, põe a fasquia cada vez mais alta. Este é o motivo pelo qual em Rojava não se está a combater apenas para proteger a actual organização social dos grupos extremistas, mas também para se protegerem dos ataques do sistema do capitalismo global como o KDP (Partido Democrático do Curdistão), do governo turco, do regime de Assad e do ensurdecedor silêncio do Ocidente!

O movimento de libertação do Curdistão, dirigido pelo PKK, já não está a exigir um Estado nacional curdo, que apenas iria reproduzir a exploração, as estruturas hierárquicas e a desigualdade de gênero; está a fazer um chamamento para um sistema alternativo de organização social no qual a questão curda seja resolvida em paralelo com as questões da exploração, da emancipação de gênero e da libertação de todos os seres humanos. Neste sentido, a sua proposta é a KCK, a União de Comunidades do Curdistão.

https://www.nodo50.org/tierraylibertad/318articulo6.html

As Mulheres Yazidis Enfrentam Uma Terrível Violência Sexual

 EM NEWROZ EUSKAL KURDU ELKARTEA
26 DICIEMBRE, 2014

isis-are-selling-women-sex-slaves-according-un-report-this-photo-purportedly-taken-isil-run

 

O último informe da Anistia Internacional sobre a situação das mulheres yazidis sequestradas pelo Estado Islâmico mostra as práticas de tortura, violação e outras formas de violência sexual que essas mulheres e meninas sofrem.

As mulheres que conseguiram escapar deste inferno relataram uma horrível visão da vida que enfrentaram, casadas à força, “vendidas” em mercados de escravas sexuais ou entregues aos combatentes do EI ou a seus partidários. Também são vítimas de conversão forçada ao Islam, sob ameaça de morte.

A maioria das cativas são meninas entre 14 a 15 anos, frequentemente incluindo ainda mais jovens. Os militantes do EI utilizam a violação como arma em seus ataques, ditas ações são consideradas crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Essas mulheres e meninas estão entre as milhares de Yazides da região de Shingal a noroeste do Iraque que foram vítimas de uma operação de limpeza étnica e religiosa que se iniciou em agosto.

É tal o horror e o trauma que essas mulheres e crianças sofrem que frequentemente colocam fim em suas vidas. Jilan, uma jovem de 19 anos suicidou durante seu cativeiro em Mosul, conforme declarou seu irmão à Anistía Internacional.

Segundo os testemunhos das mulheres que conseguiram escapar, a maioria dos homens que as compram e vendem são iraquianos ou sírios, muitos dos combatentes do EI e outros simpatizantes do grupo. Muitas sobreviventes yazidis estão duplamente afetadas, já que também perderam dezenas de familiares que permanecem em cativeiro ou são assassinados pelo EI.

Randa, uma jovem de 16 anos de uma aldeia vizinha ao Monte Shingal, foi sequestrada junto com dezenas de membros de sua família, incluindo a sua mãe que se encontrava grávida de três meses. Randa foi presenteada a um homem com o dobro de sua idade e que a violentava. Ela descreve o impacto de sua terrível experiência declarando que é muito doloroso o que fizeram a ela e sua família, o Estado Islâmico tem arruinado suas vidas.

O trauma das sobreviventes da violência sexual se agrava ainda mais pelo estigma que rodeia a violação. As sobreviventes sentem que sua “honra”, e de suas famílias, foram violadas e temem, como resultado disso, que sua posição na sociedade seja diminuída para sempre. Muitas vítimas sobreviventes da violência sexual, todavia, não têm recebido nem apoio nem ajuda psicológica que necessitam.

Donatella Rovera, assessora responsável pela Crise para o Oriente Médio da Anistia Internacional, realiza uma chamada urgente ao Governo Regional do Curdistão, a ONU e outras organizações humanitárias, para que intensifiquem seus esforços ao prover apoio médico e psicológico especializado em traumas às mulheres e crianças vítimas da violência sexual.

Tradução livre do Coletivo Anarquia ou Barbárie.

Anarquismo africano

anarquismo-africano-1[Foi criado um site africano, em inglês, destinado a ser um centro de recursos para os anarquistas, antiautoritários e outros socialistas revolucionários na África, e para todos aqueles que estão interessados na libertação do continente frequentemente explorado. Abaixo reproduzimos o texto de apresentação do projeto, chamado “African Anarchism”.]

A África atravessou séculos de sofrimento e privação, em um mundo que tem tudo. O capitalismo certamente não conseguiu proporcionar um nível de vida mínimo para os africanos e africanas. Os capitalistas autoritários que se chamavam “socialistas de estado” tampouco conseguiram dar respostas aos problemas do continente.

Neste contexto, o anarquismo não é uma solução simples, é a única solução possível que pode permitir que os povos africanos possam dar respostas às suas esperanças de uma vida sem miséria nem exploração. Nos últimos anos, grupos e indivíduos anarquistas surgiram em todo o continente. Embora se trate dos primeiros passos, é um começo, e à medida que o anarquismo cresça deveria mostrar-se como uma força poderosa na África.

Os africanos e africanas não têm nada a perder e depois de ter quebrado as suas correntes, o capitalismo global estremecerá ante suas poderosas forças revolucionárias.

Infelizmente, é muito difícil para as trabalhadoras e os trabalhadores africanos se comunicar com o resto do mundo, uma vez que o acesso à tecnologia na África ainda é muito limitado, e, portanto, muito frequentemente a informação contida nestas páginas oferecem mais perguntas do que respostas.

Estamos à procura de mais informações sobre o anarquismo na África, de modo que você pode completar com novos subsídios e ampliar os materiais que temos postados aqui no site; notícias sobre os movimentos, análise libertárias e outros temas interessantes. Portanto, se você puder nos ajudar, por favor, entre em contato com o nosso site: struggle.ws/africa/.

agência de notícias anarquistas-ana

a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão

Paulo Leminski

México: El Rebozo, uma cooperativa autogestionada

Fonte: : Agência de Notícias Anarquistas, em 12 de dezembro de 2014.

mexico-el-rebozo-uma-cooperativa-1

 

A p r e s e n t a ç ã o:

El Rebozo, somos uma cooperativa autogestionada que caminha com xs que creem e fazem outra política/outra cultura em seu andar.

Associar-se em liberdade. Criar novas relações de convivência e resistência.

Somos COOPERATIVA para refletir a natureza de nossas relações, baseadas no consenso e o fazer coletivo entre nós e apoio mútuo com companheirxs de outros espaços organizados.

Carregando o futuro, caminhando o presente.

El Rebozo, porque é uma ferramenta artesanal e cotidiana que tem muitos usos. Tecido que se pendura em nossas costas, nos protege do frio e da chuva, com ele se carregam sonhos, tradições e a própria vida. El rebozo, se usa para curar feridas e até de mortalha para enterrar a nossos mortos.

Autogestionar as lutas. Organizar e fixar-nos em comunidade.

Rechaçamos o trabalho assalariado e as relações de dependência e alienação que este constrói. Por isto decidimos recuperar a capacidade de sustentar nossas vidas e nossas lutas, reapropriando-nos da possibilidade de dirigi-las até onde decidirmos. Da mesma maneira nos enredamos com outros projetos autônomos tecendo relações de intercâmbio e reciprocidade que ampliam nossa resistência.

Vemos a autogestão como um passo necessário para a construção de autonomia.

Aprender coletivamente. Compartilhar saberes, multiplicar e amplificá-los.

Rechaçamos a escola como único espaço obrigatório para preparar-se para a vida. A desescolarização para nós implica romper com a forma mental, de fazer individual e de relacionar-nos que aprendemos nas instituições educativas capitalistas. Des-aprender e re-aprender, se é possível ludicamente, o que nos é verdadeiramente útil para viver e converter-nos em uma pequena comunidade de aprendizagem móvel e aberta, onde compartimos novas maneiras de criar e fazer as coisas juntxs de maneira convivial.

Irromper desde a inquietude. Rebelar-se/Revelar-se. Criar novas relações de convivência e resistência. Desafiar, subverter, transformar, desprender, iniciar.

Somos aderentes à Sexta Declaração da Selva Lacandona do EZLN: pensamos que nenhuma mostra de dignidade pode vir de cima, de onde os poderosos só distribuem desprezo, despojo, exploração e repressão. Por isso nos somamos aos esforços ativos na reconstrução da sociedade desde baixo através da organização e da prática de novas relações sociais. Não queremos relações baseadas sobre a imposição do poder, do saque, da exploração, da violência e o individualismo, quer dizer, não queremos relações patriarcais.

Buscamos construir em nossa prática cotidiana relações baseadas sobre o respeito, a comunidade, o companheirismo e a autonomia. Em particular nos focamos em recuperar coletivamente a capacidade autônoma de analisar o mundo que vivemos e difundir ferramentas para esta análise. Por isso consideramos que El Rebozo é também um espaço político, tão só uma ferramenta mais para desmantelar o Estado e destruir o patriarcado e seus múltiplos sistemas (capitalista-neoliberal-financeiro).

Despertar imaginários, recuperar práticas, intercambiar experiências, soltar a palavra.

Nosso trabalho está focado na produção textual e gráfica e em sua difusão. Todo o material que produzimos e intercambiamos busca amplificar e nutrir as culturas em resistência e em construção de outro mundo, despertando imaginários para a recuperação de práticas ancestrais assim como para a criação de novas experiências organizativas. Cremos que o exercício de análise e reflexão é fundamental na hora de empreender caminhos alternativos ao que propõe o sistema, por isso tratamos de facilitar o aceso aos materiais que podem nos ajudar em nossas buscas, intercambiando com companheirxs de diferentes latitudes, no esforço de globalizar as lutas e as esperanças.

Vales Centrais de Oaxaca, México

Cooperativa El Rebozo

elrebozo.wordpress.com

Tradução: Sol de Abril