Belas palavras escritas há alguns meses por algumas das anarquistas sequestradas pela Operação Pandora

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Fonte: Contrainformate

Solidaridade e luta

Para quem luta, a solidariedade não é um conceito vazio e distante de nossa capacidade ofensiva e dos conflitos desenvolvidos na própria luta.

Para quem luta, a solidariedade não é um “assunto” que emerge unicamente em “momentos” repressivos concretos, porque a repressão não é um “momento” senão parte inevitável e permanente dos mecanismos do Estado contra quem se rebela.

Para quem luta, a solidariedade entre quem se levanta contra a miséria diária é uma constante que permite criar a manter laços combativos que rompam o cerco do chicoteamento, do isolamento, da prisão e/ou imobilismo.

Para quem luta, a solidariedade transcende fronteiras impostas tentando transcendê-las e destruí-las através da agitação e da ação.

Para quem luta, o sentido da solidariedade busca esgotar a solidão do confinamento, livrar uma batalha contra o esquecimento de nossxs companheirxs sequestradxs pelos Estados, evidenciar a lógica do domínio que busca condená-lxs ao abandono.

Para quem luta, a solidariedade busca se traduzir em verdadeira intenção que gera gestos de rebeldia que desatem axs nossxs.

Para quem luta, nemhum deve se ver só, seja na prisão ou no cárcere a seu aberto na qual vivemos.

Para quem luta, tudo está para ser decidido, tudo está para ser feito.

Tenhamos a iniciativa.

Por todxs xs companheirxs que com garra continuam apostando na ruptura de todas as correntes.

A continuidade da luta se dá por cada um, se dá por todxs, até que não reste nenhum muro em pé.

VIVA A ANARQUIA

Para escrever axs companheirxs:

Beatriz Isabel Velazquez Davila Lisa Sandra Dorfer P. Madrid VII – Estremera Ctra. M-241 km 5,7 28595 Estremera

Madrid España

Alba Gracia Martínez Noemí Cuadrado Carvajal Anna Hernandez del Blanco P. Madrid V – Soto del Real Carretera M-609, Km 3,5 28791 Soto del Real Madrid España

Enrique Balaguer Pérez P. Madrid VI – Aranjuez Ctra. Nacional 400, Km. 28 28300 Aranjuez Madrid España

David Juan Fernández P. Madrid III – Valdemoro Ctra. Pinto-San Martín de la Vega, km. 4,5 28340 Valdemoro Madrid España

Mónica Andrea Caballero Sepúlveda Ávila-Prisión Provincial Ctra. de Vicolozano s/n Apdo. 206 05194 Brieva (Ávila) España

Francisco Javier Solar Domínguez C.P. de Villabona Finca Tabladiello 33480 Villabona-Llanera (Asturias) España

EM DOIS ANOS IMPRENSA ANARQUISTA NA AMÉRICA LATINA CRESCEU MAIS DE 50 POR CENTO

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Fonte: Coletivo Libertário Evora

Em Dezembro de 2012, há exactamente dois anos atrás, o jornal anarquista venezuelano el libertario fez um levantamento da imprensa libertária periódica contemporânea na América Latina e identificou 66 publicações activas e com presença nos meios anarquistas, o que – para os autores da pesquisa – era motivo de contentamento já “que tal número indicava o novo impulso que a imprensa ácrata latino-americana estava a tomar no século XXI, depois de na segunda metade do século anterior ter entrado num declive que parecia insuperável”.

Novo inventário foi feito agora. E o número de jornais e revistas anarquistas aumentou mais de 50 por cento na América Latina, situando-se agora nos 100 títulos: 80 em castelhano (editados em 12 países que falam o castelhano) e 20 em português (no Brasil). Para os editores de el libertario este renascer da imprensa libertária “é um dos indicadores mais patentes da reaparição do anarquismo latino-americano não só no âmbito comunicacional, mas também na área política, social e cultural. Registemos também o mérito adicional que representa pôr na rua cada um destes porta-vozes, pois não são simples os desafios a vencer nestas terras para planear, editar e fazer circular qualquer publicação que difunda os ideais de liberdade e de igualdade em solidariedade”.

Segue a lista das publicações que têm páginas na internet (pesquisa também da responsabilidade de el libertario):

A .- Meios impressos com edições accessíveis na Internet (96)

* (((A))) Info, Brasil.  http://anarkio.net/index.php/jrn/

* A Fagulha, Brasil. http://quebrandomuros.wordpress.com/jornal-a-fagulha

* A Ovelha Negra, Brasil. http://anarkio.net/index.php/rvts

A Plebe, Brasil. www.grupos.com.br/blog/sindivariosspfospcobacatait

Abrazando el Caos, Argentina.http://instintosalvaje.noblogs.org/abrazando-el-caos

Acracia, Chile. http://periodicoacracia.wordpress.com

Anarquía, Uruguay. http://periodicoanarquia.wordpress.com

* Anarquía y Comunismo, Chile.https://bibliotecasantecaserio.wordpress.com/category/periodicos

Apoyo Mutuo, México.www.federacionanarquistademexico.org/periodico-apoyo-mutuo

* Aullidos!, Chile.https://contrainformateblog.wordpress.com/2014/04/17/sale-nueva-revista-antiautoritaria-aullidos-no1-abril-2014

* Aurora Obreira, Brasil.  http://anarkio.net/index.php/rvts

* Autónoma, Chile. http://periodicoautonoma.wordpress.com

* Atentados, El Salvador. www.autistici.org/colectivolarevuelta/?q=taxonomy/term/4

* Bandera Negra, Costa Rica. https://banderanegrablog.wordpress.com

* Boletim Operario, Brasil. http://boletimoperario.blogspot.com.br

* Cangalla, Chile.http://periodicoelsolacrata.files.wordpress.com/2014/11/cangalla-nc2ba1-pa-subir.pdf

* Causa do Povo, Brasil.http://uniaoanarquista.wordpress.com/publicacoes/jornal-causa-do-povo

* Chenque Negro, Argentina. www.boletinchenquenegrocr.blogspot.com.ar

* Cimarrón, Argentina.http://es.contrainfo.espiv.net/2014/06/21/argentina-sale-el-no2-de-la-publicacion-anarquica-cimarron

* Contra Toda Autoridad, Chile.https://contratodaautoridad.wordpress.com

* Contracorriente, Argentina. http://issuu.com/ellibertario/docs/cont2

Cuba Libertaria. http://issuu.com/search?q=cuba%20libertaria

Dekadencia Humana, Argentina. http://dekadencia-humana-punkzine.blogspot.com

Destruye las Prisiones, México.http://es.contrainfo.espiv.net/2014/11/11/mexico-sale-el-no-4-de-destruye-las-prisiones

* Disidencia, Argentina.www.mediafire.com/view/iomwf17w19b7of1/Disidencia_N%C2%B01_%28Publicacion_Anarquista%29.pdf

* Disidencia Radical, Venezuelahttp://movimientoanarquistavalenciano.wordpress.com

* Ecopolítica, Brasil www.pucsp.br/ecopolitica

EDA / Educación Antiautoritaria, Chile.http://educacionantiautoritaria.blogspot.com

El Aguijón, Colombia. http://elaguijon-klavandoladuda.blogspot.com

* El Deseo como una de las más Bellas Armas, Argentina.www.columnanegra.org/2014/fanzine-el-deseo-como-un-de-las-mas-bellas-armas-2/

El Forista, Argentina. http://oficiosvariosrosario.wordpress.com/el-forista

* El Laburante, Argentina. http://capital.fora-ait.com.ar/category/el-laburante

El Libertario, Venezuela. www.nodo50.org/ellibertario

El Sol Ácrata, Chile. http://periodicoelsolacrata.wordpress.com

* Ellos no pueden parar la revuelta, ¿?http://antagonismo.net/index.php/contenido/publicaciones/2803-revista-ellos-no-pueden-parar-la-revuelta

* Emecê, Brasil. http://marquesdacosta.wordpress.com

Erosión, Chile. http://erosion.grupogomezrojas.org

Exilio Interior, Venezuela. http://exiliointeriorzine.blogspot.com

Existencia Muerta, Venezuela. http://las-ideas-nunca-mueren.contrapoder.org.ve

* Flora Sanhueza, Chile. http://libreriaflorasanhueza.wordpress.com

* Fusil Negro, Chile.https://contrainformateblog.wordpress.com/2014/08/20/hile-boletin-contrainformativo-fusil-negro-todas-sus-publicaciones

* Germinal, Argentina. http://oficiosvarios-zonanorte.blogspot.com/p/germinal.html

* Habitantes, Argentina. www.revistahabitantes.com.ar

* Hoja Sanitaria, Chile. http://saludantiautoritaria.blogspot.com

* Krea Desorden, Ecuador.https://www.facebook.com/kreadesordenfanzine

* La Boina, Chile. http://periodicolaboina.wordpress.com

* La Cima, Chile. http://periodicolacimaanarquista.wordpress.com

* La Fragua (Capital), Argentina. http://capital.fora-ait.com.ar/tag/la-fragua

* La Fragua (Neuquén), Argentina. http://srovnqn.blogspot.com

La Fuerza de los de Abajo, Argentina.www.facebook.com/lafuerzadelosdeabajo

* La Idea, Chile.https://contrainformateblog.wordpress.com/2014/08/07/hile-primera-edicion-revista-anarquista-la-idea-abril-2014

La Oveja Negra, Argentina. http://boletinlaovejanegra.blogspot.com

* La Pedagogía Libertaria, Venezuela.www.facebook.com/groups/educacionlibertariaccss/?fref=ts

* La Pestezine, Chile. http://lapeste.org/category/recursos/la-pestezine

* La Protesta, Argentina.http://musicaypeliculasacratas.blogspot.com/2014/11/la-protesta-publicacion-anarquista.html

* La Semilla, México.www.antagonismo.net/images/stories/Antagonismo/JuventudLibertaria/SemillasPDF/Semilla_Julio_2014.pdf

* La Toño Domínguez, Chile. http://latonodominguez.blogspot.com

Libera, Brasil. https://anarquismorj.wordpress.com/publicacoes/libera-baixa

* Liberdade, Brasil. http://casamafalda.org/o-jornalzine-liberdade-1-esta-no-ar

* Libertad, México.http://instintosalvaje.noblogs.org/files/2014/10/libertad.pdf

Libertad!, Argentina. www.periodicolibertad.com.ar

* Libertaria, Chile. http://revolucionanarquista.cl/revista-libertaria

* Mandu Ladino, Brasil. www.anarquistas-pi.blogspot.com.br/2014/08/lancamento-da-revista-mandu-ladino.html

* Negación, México. http://es.contrainfo.espiv.net/tag/revista-negacion

* No Batente, Brasil. http://anarquismopr.org/publicacoes/no-batente

* Notas Insurreccionales, Perú.www.alasbarricadas.org/noticias/node/28853

* Opinião Anarquista, Brasil.http://anarquismopr.org/publicacoes/opinioes-anarquistas

Organización Obrera, Argentina. http://fora-ait.com.ar/blog/organizacion-obrera

Organízate y Lucha, Argentina. http://socderesistenciamza.blogspot.com

* Palabras Nocivas, México. http://es.contrainfo.espiv.net/?s=Palabras+Nocivas&submit.x=0&submit.y=0

* Pampa Negra, Chile. http://pampanegra.blogspot.com

Parrhesia, Argentina. http://laletraindomita.blogspot.com

* Pensamento e Batalha, Brasil. www.federacaoanarquistagaucha.org/?cat=10

* Prensa Negra, Argentina. http://negralaprensa.wordpress.com

* Presidiario, Colombia. http://cnamedellin.espivblogs.net

* Rebelión, Argentina. http://es.scribd.com/doc/239243831/Rebelion-4

Refractario, Chile. http://publicacionrefractario.wordpress.com

* Regresión, México. http://es.contrainfo.espiv.net/2014/10/26/mexico-no-2-de-la-revista-regresion

* Revista da Biblioteca Terra Livre, Brasil. http://revistabtl.noblogs.org

* Revolución hasta el Fin, Chilewww.antagonismo.net/index.php/contenido/publicaciones/2784-numero-0-revolucion-hasta-el-fin

Salud Antiautoritaria, Chile. http://saludantiautoritaria.blogspot.com

* Semilla de Liberación, Argentina.http://semilladeliberacion.wordpress.com

* Socialismo Libertário (jornal), Brasil.http://anarquismopr.org/publicacoes/jornal-socialismo-libertario

Socialismo Libertário (revista), Brasil.www.cabn.libertar.org/publicacoes/revista-socialismo-libertario

Sociedad de Amigos Contra el Estado, Bolivia.http://anarquiacochabamba.blogspot.com

Solidaridad, Chile. www.periodico-solidaridad.cl

* Solidaridad Proletaria, México.https://solidaridadproletaria.wordpress.com

* Teoría y Práctica de la Insurrección, Méxicohttp://es.contrainfo.espiv.net/files/2014/11/revistaterminada.pdf

Tierra y Tempestad, Uruguay.http://laturbaediciones.wordpress.com/tierra-y-tempestad

* Total Diskordia, Venezuela.http://issuu.com/ellibertario/docs/totaldiskordiazine_nro5

* Un Disparo Colectivo, El Salvador. https://onedrive.live.com/view.aspx?resid=82C03A59AF1CE3CE!132&ithint=file%2cpdf&app=WordPdf&authkey=!ANw25Kt1zwxDtes

* Verba Negra, Chile. https://grupoeditorialverbanegra.wordpress.com

* Verbo Libertario, México.http://saccoyvanzetti.wordpress.com/category/revista-verbo-libertario

Verve, Brasil. www.nu-sol.org/verve/verve1.php

* Via Combativa, Brasil.http://uniaoanarquista.wordpress.com/publicacoes/revista-via-combativa

* Volver a la Tierra, Chile. https://grupovolveralatierra.wordpress.com/publicaciones-anteriores

B.- Meios impressos não disponíveis na Internet (4)

* Delira, Chile. revistadelira@mail.com

* Doderlein, Venezuela. doderlein.diystro@gmail.com

* Obra Negra, México. http://colectivoautonomomagonista.blogspot.com

Política y Sociedad, Chile. http://hyscomunistaanarquica.blogspot.com

Nota final: Em 2014, o El Libertario apresentou outras duas compilações que, em espaços distintos da edição jornalística, dão testemunho daquilo que se está a  produzir na América latina para a difusão do ideal ácrata em língua castelhana:

° “205 livros en castelhano do anarquismo latino-americano do século XXI”

http://periodicoellibertario.blogspot.com/2014/08/203-libros-en-castellano-del-anarquismo.html

° “63 videos e filmes libertarios da América Latina em castelhano”

http://periodicoellibertario.blogspot.com/2014/07/63-videos-y-films-libertarios-de.html

retirado daqui: http://periodicoellibertario.blogspot.com/2014/12/prensa-latinoamericana-llega-al.html

Sobre o perigo de transformar a anarquia em um conjunto de práticas “alternativas” sem conteúdo de ofensiva ao poder.

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(publicado na revista “Contra toda autoridad”, Chile, Setembro 2014#1)

Fonte: ContraInformate

Sem dúvida um dos grandes perigos que assola a anarquia a todo tempo é a possibilidade de ela se transformar em um conjunto de práticas sem qualquer conteúdo de ofensiva contra o poder.

Esta situação é fomentada, por um lado, pelo mesmo inimigo através de seus valores aglutinantes em torno do domínio democrático, como a “diversidade”, a “tolerância”, o “pluralismo” e também a integração econômica por meio da mercantilização da rebeldia e do consumo “alternativo”.

Por outro lado, existe também toda uma gama de indivíduos e grupos “contestadores” e inclusive alguns “anarquistas” que de modo inconsciente ou deliberadamente se apagam do antagonismo e do conflito permanente para contra o domínio, tanto silenciando a necessidade da destruição e do ataque direto contra a autoridade ou, no pior dos casos, realizando campanhas toscas de limpeza da imagem do anarquismo, apresentando-se a si mesmos como patéticos defensores de uma ideologia alheia à confrontação ao poder.

Para nós, a recuperação de nossa vida é um processo que envolve a construção de nossa autonomia em relação ao modo de vida alienado, submisso e mercantil que oferece a sociedade do capital e da autoridade. Mas não abordamos essa proposta nunca a partir de uma lógica de coexistência pacífica com o poder, mas sim a partir de uma atitude de permanente confronto que também envolve a necessária perspectiva do ataque direto e da destruição do poder como elementos indispensáveis de todo o processo de libertação total.

E precisamente isso, uma proposta de confronto, de guerra e ataque ultrapassa a legalidade, é o que faz que toda prática que visa a “autogerir a vida” transborde qualquer iniciativa específica vivendo-a como parte de uma proposta de ofensiva impossível de ser assimilada pelo poder.

Não existem dúvidas de que a alimentação saudável e livre de exploração animal, as hortas autogeridas, a confecção de nossa própria vestimenta, a medicina natural e a libertação das relações entre indivíduos são práticas válidas na luta sempre e quando lhes resignifique como prática que propagem o antagonismo em relação à ordem social dominante. Também é importante valorar essas práticas em sua própria dimensão, a qual não é precisamente a de ser um ataque direto contra o domínio. Por isso, ao desenvolver boas iniciativas sob uma proposta de confronto anti-autoritário multiforme, estas terminam por ultrapassar as fronteiras de seus próprios limites, se mostrando como um suporte a mais na luta antes que como “a” forma de luta.

Além disso, as ações violentas que não se projetam como parte de uma ofensiva que envolve a recuperação integral da vida possuem também alcances limitados em suas perspectivas.

Tão importante como não hierarquizar os meios utilizados na luta contra o poder, é o fato de valorizar cada ferramenta em seu suporte pontual, visando a ultrapassar a luta na própria prática da permanente insurreição.

É por isso que nossa ofensiva fixa seu olhar em um horizonte que vai além dos meios utilizados, dotando de conteúdo e significado de rebelião a cada uma das práticas que desenvolvemos atrás da eliminação de todo poder e autoridade. Esta guerra contra o poder implica para nós a tensão constante e a autocrítica da qual emana a necessidade de sempre se superar, de nunca se conformar, de ganhar a rua e o terreno da polícia, de atacar a repressão e a ordem social visando permanentemente à destruição de toda forma de poder.

Difundir a anarquia não passa pela redenção dos valores antagônicos à ordem imperante, tampouco passa por fazer das formas de autogestão da vida um conjunto de práticas que evitam o confronto da ordem social. A anarquia não pode ser uma alternativa à cultura do consumo, um conjunto de práticas culturais que coexistem pacificamente com o inimigo.

A anarquia é um contínuo estar em guerra, vai além das práticas específicas arrasando com toda ideologia parcializante ou totalizante (animalismo, feminismo, naturismo, etc).

Quanto de nosso tempo e energia dedicamos a alimentar discursos e práticas carentes de conteúdo de ofensiva? Quanto dedicamos a projetos ou iniciativas destinados a propagar valores, ideias e práticas baseadas no confronto e ataque contra a dominação?

Por isso, companheiros, nem práticas de autonomia sem perspectiva de ataque, nem práticas de ataque sem perspectiva de libertação e autonomia nas relações e na vida como um todo. Porque, como disse um companheiro, a anarquia não é e nem pode ser um remédio ou um analgésico ante os males da sociedade; a anarquia é e deve ser um punhal carregado de veneno contra a ordem social e contra toda autoridade.

A Era da Angústia

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Por John Zerzan

Fonte: Anarco-Primitivismo

Envolve-nos um sentimento difundido de perda e mal-estar, uma tristeza cultural que somente pode ser comparada ao indivíduo que sofre uma perda pessoal.

Um capitalismo hiper-tecnológico está a fazer desaparecer a textura viva da existência, enquanto a maior mortandade em massa do mundo, em 50 milhões de anos, continua em ritmo acelerado: 50 mil espécies de plantas e animais desaparecem a cada ano (WWF – Fundo Mundial pela Vida Selvagem, 1996).

A nossa angústia toma a forma de uma exaustão pós-moderna, com a sua dieta desgastante de um relativismo ansioso e constante, e o apego a um superficial que teme em ligar-se ao facto de uma perda assombrosa. O vazio fatal do consumismo ironizado é marcado pela perda de energia, dificuldade de concentração, sentimentos de apatia, isolamento social; exactamente aqueles citados na literatura psicológica sobre a lamentação.

A falsidade do pós-modernismo consiste na negação da perda, a recusa da lamentação. Desprovido de esperança ou uma visão do futuro, o “zeitgeist” (de origem alemã, significa um ambiente geral ou uma qualidade de um período particular da História, mostrado por ideias, crenças, etc comuns no tempo) reinante também reduz explicitamente, uma compreensão do que aconteceu e o por quê. Há uma proibição sobre pensar nas origens, que é acompanhada de uma insistência no superficial, no momentâneo, no infundado.

Paralelos entre a angústia individual e uma esfera em comum desolada e aflita estão enraizadas. Considere o seguinte enunciado do terapeuta Kenneth Doka (1989): “A angústia ‘deslegitimada’ pode ser definida como a angústia que as pessoas vivem quando sofrem uma perda que não é ou não pode ser completamente admitida, publicamente lamentada, ou socialmente apoiada”. A negação de um nível individual fornece uma metáfora inescapável; a negação pessoal, tão frequentemente e exaustivamente compreendido, introduz a questão da recusa para se entender profundamente a crise que ocorre a cada nível.

Introduzido no milénio estão vozes dos quais a marca é a oposição da própria narrativa, escapando de qualquer tipo de conclusão. O projecto modernista ao menos fez sala para o apocalíptico; agora somos separados a pairar para sempre num mundo de aparências e simulações que asseguram a ”rasura” do mundo real e a separação do eu e do social. Baudrillard é obviamente emblemático sobre o “fim do fim”, baseado no seu prognóstico “extermínio do significado”.

Devemos direccionar-nos novamente para a literatura psicológica para uma descrição apropriada. Deutsch (1937) examinou a ausência de expressão de angústia que ocorre após alguma perda e considerou isto uma tentativa de defesa do ego de se preservar a si mesmo face a uma ansiedade esmagadora. Fenichel (1945) observou que a angustia é primeiramente experimentada em doses muito pequenas; se fosse liberada  totalmente, o sujeito poderia sentir um desespero esmagador. Similarmente, Grimspoon (1964) notou que “as pessoas não podem arriscar sendo esmagadas pela ansiedade, o que força acompanhadamente uma compreensão cognitiva e afectiva total da situação actual do mundo e das suas implicações para o futuro”.

Com estes conselhos e cuidados em mente, é óbvio portanto que a perda deve ser encarada. Tudo o mais, portanto, no reino da existência social, onde em distinção de, digamos, a morte de um ente querido, uma crise de proporções monumentais deve ser direccionada para uma solução transformadora, e não mais negada.
A repressão, mais claramente e presentemente experimentada via fragmentação e superficialização pós-moderna, não extingue o problema. “O reprimido”, de acordo com Bollas (1995) “significa o preservado: escondido na tensão organizada do inconsciente, os desejos e as suas memórias estão constantemente lutando para achar algum modo de satisfação no presente – o desejo refuta a aniquilação.”

A angustia é a contradição e destruição do desejo e assemelha-se muito a depressão; de facto, muitas depressões são precipitadas por perdas (Klerman, 1981). Ambos, angustia e depressão devem ter a fúria nas suas raízes; considere por exemplo a associação cultural da cor preta com a angustia, com o luto e com a fúria.

Tradicionalmente, a angustia tem sido vista como causadora do cancro. Uma variação contemporânea sobre esta tese é a noção de Norman Mailer de que o cancro é a insalubridade de uma sociedade demente tornada intima, estendendo-se nas esferas públicas e pessoais. Novamente, uma plausível conexão entre angustia, depressão, e fúria – e a evidência, penso eu, de uma repressão em massa. Os sinais são abundantes a respeito do enfraquecimento das defesas imunes; juntamente com o crescimento dos materiais tóxicos, parece existir uma elevação do nível de angustia e das suas concomitantes. Quando o significado e o desejo são tão dolorosos, tão desesperado para admitir ou prosseguir, os resultados acumulados apenas somam na catástrofe agora em expansão.

Olhar para o narcisismo, o modelo guia actual de carácter, é olhar o sofrimento como um conjunto de mais e mais aspectos próximos relacionados. Lasch (1979) escreveu sobre tais características peculiares da personalidade narcisista numa inabilidade de sentir, superficialidade ou pouca profundidade procectora, uma hostilidade repressora crescente, e um senso de irrealidade e vazio. Desta forma, o narcisismo também poderia ser agrupado sob o titulo da angustia, e uma ampla sugestão surge com possível grande força: Existe algo profundamente errado, algo no coração de toda esta tristeza, porém, muito disto é comummente rotulado sob varias categorias separadas.

Numa exploração de 1917, “Luto e melancolia”, um perplexo Freud questionou o porquê da memória de “cada único individuo sobre as memórias e esperanças” que são conectadas com a perda de um amado “devem ser tão extraordinariamente dolorosas”. Porém, lágrimas de angustia, é dito, são basicamente lágrimas para si mesmo. A intensa tristeza numa perda de uma pessoa, trágica e difícil como certamente é, deve ser de alguma maneira também uma vulnerabilidade para a tristeza sobre uma mais ampla e geralperda (que não abarca apenas a nossa espécie).

Waslter Benjamim escreveu Theses on History (“Teses sobre a Historia”) alguns meses antes da sua morte prematura em 1940, numa fronteira fechada que evitava a fugas dos Nazis. Quebrando os confinamentos do marxismo e da literatura, Benjamim alcançou um ponto alto do pensamento crítico. Ele viu que a civilização, a partir da sua origem, é a tempestade que esvaziou o Éden, viu o progresso como uma única e continua catástrofe.

A alienação e a angustia foram altamente, senão inteiramente, desconhecidas. Hoje o índice de depressão profunda, por exemplo, dobra a cada dez anos nos países desenvolvidos (Wright, 1995).

Como Peter Homans (1984) colocou habilmente, “o pesar não destrói o passado – reabre as relações com o passado e com as comunidades do passado”. Uma mágoa autêntica coloca a oportunidade de entender o que tem sido perdido e o porquê, e também requer a recuperação de um estado de ser inocente, no qual a perda desnecessária é banida.

Sobre cidades e comunidades anarquistas

Por Gilson Moura Henrique Junior

A relação entre anarquia e superação do estado é algo que compõe uma miríade de vertentes e opções. Dentre todas existem as que me parecem dominantes hoje e que compõe uma ópera de individualismo e misticismo, quase um elemento de constituição da elevação espiritual do ser anarquista, do indivíduo anarquista, e sua relação com o mundo.

A ideia de diferenciação do anarquista em relação aos demais ultrapassa os sinais pontuais presentes nas propagandas ideológicas que tratam quem não se alinha ao anarquismo como “zumbis” ou “escravos”, e segue a ideia de que ao se afastar do mundo se estabelece um “contra mundo” capaz de, por algum mistério inexplicável e jamais conscientemente estabelecendo um método de transformação, fazer com que todo mundo seja anarquista.

Essa ideia é presente em um sem número de publicações, páginas, fan pages e domina o lado virtual do mundo anarquista. É notório na virtualidade o método de propaganda ideológica que estabelece um projeto de agitação e propaganda da desqualificação da tecnologia, do mundo “normal”, das relações de poder e de todo um arcabouço de modos de vida e de pensamento como inferiores e limitados.

Se por um lado essa metodologia acerta na crítica à civilização, ela estabelece um projeto de contra hegemonia estéril que não constrói nenhuma metodologia prática de contra hegemonia concreta. Torna-se apenas um modo de vida que cria fantasias travestidas de práxis e que pouco oferecem de alternativas além do exemplo.

Essa crítica é fundamentalmente, e brilhantemente, trazida por Murray Bookchin e perfeitamente direcionada à ideia das zonas autônomas temporárias e da mistificação da retirada do mundo que cai como uma luva nas posturas anarquistas em voga.

Essa crítica é irmã da crítica ao fetiche da ferramenta estabelecido com sinal contrário contido na repulsa à tecnologia construída em torno do anarco primitivismo.

Ao estabelecer um sistema de crítica idealizada à tecnologia, no sentido de não estruturada numa lógica que analisa de forma refinada o processo tecnológico como inserido em contextos simbólicos e práticos que vão muito além da ferramenta em si, parte dos anarquistas abole o engenho como parte da transformação estrutural que buscam construir, ou seja, em última análise culpam a roda pela civilização.

Nesse meio tempo o mundo processa e estabelece parâmetros de debate e de exercício da dominação que exigem uma luta contra hegemônica para muito além da retirada do palco de parte dos atores.

Ou seja, não é que a comunidade de permacultura ou as zonas autônomas temporárias ou o louvor a um primitivismo idealizado cometam um erro universal em sua estrutura, apenas todos eles abdicam do enfrentamento cotidiano dos problemas das pessoas e das comunidades e do estabelecimento de parâmetros de pensamento e organização anarquistas no combate ao uso da tecnologia como ferramenta de dominação, do estabelecimento de paradigmas ecológicos nas organizações cotidianas, na estruturação de métodos usuais de refundação cultural a partir de elementos primários libertários, etc.

Um exemplo é a abdicação do uso de ferramentas de construção em permacultura como meios de influência em ocupações de terreno por sem tetos ou por ocupação de áreas rurais por sem-terra.

Além disso, as zonas autônomas temporárias, que é parte da influência dos movimentos Occupy mundo afora, tendem a serem elementos de fundamentação temporária de ações isoladas e não um elemento estruturado e metodologicamente estabelecido de ações de médio e longo prazo.

Tudo isso leva ao debate sobre a relação entre anarquistas e as cidades em um mundo onde a revolução urbana alcançou seu auge e estabeleceu um paradigma de ocupação urbana que supera pela primeira vez na história a população rural a partir de vinte e três de maio de 2007.

Se é correta a crítica às insustentáveis megalópoles e ao menos a busca por uma reforma urbana que as tenha como alvo para sua necessária descentralização redimensionamento, não é pela negação da urbe que teremos o processo necessário de refundação da ideia de concentração de pessoas.

Se é importante estabelecer um processo de paulatina redução das cidades ou migrações para cidades pequenas e medias, não se pode construir a partir disso a lógica de que pela ausência de alguns que tem meios de constituir esse processo, ele se resolve automaticamente.

É preciso lidar com as megalópoles a partir de suas periferias e da ausência de direitos e estrutura nelas. A base material da vida das periferias é inclusive parte do problema ambiental das megalópoles e não deve ser combatida apenas por sua negação.

Negar a megalópole não empondera e nem retira da miséria ou da falta de moradia os milhões de pobres nelas. Migrar pra comunidades livres das neuroses das megalópoles não resolve o impacto mobilidade urbana predatória na vida do mundo todo.

É fundamental estabelecer um processo de integração entre a ideia da sustentabilidade da permacultura com a resolução do problema do deficit de moradia nas mega, grandes e médias cidades.

É fundamental conceber as zonas autônomas temporárias como ferramenta de combate à lógica urbana de desocupação das praças, das ruas, do estabelecimento de zonas livres de pobres, da elitização dos espaços e da gentificação.

É fundamental estabelecer um processo que interligue as críticas à civilização como formas concretas de rediscussão dos parâmetros civilizatórios a partir da integração da perspectiva ameríndia, aborígene, africana e de outras etnias na concepção de vida, família, cidade, natureza e espaço público.

Pra isso é fundamental antes de mais nada sairmos da idealização hegeliana que acomete as ideias anarquistas a partir de um sem número de crossover teóricos que bebem no anarco individualismo e geram uma confusão dos diabos no estabelecimento de práticas anarquistas.

É fundamental produzir um acúmulo de práxis e teoria que rediscuta que transporte queremos nas cidades, que educação queremos nas cidades, que relação entre homem e natureza queremos nas cidades.

Em um mundo onde a dita natureza está se tornando mitologia, ser parte da expansão da ocupação humana em seu interior não me parece outra coisa senão o caminho da expansão das fronteiras do desenvolvimento produtivista travestida de douração de pílula naturista.

Em um mundo mais urbano que rural o fundamental é menos o isolamento idealizado espiritualista que nega a cidade e mais a integração nas inúmeras cidades, de todos os tamanhos, de perspectivas transformadoras de seu dia a dia. Ou seja, é prioritário refundar as cidades e a ideologia hegemônica nelas.

Para combater a carrocracia é fundamental o exercício da pressão para a ampliação de transporte público por trilhos movido a energia renovável e do uso de bicicletas.

É fundamental estabelecer parâmetros ecológicos para a construção de moradia que resolva o deficit habitacional.

É fundamental reler a cidade, entendendo que favela é cidade, periferia é cidade. É central discutir a descentralização habitacional, de decisões sobre energia e consumo, de debates sobre mobilidade urbana, de decisões sobre alimentação.

Para combater a concentração urbana é fundamental debater a descentralização urbana, da distribuição de alimentos; é preciso debater as distâncias entre a produção e o consumo; é preciso discutir o consumo e a relação com a tecnologia; é fundamental debater ciência, economia, cultura; É preciso nos livrar da hierarquização de direitos estabelecidos na distribuição econômica da população na geografia das cidades.

Como fazer isso se nos isolamos em comunidades ou estabelecemos uma ideia pirotécnica de anarquia como estilo de vida?

Enquanto construímos uma ideia de ecologia que rima como alienação pequeno-burguesa, outros coletivos se constituem como ferramentas concretas de enfrentamento ao estado e à institucionalidade e não construímos uma face ecológica para este combate.

Por que em vez de nos isolarmos uns dos outros não estabelecemos pontes que integrem o debate sobre a cidade ao debate contra hegemônico mantido por esses coletivos?

As cidades não serão enfrentadas ou reformadas com a ausência dos anarquistas nos debates e nas práticas de sua transformação.

Ao nos colocarmos como eco-anarquistas distanciados dos debates das periferias das grandes cidades construímos de tudo um pouco, menos o necessário meio de enfrentamento ecológico que pode levar à transformação do mundo.

Pra mudar o mundo é preciso menos negá-lo e mais mudá-lo.