Publicado no Portal EcoDebate, 04/02/2015
[EcoDebate] O ano de 2014 foi o mais quente do planeta desde o início das medições oficiais em 1880, de acordo com análises da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), da Nasa. Em 2014, a temperatura média ficou 0,69°C acima da média do século XX, superando as marcas prévias de 2005 e 2010.
Dos 15 anos mais quentes, 14 ocorreram a partir da virada do milênio. O ano de 1998 foi o mais quente do século XX e ainda está entre os dez anos mais quentes já registrados. Entre 1998 e 2010 a variação da temperatura foi de somente 0,02º C. Isto possibilitou que vários céticos falassem em “hiato” e desaceleração do aquecimento. Mas os dados de 2014 mostram que a variação foi de 0,04º C. entre 2010 e 2014, ou seja, o aquecimento está se acelerando.
As regiões do mundo que apresentaram recordes de calor foram a Rússia, o oeste do Alasca, o oeste dos Estados Unidos (EUA), algumas zonas da América do Sul, parte do litoral australiano, norte da África e quase toda a Europa. O leste dos EUA foi a única região a apresentar esfriamento, em função dos ventos do Ártico (polar vortex).
O aquecimento provoca o desgelo dos polos e a elevação do nível dos oceanos. A média mundial de gelo no Ártico foi de 28,46 milhões de km², a menor área em 36 anos. Ainda segundo a NOAA, na Antártica o gelo marinho caiu ao nível mais baixo já registrados: 33,87 milhões de km². Vários países ilhas (como Tuvalu) estão ameaçados de desaparecimento e várias grandes cidades do mundo estão ameaçadas de inundações.
Considerando os anos extremos, em relação à média do século XX, a temperatura do ano de 1911 foi de -0,44º C, ou seja, quase meio grau Celsius abaixo da média, enquanto o ano de 2014 ficou 0,69º C. acima da média. Entre os extremos a variação foi de 1,13º C. Tendo como referência o final do século XIX, quando foi iniciada a medição, a temperatura média da Terra está 0,8°C mais quente, aquecimento provocado fundamentalmente pelo aumento das emissões de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa na atmosfera do planeta, gerados, na sua maior parte, pela queima de combustíveis fósseis, desmatamento e ampliação da agricultura e pecuária.
Nos últimos 50 anos o aquecimento global aumentou 0,15º C. por década. Se esta média continuar nos próximos 100 anos, o mundo vai ultrapassar os 2º C. previstos nos acordos internacionais. A probabilidade de isto acontecer é grande, pois o efeito estufa tem se acelerado devido ao aumento da emissão dos gases de efeito estufa (GEE).
Para agravar a situação, o aquecimento global provoca mudanças climáticas e aumento dos eventos extremos como fortes chuvas em algumas regiões e fortes secas em outras. A região Sudeste do Brasil está passando por sua maior crise hídrica da história. O desmatamento da Amazônia contribui para o aumento da temperatura global e os dois fenômenos contribuem para a falta de água nas maiores cidades do Brasil. Talvez o caos da falta d’água em 2015 abra os olhos da população e dos dirigentes brasileiros para os constantes danos causados à natureza.
A crise hídrica e o aquecimento são problemas globais. Se nada for feito para mudar o sistema que provoca a degradação ambiental os custos humanos e o sofrimento das demais espécies será enorme, colocando em risco a sobrevivência da civilização urbano-industrial tal como a conhecemos até hoje.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br