“Morte AOS RADICAIS!” A ARTE DA CRIMINALIZAÇÃO

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Por El Fauno

(De “Hermenêutica das Prisões”, 2015)

Fonte: Bloque Libertário

Apontamentos Micro-Históricos: A Teoria do Nexo Político e a Violência “Patológica” do Anarquista

Se é bom de antemão apontar primeiramente que nem todo anarquista veste capuz em protestos, e nem todo encapuzado se harmoniza com a ideologia anarquista, para esclarecermos que a raiva de uma manifestação não pode caracterizar a um grupo social específico. Às vezes a rebeldia e o “já me cansei” são indícios de atuar até as últimas consequências contra a podridão do México atual.

Os anarquistas não exercem sua ideologia política através de partidos de qualquer índole. Nem o Partido Liberal Mexicano fundado em 1906 pelos irmãos Flores Magón foi uma amostra da busca da democracia representativa e sim, da organização autônoma ao Estado para criar alternativas em razão de uma Revolução violenta que seria a única via para exercer a Liberdade humana e econômica. Os anarquistas buscam não buscam a representatividade de massas, mas destruir estas representatividades para evocar o indivíduo que representa a si mesmo.

schwarze block (black block), aparece a partir da década de 1970 na Alemanha Ocidental, pois a onda repressiva intensa contra grupos pacifistas, células estudantis e Okupas provocou a autodefesa como forma de reinvindicação rebelde. Em 1999 o termo se popularizou diante dos protestos em Seattle contra a Organização Mundial do Comércio (OMC) que deu início ao movimento antiglobalização do novo século. Em 2001, se realizaram protestos de oposição semelhantes na Cúpula das Américas em Quebec, aonde tempos depois a polícia da cidade afirmaria que “seus agentes se infiltraram como manifestantes”. No México aparecem na Cúpula de Cancún (OMC) 2003em Guadalajara em 2004, durante la resistência da APPO – Oaxaca em 2006 – em 2011 durante vários atentados contra bancos empresariais e o fenômeno pelo qual quiseram se aprofundar para explicar o temor aos encapuzados: o #1DMX.

Até este dia, explodiria na maioria da população um repúdio/mal-entendido diante do protesto do encapuzado, sob o nome de anarquismo; com o quebrador de vidraças, o lançador de coquetéis molotov, a identidade visual preta. Daí que certos setores estudantis e anarquistas nos colocamos diante da tarefa de acercar tanto na História do anarquismo do século XIX, como com as práticas cotidianas que se veem em grande parte do mundo como uma ideologia obsoleta, mas como um caminho para a libertação da sociedade de consumo.

Consideremos; o período de bonança para os “radicais” foi dado a partir da situação contra a imposição de Enrique Peña Nieto, isto como resultado do período 2006-2011 entre as revoltas de Oaxaca e o Primeiro Congresso Anarquista celebrado no Auditório Che Guevara, ambos os fenômenos difundindo o anarquismo principalmente dentro das Universidades. Entre 2012 e 2014 se deu as criminalizações mais fortes contra os encapuzados, catalogando-os como grupos de choque pagos, de organizações da esquerda “radical” ou de maníacos antissociais. Estas acusações não são em nada novidade, acontecem desde o czarismo ultra-conservador de 1878 no qual começou a popularização da propaganda pelo fato com organizações como a Zemlya i Voyla (Terra e Vontade) fundada en 1862; alguns de seus integrantes como Alexander Milhailov ou Sofía Perovskaya foram fortemente difamados em todos os periódicos do mundo, já que a imprensa foi meio de manipulação ideológica, a partir de 1864 contra as sociedades secretas da AIT, e em maior medida contra os setores anarquistas. A mesma sorte tiveram Johann Most, Emma Goldman, Sacco e Vanzetti, e um sem fim de pensadores anarquistas que foram relacionados mais fortemente com grupos afins de indivíduos radicalizados, ainda quando eles exerciam o pensamento individual, tinham função de “profetas” e poucas vezes se dedicaram a exercer manifestações públicas. O “nós estamos cheios desta merda!” tornou-se um slogan que diz respeito globalmente a diferentes tipos de ações políticas, desde pôr em perigo a vida de um explorador, a destruir os produtos do sistema capitalista. Como mencionamos em Todo tipo de protesto é legítimo, os ataques à propriedade privada não são comparáveis como um crime em relação à função histórica de privar o excedente de produção coletiva durante séculos.

Durante o movimento #YoSoy132, muitas assembleias estudantis questionaram os princípios deste (da mesma burguesia do ITAM e a IBERO), em especial o da não-violência e de protestos dentro do quadro legal. Vários grupos com influência da corrente anarquista e anarco-punk da CGH na UNAM, da ENAH, da UAM e outros lugares, se encarregaram de formar estes núcleos de protesto, acrescentando a estes, estudantes formados e trabalhadores que seguiam o trabalho de informação de organismos como a FAM e a FAT. Veja!, isto não é dizer que seus membros foram partícipes somente atividades ligadas ao anarquismo, mas a sua atividade atraiu os jovens a autores como Bakunin, Malatesta e Alfredo M. Bonanno que inspiram protestos na Grécia em 2008 e dos sindicatos estudantis chilenos desde 2011. Os “radicais” se deram conta de que a rebelião era internacional.

Ante o triunfo do EPN nas eleições presidenciais, a opinião pública se baseou mais na noção da grande imprensa dos anarquistas como “vândalos”, “pseudo-estudantes” e “bêbados”, resultando em substantivos quase-linchamentos para o contigente encapuzado. A estratégia entre a opinião pública tinha se levantado como uma horda de manifestantes pagos pelo Estado, com a finalidade de gerar caos e romper os marcos legais dos protestos. O 2 de Outubro de 2012, o Bloque Negro teria uma breve aparição na dita conjuntura, um grupo de 15 encapuzados evitaria a passagem de uma caminhonete de soldados em frente à Catedral no Centro Histórico. A imprensa gravou depoimentos e se encarregaram de tomar testemunhos de pessoas que não se incomodaram com os atos de violência; durante sua transmissão na televisão aberta, foi curioso escutar da voz de Javier à Torre, Francisco Zea e Joaquín López Dóriga dizer a palavra “infiltrado”, tudo começaria a tomar um novo rumo. Desde as primeiras mega-marchas com a slogan de “No + PRI”, as massas começaram a chama-las de “perredistas” ou “AMLOvers” aos estudantes que saíam às ruas, porque foi no ano de 2012 a segunda ocasião na qual Andrés Manuel López Obrador se candidatou à presidência. Também, relacionaram os manifestantes com o ex-deputado Gerardo Fernández Noroña; é compreensível, os protestos violentos foram vinculados com os atos de desobediência civil que haviam realizado estes dois políticos passivos.

Outro fator que foi de grande importância para a criminalização foi o dos círculos anarquistas dentro da UNAM, em especial no movimento dos CCH’s contra a Reforma dos “12 Pontos” e outras medidas de austeridade, tudo isto em Fevereiro de 2013. A expulsão de 5 estudantes da CCH Naucalpan e a negação das autoridades a dialogar sobre os danos da reforma educativa ao setor estudantil, fez com que diversas células convocassem a tomada da Torre da Reitoria na Cidade Universitária no mês de abril do mesmo ano, e nessa ocasião, a grande imprensa nunca entrevistou aos estudantes anarquistas, e se dedicaram a gerar notas de ódio por alunos de outras faculdades (sobretudo Direito) e de pessoas alheias à UNAM, nas quais o motivo buscado era difamar e criminalizar, nunca informar sobre a reforma dos CCH’s e o assunto das expulsões arbitrárias.

Em abril de 2014, Carlos Loret de Mola escreveria: “para as áreas de inteligência do governo do Distrito Federal os grupos anarquistas que operam frequentemente nos protestos se articulam politicamente através de uma poderosa mulher: a deputada federal Aleida Alavez Ruiz, braço direito de René Bejarano (…), segundo suas informações, a deputada injeta de 7 a 10 milpesos diários não-rastreáveis que servem para a compra do material explosivo dos anarquistas e paga 200 pesos por cabeça para eles (…), também ligados com líderes como o ex-deputado Gerardo Fernández Noroña e o Movimento de Regeneração Nacional”[1]Vão idiotas!, a violência sempre ira gerar confusão entre as massas, e o recurso mais fácil para os pseudo-jornalistas de Estado será vinculá-los como um fetiche dos partidos “de esquerda”, que são uma suposta “frente alternativa” face às políticas priistas.

De mão deste artigo, constantemente se publicaram no La Razón, La Jornada e Milenio “investigações” do CISEN sobre as formas de operar dos grupos anarquistas que fizeram parte dos enfrentamentos do 13 de Setembro, 2 de Outubro, 10 de Junho e 1 de Dezembro de 2013, assim como essas datas comemorativas e o 20 de Novembro de 2014, afirmando um perfil de anarquista semelhante ao do terrorista, acrescentando que “os violentos são pessoas desonestas e mentirosas e (sic) em geral utilizam umos pessoais ou prazer[2].

La tarefa do anarquista em plena manipulacão da massa cinzenta, é formar grupos de afinidade, encarregados inicialmente de difundir a teoria de sua disciplina, a solidariedade alheia ao oportunismo, estratégias de não-consumo e ações políticas das minorias para a classe trabalhadora.

 ¡Muorte às criminalizações!


[1] “Quem é a “Lady Anarco?”, no El Universal, 09 de Abril de 2014.

A partir deste artigo, acusando ativistas que respeitamos e, em medida elemental, criminalizando o movimento anarquista, se realizaram vários comunicados por parte de Acción Directa – Prensa Libre, Cuartel Anarquista, MTS e diversas organizações com o fim de mostrar a participação dos “jornalistas” da Televisa e seu periódico, sempre orientada a caracterizar e espalhar confusão sobre os lutadores sociais.

[2] “Perfil de ‘anarquistas’ é semelhante ao de terroristas” no La Razón, 24 de Novembro de 2014, por Carlos Jímenez e Susana Guzmán.

Causou estragos nas redes sociais, tanto, que diversas células convocaram a um protesto simbólico nas instalações do edifício do La Razón. Foi cancelada esta ação.

 

México: El Rebozo, uma cooperativa autogestionada

Fonte: : Agência de Notícias Anarquistas, em 12 de dezembro de 2014.

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A p r e s e n t a ç ã o:

El Rebozo, somos uma cooperativa autogestionada que caminha com xs que creem e fazem outra política/outra cultura em seu andar.

Associar-se em liberdade. Criar novas relações de convivência e resistência.

Somos COOPERATIVA para refletir a natureza de nossas relações, baseadas no consenso e o fazer coletivo entre nós e apoio mútuo com companheirxs de outros espaços organizados.

Carregando o futuro, caminhando o presente.

El Rebozo, porque é uma ferramenta artesanal e cotidiana que tem muitos usos. Tecido que se pendura em nossas costas, nos protege do frio e da chuva, com ele se carregam sonhos, tradições e a própria vida. El rebozo, se usa para curar feridas e até de mortalha para enterrar a nossos mortos.

Autogestionar as lutas. Organizar e fixar-nos em comunidade.

Rechaçamos o trabalho assalariado e as relações de dependência e alienação que este constrói. Por isto decidimos recuperar a capacidade de sustentar nossas vidas e nossas lutas, reapropriando-nos da possibilidade de dirigi-las até onde decidirmos. Da mesma maneira nos enredamos com outros projetos autônomos tecendo relações de intercâmbio e reciprocidade que ampliam nossa resistência.

Vemos a autogestão como um passo necessário para a construção de autonomia.

Aprender coletivamente. Compartilhar saberes, multiplicar e amplificá-los.

Rechaçamos a escola como único espaço obrigatório para preparar-se para a vida. A desescolarização para nós implica romper com a forma mental, de fazer individual e de relacionar-nos que aprendemos nas instituições educativas capitalistas. Des-aprender e re-aprender, se é possível ludicamente, o que nos é verdadeiramente útil para viver e converter-nos em uma pequena comunidade de aprendizagem móvel e aberta, onde compartimos novas maneiras de criar e fazer as coisas juntxs de maneira convivial.

Irromper desde a inquietude. Rebelar-se/Revelar-se. Criar novas relações de convivência e resistência. Desafiar, subverter, transformar, desprender, iniciar.

Somos aderentes à Sexta Declaração da Selva Lacandona do EZLN: pensamos que nenhuma mostra de dignidade pode vir de cima, de onde os poderosos só distribuem desprezo, despojo, exploração e repressão. Por isso nos somamos aos esforços ativos na reconstrução da sociedade desde baixo através da organização e da prática de novas relações sociais. Não queremos relações baseadas sobre a imposição do poder, do saque, da exploração, da violência e o individualismo, quer dizer, não queremos relações patriarcais.

Buscamos construir em nossa prática cotidiana relações baseadas sobre o respeito, a comunidade, o companheirismo e a autonomia. Em particular nos focamos em recuperar coletivamente a capacidade autônoma de analisar o mundo que vivemos e difundir ferramentas para esta análise. Por isso consideramos que El Rebozo é também um espaço político, tão só uma ferramenta mais para desmantelar o Estado e destruir o patriarcado e seus múltiplos sistemas (capitalista-neoliberal-financeiro).

Despertar imaginários, recuperar práticas, intercambiar experiências, soltar a palavra.

Nosso trabalho está focado na produção textual e gráfica e em sua difusão. Todo o material que produzimos e intercambiamos busca amplificar e nutrir as culturas em resistência e em construção de outro mundo, despertando imaginários para a recuperação de práticas ancestrais assim como para a criação de novas experiências organizativas. Cremos que o exercício de análise e reflexão é fundamental na hora de empreender caminhos alternativos ao que propõe o sistema, por isso tratamos de facilitar o aceso aos materiais que podem nos ajudar em nossas buscas, intercambiando com companheirxs de diferentes latitudes, no esforço de globalizar as lutas e as esperanças.

Vales Centrais de Oaxaca, México

Cooperativa El Rebozo

elrebozo.wordpress.com

Tradução: Sol de Abril