Sem casa não vivemos. Sem viver, como lutamos?

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Por Gilson Moura Henrique Junior

O Estado não massacra apenas com base em policiais armados, escudos transparentes, capacetes e a determinação de manter tudo em seu lugar.

O Estado massacra como coirmão do Capital na retirada da energia cotidiana, na construção do medo, do medo de perder a casa, o respeito, as raízes, o senso, o bom senso, a alegria.

O Estado massacra ao ser cúmplice da mercantilização do morar, ao ser primo-irmão da gentrificação que aluga cavernas insalubres com preço de tendas bordadas a ouro e cobra por elas tudo, abusa de contratos leoninos, esmaga a alma, o viver, o sorriso.

Há quem consiga escapar com a ajuda dos amigos, por algum tempo, e se transferir pra outro canto, sobrevivendo, se movendo, fugindo da sanha feroz de almas que o Estado e o Capital fomentam para além do sentimento comum de seus controladores, mas intervindo até no sonho e na fome de outros massacrados por eles, que naturalizam a lógica de devoramento de homens, mulheres e crianças pela máquina de moer carne das megalópoles urbanas.

Somos todos pisoteados pelo estado e pelo capital, esmagados contra as cercas da cidade, conquistando força na marra, retirando de onde não tem.

Nós ainda temos saída, mas e quem não tem? Quem não tem suporta o peso das botas, do aluguel, do emprego mal pago e muito explorado e reza pra chegar a tempo de se aposentar e trabalhar um pouco menos nos bicos que puder pra complementar renda, rezando pra ainda distribuírem remédios necessários nas unidades de saúde.

E ai não adianta permacultura, falar em bem viver, em veganismo, em soluções mágicas de fuga da realidade esmagadoras de um capital estado onipresente que não poupa nada e não abre espaço pra quem é escravo dele não por ser fraco, mas por não ter nascido alimentado com Purê de Batata Inglesa e Pêra doce a ponto de poder sair levemente de onde dói mais o esmagamento pra um lugar onde o pisar seja mais ameno.

É mole chamar o fudido de “escravo” enquanto ele resiste com uma força inaudita a pressões que cada um dos rebeldezinhos de internet choraria se sentisse meio por cento na pele.

Pra derrubar o estado é preciso ir além da crítica ao voto, é preciso dar suporte para a destruição da relação de esmagamento de famílias sob as botas da precificação do direito de morar.

Sem casa não vivemos. Sem viver, como lutamos?

México: El Rebozo, uma cooperativa autogestionada

Fonte: : Agência de Notícias Anarquistas, em 12 de dezembro de 2014.

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A p r e s e n t a ç ã o:

El Rebozo, somos uma cooperativa autogestionada que caminha com xs que creem e fazem outra política/outra cultura em seu andar.

Associar-se em liberdade. Criar novas relações de convivência e resistência.

Somos COOPERATIVA para refletir a natureza de nossas relações, baseadas no consenso e o fazer coletivo entre nós e apoio mútuo com companheirxs de outros espaços organizados.

Carregando o futuro, caminhando o presente.

El Rebozo, porque é uma ferramenta artesanal e cotidiana que tem muitos usos. Tecido que se pendura em nossas costas, nos protege do frio e da chuva, com ele se carregam sonhos, tradições e a própria vida. El rebozo, se usa para curar feridas e até de mortalha para enterrar a nossos mortos.

Autogestionar as lutas. Organizar e fixar-nos em comunidade.

Rechaçamos o trabalho assalariado e as relações de dependência e alienação que este constrói. Por isto decidimos recuperar a capacidade de sustentar nossas vidas e nossas lutas, reapropriando-nos da possibilidade de dirigi-las até onde decidirmos. Da mesma maneira nos enredamos com outros projetos autônomos tecendo relações de intercâmbio e reciprocidade que ampliam nossa resistência.

Vemos a autogestão como um passo necessário para a construção de autonomia.

Aprender coletivamente. Compartilhar saberes, multiplicar e amplificá-los.

Rechaçamos a escola como único espaço obrigatório para preparar-se para a vida. A desescolarização para nós implica romper com a forma mental, de fazer individual e de relacionar-nos que aprendemos nas instituições educativas capitalistas. Des-aprender e re-aprender, se é possível ludicamente, o que nos é verdadeiramente útil para viver e converter-nos em uma pequena comunidade de aprendizagem móvel e aberta, onde compartimos novas maneiras de criar e fazer as coisas juntxs de maneira convivial.

Irromper desde a inquietude. Rebelar-se/Revelar-se. Criar novas relações de convivência e resistência. Desafiar, subverter, transformar, desprender, iniciar.

Somos aderentes à Sexta Declaração da Selva Lacandona do EZLN: pensamos que nenhuma mostra de dignidade pode vir de cima, de onde os poderosos só distribuem desprezo, despojo, exploração e repressão. Por isso nos somamos aos esforços ativos na reconstrução da sociedade desde baixo através da organização e da prática de novas relações sociais. Não queremos relações baseadas sobre a imposição do poder, do saque, da exploração, da violência e o individualismo, quer dizer, não queremos relações patriarcais.

Buscamos construir em nossa prática cotidiana relações baseadas sobre o respeito, a comunidade, o companheirismo e a autonomia. Em particular nos focamos em recuperar coletivamente a capacidade autônoma de analisar o mundo que vivemos e difundir ferramentas para esta análise. Por isso consideramos que El Rebozo é também um espaço político, tão só uma ferramenta mais para desmantelar o Estado e destruir o patriarcado e seus múltiplos sistemas (capitalista-neoliberal-financeiro).

Despertar imaginários, recuperar práticas, intercambiar experiências, soltar a palavra.

Nosso trabalho está focado na produção textual e gráfica e em sua difusão. Todo o material que produzimos e intercambiamos busca amplificar e nutrir as culturas em resistência e em construção de outro mundo, despertando imaginários para a recuperação de práticas ancestrais assim como para a criação de novas experiências organizativas. Cremos que o exercício de análise e reflexão é fundamental na hora de empreender caminhos alternativos ao que propõe o sistema, por isso tratamos de facilitar o aceso aos materiais que podem nos ajudar em nossas buscas, intercambiando com companheirxs de diferentes latitudes, no esforço de globalizar as lutas e as esperanças.

Vales Centrais de Oaxaca, México

Cooperativa El Rebozo

elrebozo.wordpress.com

Tradução: Sol de Abril

Domingos Passos: O “Bakunin Brasileiro”

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(Federação Anarquista do Rio de Janeiro-FARJ)

Fonte: FARJ

“Eram 5 horas quando me levantei. O Passos, acordado não sei desde que horas, estava sentado na cama, lendo o “Determinismo e Responsabilidade”, de Hamon. Tomei a toalha e desci, para banhar o rosto. Quando voltava do pateo, enxugando-me, vi dois individuos, que logo tomei pelo que realmente eram, de revolver em punho, dirigirem-se para mim, perguntando asperamente.

 – Onde está o Domingos Passos?

Prevendo uma dessas violencias de que o nosso querido companheiro tem sido tantas vezes victima, senti forte desejo de escondel-o e neguei sua presença, dizendo:

– Domingos Passos não mora aqui!”

Esse pequeno trecho do depoimento do operário Orlando Simoneck ao jornal A Pátria[1], tomado em 16 de março de 1923, expressa claramente alguns aspectos da situação então vivida por aquele rapaz mestiço, neto de avós índios[2], carpinteiro de profissão, anarquista e ativo sindicalista do ramo da construção civil: o “camarada Passos” era, já naquele ano, o alvo preferido da Polícia carioca e, se não o mais, um dos mais queridos e respeitados militantes operários do então Districto Federal. Outra característica notável de Domingos Passos, destacada no depoimento de Simoneck, era seu incansável autodidatismo, sua sede pela instrução e pela cultura, que o fazia varar as madrugadas devorando os livros da pequena biblioteca de Florentino de Carvalho, que morava naquela mesma casa da Rua Barão de São Félix, muito próxima da sede do seu sindicato.

Domingos Passos era natural do Rio de Janeiro, tendo nascido, provavelmente, na última década do século XIX[3]. Sua trajetória militante está em grande parte ligada à sua organização de classe, a União dos Operários em Construcção Civil (UOCC), fundada como União Geral da Construcção Civil (UGCC) em abril de 1917 (a UGCC havia sido, na verdade fundada em 1915, mas teve existência breve). Apenas 2 meses após a sua fundação, a UGCC já com mais de 500 filiados, conseguiu mobilizar mais de 20.000 trabalhadores para o sepultamento dos 13 operários mortos no desabamento do New York Hotel, que se transformou em uma grande manifestação contra a ganância patronal.

No rastro da greve geral iniciada em São Paulo após o assassinato do jovem sapateiro Martinez, a UGCC e outras associações de resistência declararam, em 22 de julho de 1917, a extensão do movimento para o Rio de Janeiro, tendo como conseqüência imediata o fechamento de várias sedes sindicais pela Polícia até o início de setembro e a prisão de vários militantes[4]. Outra conseqüência nefasta para a luta dos trabalhadores, foi o banimento da Federação Operária do Rio de Janeiro (FORJ), que só veio a ser substituída em 18 de janeiro de 1918 pela União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Em 26 de junho de 1918, a UGCC mudou sua denominação para UOCC. Em outubro desse ano, a epidemia de gripe espanhola causou a morte de mais de 12.000 pessoas no Rio de Janeiro e a fome assolou a população trabalhadora, principalmente nos cortiços do Centro e nos subúrbios. Criou-se então, a partir da UOCC, o Comitê de Combate a Fome, que a despeito de sua intenção e da tragédia vigente, teve várias de suas reuniões interrompidas pela polícia e quase todos os seus integrantes presos[5].

Em 18 de novembro de 1918, a UOCC participou ativamente da tentativa de greve insurrecional, tendo sua sede novamente fechada durante a onda repressiva que se seguiu, desta vez por mais de 70 dias. Centenas de operários foram encarcerados e a UGT, com apenas 9 meses de vida, foi fechada por decreto federal.

Em abril de 1919, após um ano e meio de disputas internas entre os sindicalista revolucionários (anarquistas) e a “facção conservadora” da UOCC[6], os primeiros elegeram uma nova comissão executiva e conseguiram que a organização voltasse a ser regida pelas Bases de Acordo originais (em dezembro de 1917, um manobra dos conservadores havia “legalizado” um estatuto que previa os cargos de presidente e vice, e que nunca havia sido reconhecido pelos libertários).

Em maio de 1919, a UOCC conquistou finalmente às 8 horas de trabalho diário para a categoria e, em julho, vários de seus membros participaram da fundação do novo organismo federativo, a Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (FTRJ).

Nos meses de setembro e outubro de 1919, uma feroz repressão foi desencadeada contra as associações de resistência do Rio de Janeiro. No dia 10 de setembro, a sede da UOCC e de várias outras entidades de classe foram atacadas pela Polícia, tendo sido efetuadas dezenas de prisões. No dia seguinte, a FTRJ convocou uma manifestação de protesto contra a violência policial, que degenerou em um conflito com a Força Pública, resultando feridos em ambos os lados.

Foi durante esse duro período que registramos a primeira aparição “oficial” de Domingos Passos, quando este foi eleito, em 16 de outubro de 1919, o 2o Secretário da UOCC e, em dezembro desse mesmo ano, 1o Secretário para o período de janeiro a julho de 1920[7]. Destacamos, no entanto, que o fato de Domingos Passos ter passado a ocupar tais cargos na organização em um momento tão difícil, indica que sua trajetória na UOCC vinha, no mínimo, de alguns meses antes.

Domingos Passos foi indicado, junto com José Teixeira[8], delegado da UOCC no 30 Congresso Operário Brasileiro (1920), quando foi eleito Secretário Excursionista da Confederação Operária Brasileira (COB)[9]. Ao ser escolhido para tal cargo, Passos certamente já se destacava no campo do proletariado organizado por sua inteligência e oratória, cultivada no cotidiano de lutas de sua categoria. Segundo Pedro Catallo[10], Passos era “dono de uma oratória suave, envolvente e agressiva o mesmo tempo, multiplicava a afluência aos comícios, desejosa de ouvi-lo falar. Depois, raramente chegava ao seu domicílio porque a polícia cercava-o no caminho e levava-o para o xadrez, onde repousava de quinze a trinta dias por vez”.

A repressão durante todo o governo Epitácio Pessoa foi brutal, com um sem número de deportações de militantes anarquistas, prisões, torturas e assassinatos, fechamentos de sindicatos e empastelamentos de jornais operários. Em outubro de 1920, a polícia dissolveu à bala uma passeata de trabalhadores na Avenida Rio Branco e, não satisfeita, novamente assaltou a sede da UOCC, ferindo 5 trabalhadores, prendendo 28 e, posteriormente, deportando 8 destes[11].

O movimento operário sentiu os golpes, e declinou a partir de 1921. Os sindicatos “amarelos” e “cooperativistas” se fortaleceram rapidamente, e passaram a disputar a hegemonia de diversas categorias com os sindicatos revolucionários. Entre os anarquistas, desmoronaram as esperanças na Revolução Russa, com a chegada das notícias sobre a repressão bolchevique, notadamente o massacre de Kronstadt, em março de 1921.

Em 16 março de 1922, nove dias antes da fundação do Partido Comunista, a UOCC publicou o documento Refutando as afirmações mentirozas do Grupo Comunista, declarando sua incompatibilidade com os “comunistas de estado”[12]. Este importante manifesto certamente teve a participação de Domingos Passos. Este, como outros militantes da Construção Civil foram, por toda a década de 1920, os oponentes mais ferrenhos e intransigentes da doutrina bolchevista, encarnando a consciência crítica e, em determinados aspectos, punitiva, dos quadros comunistas.

“Na Rússia, onde alguns membros do partido Communista, entronizados no poder, exercem a ditadura em nome do proletariado, estão sendo perseguidos, encarcerados e mortos todos os revolucionários da esquerda, mormente os combatentes anarquistas. Se é a obra de tal partido que os do Grupo Communista propagam e pretendem realizar, outra não pode ser a atitude da Construcção Civil, senão a de opozição à ditadura, e aos seus ditadores”.[13]

Em julho de 1922, no rastro do esmagamento da revolta dos tenentes do Forte Copacabana, a repressão fechou o jornal O Trabalho, órgão da UOCC, do qual Passos foi assíduo colaborador. Um novo bastião dos anarquistas na imprensa ficou a cargo de outro militante da Construção Civil, o carpinteiro e jornalista português José Marques da Costa, redator da Secção Trabalhista do jornal A Pátria.

Em 1923, continuamente perseguido pela polícia, Domingos Passos afastou-se da Comissão Executiva da UOCC e passou a se dedicar à propaganda e à organização federativa, tendo viajado duas vezes ao Estado do Paraná[14] para colaborar com sindicatos de resistência locais. Durante todo o primeiro semestre deste ano foi um dos principais articuladores da refundação da Federação Operária do Rio de Janeiro (FORJ), já que a FTRJ, sob o controle dos bolchevistas, agonizava e, cada vez mais, aproximava-se taticamente da Confederação Sindicalista Cooperativista Brasileira (CSCB), entidade que congregava desde sindicatos colaboracionistas até instituições reacionárias como a Liga de Defesa Nacional e o Centro Industrial do Brasil[15]. Quando a FORJ reapareceu, em 19 de agosto de 1923, Passos foi eleito para o Comitê Federal[16].

Assim como José Oiticica, Carlos Dias e Fábio Luz, Domingos Passos era freqüentemente convidado para conferências nas sedes sindicais. Também participava ativamente dos festivais operários, atuando nas peças teatrais organizadas pelo Grupo Renovação, declamando e palestrando sobre temas sociais. Certamente, foram esses festivais alguns dos poucos momentos de lazer que Passos usufruiu em sua vida de rapaz trabalhador e ativista sindical.

A FORJ, refundada por seis associações de classe (Construção Civil, Sapateiros, Tanoeiros, Carpinteiros Navais, Gastronômicos e o Sindicato de Ofícios Vários de Marechal Hermes), até meados de 1924 teve a adesão de mais cinco categorias importantes: Fundidores, Ladrilheiros, Ferradores, Metalúrgicos e Operários em Pedreiras. O sindicalismo revolucionário, a despeito da repressão estatal e das manobras bolchevistas, se fortalecia sob a orientação da FORJ, que organizava uma conferência intersindical e planejava para aquele ano o 4o Congresso Operário Brasileiro.

E é por isso, simplesmente por isso que dia a dia os trabalhadores vão abandonando os embusteiros, enveredando pelo caminho da organização operaria, não para fortalecer nenhum partido “socialista” ou burguez, e sim para fortalecerem a si mesmos, nos seus organismos de resistencia e de combate as explorações da sociedade actual.

Quando a organização operaria tiver attingido ao apogeu almejado, uma das suas principaes preocupações é a de atirar por terra não só o partido “socialista” (dito Communista) como todos os partidos.

Não é de partidos que precizamos. Os partidos são cacos e os cacos só tem uma utilidade: a de encher as “garys” e ir aterrar a Sapucaia[17].

Precizamos é de “inteiros” e estes só se conseguem com a “organização syndicalista revolucionaria”, que une, que eleva, que constroe.”[18]

Em julho de 1924, todo esse afã organizacional foi ceifado pela repressão que se seguiu à nova revolta dos tenentes, agora em São Paulo. As sedes sindicais foram invadidas e fechadas, centenas de anarquistas encarcerados e muitos deles deportados, entre estes Marques da Costa e Antônio Vaz. Domingos Passos foi um dos primeiros a serem presos e, após 20 dias de sofrimentos na Polícia Central[19], foi recolhido ao navio-prisão Campos, fundeado na Baía de Guanabara. Sua permanência por 3 meses na embarcação caracterizou-se por momentos de profunda privação e constrangimento. Transferido para o navio Comandante Vasconcellos[20], enfrentou mais 22 dias de suplícios junto a outras centenas de cativos (anarquistas, soldados e sub-oficiais sediciosos, ladrões, malandros, cáftens, imigrantes pobres e mendigos), inaugurando em dezembro de 1924[21] a fase prisional da Colônia Agrícola de Clevelândia, o “Inferno Verde” do Oiapoque, no atual Estado do Amapá.

Após alguns meses nessa “Sibéria Tropical”, onde os maus tratos e as doenças dizimaram centenas de homens, Domingos Passos conseguiu fugir para Saint George, na Guiana Francesa. Entretanto, as febres adquiridas na selva o obrigaram à buscar medicamentos em Caiena, tendo sido acolhido fraternalmente por um créole, que o ajudou a recuperar as forças[22]. Da Guiana, seguiu para Belém do Pará, onde permaneceu por algum tempo amparado pela solidariedade ativa do proletariado organizado daquela capital.

Domingos Passos estava entre os que retornaram ao Distrito Federal após o estado de sítio imposto por quase todos os quatro anos do governo de Arthur Bernardes (1923/1926). Ao chegar ao Rio de Janeiro, no início de 1927, retornou ao ativismo sindical, mesmo sofrendo das seqüelas do impaludismo, contraído no Oiapoque. Nesse mesmo ano, mudou-se para São Paulo, onde atuou na reorganização da Federação Operária local (FOSP) e na articulação do Comitê de Agitação Pró-Liberdade de Sacco e Vanzetti[23] ,criado no início de 1926, tendo ainda participado do 4o Congresso Operário do Rio Grande do Sul, realizado em Porto Alegre.

Em agosto de 1927 foi preso durante um meeting pró-Sacco e Vanzetti no Largo do Brás, e levado à temida “Bastilha do Cambucí”, onde permaneceu por 40 dias sujeito à toda sorte de maus tratos. Solto, saiu de São Paulo em direção ao Sul do país, perseguido em todos os cantos, conseguindo chegar a Pelotas, onde foi preso e embarcado à força em um navio para Santos[24]. Ao chegar nessa cidade, conseguiu fugir e voltar a São Paulo, vivendo oculto por algum tempo até que, em fevereiro de 1928, foi preso juntamente com o operário sapateiro Affonso Festa[25].

Segundo Pedro Catallo[26], por ordem do delegado Hibraim Nobre, Passos foi deixado incomunicável por mais de três meses em um cubículo de 2 m2 da “Bastilha do Cambuci”, escuro e sem janelas, recebendo alimentação apenas uma vez por dia. Ao ser retirado da cela imunda, tinha o corpo coberto de feridas e vestia apenas trapos. Foi embarcado em um trem e enviado para morrer nas matas da região de Sengés, no interior ainda selvagem do Estado do Paraná. Algum tempo depois, conseguiu abrigo neste povoado e pôde escrever para os camaradas de São Paulo solicitando dinheiro, que foi-lhe levado em mãos por um emissário.

Aí terminou a trajetória conhecida deste que foi um dos mais influentes e respeitados ativistas do anarquismo e do sindicalismo revolucionário de seu tempo. Nunca mais se teve qualquer notícia dele, apenas boatos esporádicos e nunca confirmados.

Não foi à toa que Domingos Passos ganhou de seus contemporâneos a alcunha de “Bakunin Brasileiro”. Poucos como ele se entregaram de tal forma ao Ideal e sofreram tanto as conseqüências dessa dedicação à luta pela emancipação dos homens e mulheres. Durante apenas uma década, em grande parte passada nas prisões e nas selvas tropicais, Passos tornou-se a grande referência de militância libertária e social de seu tempo…e do nosso também!

Nossos passos seguirão os seus, Passos!

Referências

1 A Pátria, Secção Trabalhista, 16/03/1923 (Seção de Periódicos, Biblioteca Nacional).

2 “Memórias” manuscritas de Pedro Catallo in Edgar Rodrigues. Os Companheiros 2. VJR Editores Associados Ltda. Rio de Janeiro, 1995.

3 Ibidem.

4 Leal, Juvenal. Histórico da União dos Operários em Construcção Civil (18 de março de 1917 a 31 de dezembro de 1919). Edição da União dos Operários em Construcção Civil, 1920. pgs. 10-12 (Acervo da Biblioteca Social Fábio Luz, também disponível no site http://www.insurgentes.nodo50.org).

5 Ibidem. pg.. 16

6 Ibidem. pg. 24.

7 Ibidem. pg. 28.

8 Rodrigues, Edgar. Nacionalismo & Cultura Social (1913-1922). Laemmert, 1972, p.307.

9 Ibidem. p. 314.

10 Rodrigues, Edgar. Os Companheiros 2, p. 26.

11 Rodrigues, Edgar. Nacionalismo & Cultura Social (1913-1922). p. 335-336.

12 UOCC .Refutando as afirmações mentirozas do Grupo Comunista. Edição da União dos Operários em Construcção Civil, 1922. (disponível no site http://www.insurgentes.nodo50.org).

13 Ibidem.

14 A Pátria, Secção Trabalhista, 08/07/1923.

15 Castro Gomes, Ângela. A Invenção do Trabalhismo. São Paulo: Vértice; Rio de Janeiro: IUPERJ, 1988, p. 160.

16 A Pátria, Secção Trabalhista, 18/10/1923.

17 A Sapucaia era o depósito de lixo da cidade, situado no bairro do Caju, às margens da Baía de Guanabara, hoje cortado pela Linha Vermelha.

18 Passos, Domingos. Em frente – Ao Partido Communista. A Pátria, Secção Trabalhista, 04/05/1924. (disponível no site http://www.insurgentes.nodo50.org).

19 A Plebe, 26/02/1927.

20 Samis, Alexandre. Clevelândia: Anarquismo, Sindicalismo e Repressão Política no Brasil. São Paulo: Ed. Imaginário; Rio de Janeiro: Achiamé, 2002, p. 194.

21 A Plebe, 12/03/1927.

22 A Plebe, 26/02/1927.

23 Rodrigues, Edgar. Novos Rumos (História do Movimento Operário e das Lutas Sociais no Brasil, 1922-1946). Rio de Janeiro, Edições Mundo Livre, 1978.

24 Panfleto “Trabalhadores Conscientes, Procurae saber o paradeiro de Domingos Passos” (1928). Arquivo Biblioteca Social Fábio Luz.

25 Rodrigues, Edgar. Novos Rumos. op. cit. p. 278.

26 Ibidem, p. 279.

Decrescimento ou barbárie!

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Entrevista especial com Serge Latouche

Fonte IHU – Instituto Humanitas Unisinos

“O consumo diminuirá em substância, enquanto seu valor continuará aumentando”, avalia o economista francês Serge Latouche, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, a crise financeira e o caos ambiental instalados no planeta farão o capitalismo reencontrar “a lógica de suas origens, ou seja, crescer às custas da sociedade”. Ao ser questionado sobre a possibilidade de conciliar crescimento econômico e sustentabilidade, ele é enfático: “Impossível. É preciso renunciar ao crescimento enquanto paradigma ou religião”.

Segundo ele, o PIB não pode mais crescer, e a “única possibilidade para escapar ao pauperismo” é “retornar aos elementos fundamentais do socialismo”.

Serge Latouche, além de economista, é sociólogo, antropólogo, professor de Ciências Econômicas na Universidade de Paris-Sul e presidente da Associação Linha do Horizonte. É doutor em Filosofia, pela Université de Lille III, e em Ciências Econômicas, pela Université de Paris, diplomado em Estudos Superiores em Ciências Políticas, pela Université de Paris, e diretor de pesquisas. Entre suas publicações, citamos, La déraison de la raison économique (Paris: Albin Michel, 2001),  Justice sans limites – Le défi de l’éthique dans une économie mondialisée. (Paris: Fayard, 2003) e La pensée créative contre l’économie de l’absurde. (Paris: Parangon, 2003)

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Em que sentido o decrescimento pode ser uma alternativa ao caos financeiro, do meio ambiente e do atual modelo econômico?

Serge Latouche – Se proclamarmos que o crash financeiro desencadeado pelo abuso dos subprimes é uma boa coisa, então, embora ele seja o iniciador de uma crise bancária e econômica que corre o risco de ser longa, profunda e talvez mortal para o sistema, podemos ser taxados de provocação. No entanto, para os opositores do crescimento, esta crise constitui o sinal anunciador do fim de um pesadelo.
Não se trata, por certo, de negar que esta crise irá atingir com o desemprego milhões de pessoas e gerar sofrimentos para os deserdados do Norte e do Sul. Porém, e acima de tudo, o decrescimento escolhido não é o decrescimento sofrido. O projeto de uma sociedade de decrescimento é radicalmente diferente do crescimento negativo, aquele que agora já conhecemos. O primeiro é comparável a uma cura de austeridade empreendida voluntariamente para melhorar o próprio bem-estar, quando o hiperconsumo vem nos ameaçar pela obesidade. O segundo é a dieta forçada, podendo levar à morte pela fome. Nós o dissemos e repetimos bastantes vezes. Não há nada pior do que uma sociedade de crescimento sem crescimento. Sabe-se que a simples desaceleração do crescimento mergulha nossas sociedades no descontrole, em razão do desemprego, do aumento do abismo que separa ricos e pobres, dos atentados ao poder de compra dos mais desprovidos e do abandono dos programas sociais, sanitários, educacionais, culturais e ambientais que asseguram um mínimo de qualidade de vida. Pode-se imaginar que enorme catástrofe pode originar uma taxa de crescimento negativo. Esta regressão social e civilizatória é precisamente o que nos espreita, se não mudarmos de trajetória.

IHU On-Line – Como manter o equilíbrio entre crescimento econômico e meio ambiente?

Serge Latouche – Impossível. É preciso renunciar ao crescimento enquanto paradigma ou religião.

IHU On-Line – Quais são os limites e as possibilidades de criar uma economia nova, mais sustentável? Quais seriam os seus princípios?

Serge Latouche – Hoje em dia, a festa acabou: já não há mais margens de manobra. A torta, isto é, o produto interno bruto, não pode mais crescer. Mais ainda (e nós o sabemos muito bem há longo tempo, embora nos recusemos a admiti-lo), a economia não deve crescer. A única possibilidade para escapar ao pauperismo, tanto no Norte como no Sul, é a de retornar aos elementos fundamentais do socialismo, mas sem esquecer, desta vez, a natureza: repartir o bolo de maneira equitativa. Ele era trinta a cinquenta vezes menor em 1848 e, no entanto Marx, mas também John Stuart Mill, já pensavam que o problema não era o volume da torta, mas sua injusta repartição! Como, crescendo, a torta se tornou cada vez mais tóxica – as taxas de crescimento da frustração, seguindo a fórmula de Ivan Illich, excedendo amplamente as da produção –, era inevitavelmente necessário modificar a receita. Inventamos, então, uma bela torta com produtos biológicos, de uma dimensão razoável para que nossos filhos e nossos netos pudessem continuar a produzi-la, e a compartilhamos equitativamente. As partes não serão talvez muito grandes para nos tornar obesos, mas a alegria estará no encontro marcado. Com outras palavras, ela nos oferece a oportunidade de construir uma sociedade ecossocialista e mais democrática. Tal é o programa do decrescimento, única receita para sair positiva e duradouramente da crise de civilização em que vivemos.

IHU On-Line – Como conciliar crescimento e decrescimento numa mesma sociedade?

Serge Latouche – Uma lógica de crescimento e um projeto de decrescimento são incompatíveis, mas o projeto de decrescimento visa fazer crescer a alegria de viver, restaurando a qualidade de vida (um ar mais sadio, água potável, menos estresse, mais lazer, relações sociais mais ricas etc.).

IHU On-Line – Alguns especialistas dizem que, com a crise internacional, a economia de muitos países irá desacelerar. Este processo poderá apresentar soluções concretas para o Planeta, ou, ao contrário, a desaceleração representa um processo negativo?

Serge Latouche – As duas opções são possíveis. Infelizmente, nem a crise econômica e financeira nem o fim do petróleo são necessariamente o fim do capitalismo, nem mesmo da sociedade de crescimento. O decrescimento só é viável numa “sociedade de decrescimento”, isto é, no quadro de um sistema que se situa sobre outra lógica. A alternativa é, por conseguinte, esta: decrescimento ou barbárie! Uma economia capitalista ainda poderia funcionar com uma grande escassez dos recursos naturais, um desregramento climático, o desmoronamento da biodiversidade etc. É a parte de verdade dos defensores do desenvolvimento durável, do crescimento verde e do capitalismo do imaterial. As empresas (pelo menos algumas) podem continuar a crescer, a ver sua cifra de negócios aumentar, bem como seus lucros, enquanto as fomes, as pandemias, as guerras exterminariam nove décimos da humanidade. Os recursos, sempre mais raros, aumentariam mais que proporcionalmente de valor. A rarefação do petróleo não prejudica, bem ao contrário, a saúde das firmas petroleiras. Se isso não vale da mesma forma para a pesca, existem substitutivos para o peixe, cujo preço não pode crescer na proporção de sua raridade. O consumo diminuirá em substância, enquanto seu valor continuará aumentando. O capitalismo reencontrará a lógica de suas origens, ou seja, crescer às custas da sociedade.

IHU On-Line – Qual é a marca socioecológica do Planeta? Já existe um déficit ecológico?

Serge Latouche – E como! Mais de 40%, segundo os últimos dados disponíveis. Nosso sobre-crescimento econômico se furta aos limites da finitude da biosfera. A capacidade regeneradora da Terra já não consegue mais seguir a demanda: o homem transforma os recursos em rejeitos mais rapidamente do que a natureza consegue transformar esses rejeitos em novos recursos (1).

Se tomarmos como índice do “peso” ambiental de nosso modo de vida sua “pegada” ecológica em superfície terrestre ou espaço bioprodutivo necessário, obtém-se resultados insustentáveis, tanto do ponto de vista da equidade nos direitos de extração da natureza quanto do ponto de vista da capacidade de carga da biosfera. O espaço disponível sobre o planeta Terra é limitado. Ele representa 51 bilhões de hectares.

Todavia, o espaço “bioprodutivo”, ou seja, útil para a nossa reprodução, é apenas uma fração do total, ou seja, em torno de 12 bilhões de hectares (2). Dividido pela população mundial atual, isso dá aproximadamente 1,8 hectares por pessoa. Tomando em conta as necessidades de materiais e de energia, aqueles que são necessários para absorver dejetos e rejeitos da produção e do consumo (cada vez que queimamos um litro de essência, nós necessitamos de cinco metros quadrados de floresta durante um ano para absorver o CO2!) e acrescentando a isso o impacto do habitat e das infraestruturas necessárias, os pesquisadores que trabalham para o Instituto californiano “Redifining Progress” [Redefinindo o progresso] e para o World Wild Fund (WWF) calcularam que o espaço bioprodutivo consumido por pessoa da humanidade era de 2,2 hectares na média.

Os homens já deixaram, portanto, a vereda de um modo de civilização durável que necessitaria limitar-se a 1,8 hectares, admitindo que a população atual permaneça estável. Desde já vivemos, portanto, a crédito. Além disso, este empreendimento médio oculta muito grandes disparidades. Um cidadão dos Estados Unidos consome 9,6 hectares, um canadense 7,2, um europeu 4,5, um francês 5,26, um italiano 3,8.

Mesmo havendo grandes diferenças no espaço bioprodutivo disponível em cada país, estamos bem longe da igualdade planetária. (2) Cada americano consome em média em torno de 90 toneladas de materiais naturais diversos, um alemão 80, um italiano 50 (ou seja, 137 kg por dia). Em outros termos, a humanidade já consome perto de 40% mais que a capacidade de regeneração da biosfera. Se todo o mundo vivesse como nós franceses, seriam necessários três planetas, e precisaríamos de seis para seguir nossos amigos americanos. Mesmo o Brasil já ultrapassa (em torno de 15%) a cifra sustentável.

Notas:

1.- WWF, Rapport planète vivant [Relatório planeta vivo] 2006, p. 2.
2.- Um hectare de pasto permanente, por exemplo, é considerado como equivalente a 0,48 ha de espaço bioprodutivo e, para uma zona de pesca, 0,36. Wackemagel, Mathis, O nosso planeta se está exaurindo. In: Economia e Ambiente. O desafio do terceiro milênio. EMI, Bolonha 2005. (Nota do entrevistado)
3.- Gianfranco Bologna (org.), Itália capaz de futuro. WWF-EMI, Bolonha, 2001, pp. 86-88. (Nota do entrevistado)

Ferreira de Castro, Anarco-Sindicalista e Precursor do Neo-Realismo em Portugal

foto: Ferreira de Castro com Roberto Nobre, esplanada da «Veneza», Lisboa, década de 1930 (aqui)

foto: Ferreira de Castro com Roberto Nobre, esplanada da «Veneza», Lisboa, década de 1930

Postado no Portal Anarquista, ex-Colectivo de Évora
Fonte: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2014/12/09/ferreira-de-castro-anarco-sindicalista-e-precursor-do-neo-realismo-em-portugal/

O escritor Ferreira de Castro, nascido em Ossela (Oliveira de Azeméis) a 24 de Maio de 1898 e falecido no Porto a 29 de Junho de 1974, foi o grande precursor e introdutor do neo-realismo em Portugal. Colaborador de “A Batalha” e de vários órgãos da imprensa operária e generalista portuguesa e brasileira, Ferreira de Castro foi para o Brasil, com apenas 12 anos, para fugir à miséria em Portugal

Durante quatro anos viveu num seringal em plena selva amazónica, tendo depois efectuado os mais diversos trabalhos em condições de grande precariedade.

Mais tarde em Portugal foi redactor e colaborador de várias publicações, destacando-se sempre a sua forte ligação ao mundo do trabalho e à luta pela construção de uma nova sociedade.

Livros como Emigrantes (1928), A Selva (1930), Eternidade (1933), O Intervalo (1936) – publicado em 1974 – A Lã e a Neve (1947),  A Curva na Estrada (1950), A Missão (1954) ouOs Fragmentos (1974) demonstram o seu apego aos valores fundamentais da liberdade, característicos do seu pensamento libertário, profundamente ancorado no anarco-sindicalismo, de que são exemplo muitas das suas reportagens (algumas nunca publicadas devido à censura) junto dos mineiros de São Domingos ou nas greves andaluzas no início da década de 30.

Emigrante, homem do jornalismo, mas sobretudo ficcionista, Ferreira de Castro é hoje em dia, ainda, um dos autores portugueses com maior obra traduzida em todo o mundo, podendo-se incluir a sua obra na categoria de literatura universal moderna, precursora e introdutora do neo-realismo em Portugal (que se irá tornar “moda” a partir dos anos 50, em muitos escritores alinhados com o partido comunista), com uma escrita caracteristicamente identificada com a intervenção social e ideológica.

FerreiraDeCastro-escritórioSobre Ferreira de Castro escreve o também escritor, ensaísta e crítico literário Eugénio Lisboa, na introdução que fez ao livro de Ricardo António Alves “Anarquismo e neo-realismo. Ferreira de Castro nas encruzilhadas do século”:

«(…) Como Régio, como Aquilino, o autor de A Lã e a Neve foi uma personalidade de uma insubordinável independência, ainda quando aparentemente suavizada por uma fraterna doçura que todavia não se deixava vergar. Oposicionista intemerato ao regime de Salazar, Ferreira de Castro não cedeu nunca, por outro lado – pecado difícil de digerir – ao canto da sereia dos adeptos do partido comunista ou suas adjacências. Anarco-sindicalista convicto, Castro, como admiravelmente documenta Ricardo Alves, neste seu livro precioso, abria-se de modo exemplar, nas suas amizades, a um vasto espectro de outras tendências, mas não abdicava do seu singular ideal libertário. Rejeitando quase instintivamente tudo quanto lhe parecesse atentado à liberdade, tudo quanto «cheirasse» a «demasiado governo», o criador do negro Tiago de A Selva dificilmente se deixaria subjugar por ideários políticos que, no fundo, visavam substituir uma forma de opressão por outra forma de opressão. Isto mesmo, que o deveria tornar um verdadeiro ícon para os que dizem amar a liberdade, terá sido a causa submarina de algum desleixo crítico, de outro modo menos explicável.”»

O último livro de Ferreira de Castro (“Fragmentos”, de 1974) inclui dois textos fundamentais para a história do anarco-sindicalismo em Portugal. O primeiro (“Historial da velha mina”) é um texto sobre uma reportagem efectuada por Ferreira de Castro para O Século, a convite do sindicato dos trabalhadores mineiros de São Domingos, então federado na CGT anarco-sindicalista, tendo como pretexto as duras condições de vida dos mineiros em finais dos anos 20.  Ferreira de Castro esteve em São Domingos, contactou com o célebre dirigente do sindicato mineiro de então, Valentim Adolfo João, mas a reportagem nunca foi publicada por pressões da administração da Mina.

O outro é “O Intervalo”, uma novela escrita em 1936, mas só publicada em 1974, cujo protagonista principal é um antigo secretário-geral da CGT, Alexandre Novais, que é perseguido pela polícia e é obrigado a refugiar-se em Espanha. Ali movimenta-se nos meios anarquistas e da CNT dando conta da ebulição revolucionária que anos depois irá desembocar na revolução e na guerra civil espanholas.

São dois textos notáveis, como a maioria dos textos deste grande escritor libertário, essenciais para a compreensão das motivações e da atmosfera de grande luta e radicalismo que desde sempre envolveu o anarquismo peninsular.

http://ferreiradecastro.blogspot.pt/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferreira_de_Castro

http://www.museuvirtual.cm-sintra.pt/mfc/colecoes.html

http://www.ceferreiradecastro.org

os-fragmentos-ferreira-de-castro

Chamado Internacional de Solidariedade axs Presxs da Copa, via CNA-PoA

lib

Fonte: https://cnapoa.wordpress.com/2014/12/04/chamado-internacional-de-solidariedade-axs-presxs-da-copa/


Retiramos de CNARIO

Chamado internacional para ações de solidariedade xs presxs da Copa

No dia 12 de julho, na véspera da final da Copa do Mundo, a Polícia do Rio de Janeiro prendeu 19 ativistas, visando desarticular o grande protesto marcado para o dia da final, sob a justificativa de que elxs teriam participado de atos “violentos” nas revoltas do ano passado e de que estariam planejando outras ações na manifestação da final da Copa do Mundo. No total 23 mandados de busca e apreensão e de prisão temporária foram cumpridos contra pessoas acusadas de participar de movimentos sociais, os mandatos eram de 5 dias de prisão preventiva, 4 pessoas conseguiram escapar do sequestro da policia.

Xs ativistas foram levados à Cidade da Policia no Rio de Janeiro, um grande complexo de delegacias construído para dar conta da repressão àquelxs que contestam os mega-eventos e a lógica da cidade mercado. Nesse grande complexo se encontra a DRCI, Delegacia de Repressão aos crimes de Informática, que desempenha atualmente o papel da histórica Delegacia de Ordem Política e Social, a famigerada DOPS criada em 1924 para reprimir xs anarquistas, utilizada principalmente durante o Estado Novo e mais tarde no Regime Militar de 1964, com o objetivo de controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder. Em seguida foram todxs encaminhadxs para o complexo penitenciário de Bangu.

Alguns dias depois foi concedido um habeas corpus que libertou 18 dos ativistas que estavam presxs. Logo em seguida, a justiça decretou novamente a prisão dessas 18 pessoas, que no entanto escaparam e permaneceram foragidxs. Camila, Igor Pereira e Elisa (Sininho) continuaram presxs por volta de 10 dias, quando foi concedida liberdade provisória à todxs, menos para Caio Silva e Fábio, presos em janeiro deste ano acusados de homicídio. Xs ativistas passam por um momento difícil de criminalização e perseguição, mesmo esperando julgamento em liberdade, não podem deixar a cidade nem participar de manifestações e aglomerações públicas. Nesse mês de dezembro, Igor Mendes foi preso novamente e mais 2 compas ficaram foragidxs, acusadxs de descumprirem a ordem judicial e terem participado de um ato público pacífico no último 15 de outubro, representando, segundo a justiça, uma ameaça a ordem pública. Mais prisões podem surgir a qualquer momento e os julgamentos que acontecem ao longo dos próximos meses ainda pode levá-los a condenação. A Polícia afirmou que as prisões são baseadas em investigações que vem ocorrendo em segredo de justiça desde Setembro de 2013 contra a Frente Independente Popular (FIP), black blocs e outros grupos de ativistas, acusados de formação de quadrilha. A metodologia da polícia é o monitoramento, e a quebra do sigilo e da privacidade das pessoas. Xs 23 militantes são indiciados por uma extensa e absurda lista de infrações que vão desde quadrilha armada, até porte de explosivo, depredação de patrimônio público e privado, resistência e lesão corporal, e corrupção de menores.

O estado que fez mais presas e presos políticos no Rio pra que pudesse ocorrer uma partida futebol é o mesmo estado que fecha escolas, que mata nas favelas e que fez a Copa. Com essas prisoes o Estado brasileiro escreveu mais uma página em sua história, foi o dia em que todas as máscaras caíram, nem só a do Estado, mas também de partidos e grupos que o querem como ele é, que participam dessa tal democracia, dessa tal representatividade parlamentar. Neste dia o Estado disse com todas as letras “GUERRA CONTRA O POVO”, não de forma subliminar, mas pra quem quisesse ouvir. Nas favelas já se sabe disso há muito tempo, as marchas de junho/julho de 2013 também tentaram avisar, mas dessa vez foi em horário nobre e com todas as letras. Onde toda a população viu que o mesmo Estado que cria as leis às rompe quando bem entende, assim como sempre fez com a população pobre e negra durante toda a história de genocídios do Estado brasileiro.

Convidamos à todxs a organizar ações em solidariedade xs presxs da Copa em sua cidade. Não podemos nos calar diante da terrorismo de Estado do governo brasileiro e da ditadura da FIFA. Todos sabem da importância das revoltas em massa que ocorreram no Brasil desde junho de 2013 até agora, pois foram um marco na história desse povo, um momento de ruptura com as estruturas vigentes, um grito de basta para diversas opressões e violências históricas contra o povo. As forças de repressão querem a todo custo conter a indignação da população amedrontando xs ativistxs por meio da perseguição, querem retomar o controle e conformar as pessoas à voltarem a miséria da vida cotidiana e para isso estão dispostas a jogar na cadeia todxs aquelxs que não recuarem nessa luta. Nossxs companheirxs precisam de todo o apoio para vencermos mais essa batalha e se manterem nas ruas, nas assembleias e na mobilização popular.

Nenhum passo atrás! Ninguém fica pra trás! Pelo fim imediato das perseguições!

Dezembro de 2014,

Cruz Negra Anarquista – Rio de Janeiro

“Das celas de Atenas ao México, das ruas de Ferguson a Istambul e às terras livres de Kobanê, o desejo de um mundo novo espalha-se como uma inundação”

“Uma modesta expressão de solidariedade a Nikos Romanos, a partir de Tampere, Finlândia”

“Uma modesta expressão de solidariedade a Nikos Romanos, a partir de Tampere, Finlândia”

Neste dezembro tem acontecido manifestações mundiais de solidariedade com Nikós Romanós, o qual está preso na Grécia e em greve de fome há 29 dias pelo direito de liberdade e de estudar em uma universidade, direito este que foi negado pelas autoridades, o que o fez iniciar a greve de fome. Além de solidariedade para com Alexis, seu compa que foi morto em dezembro de 2006 por policiais, por causa de sua resistência e luta por liberdade; em 2013, Nikós foi preso por “expropriação de uma agência bancária”.

Manifestações na Grécia mesmo, em Madrid, Finlândia, Berlim, Istambul, …

Os coletivos Ação Revolucionária Anarquista(DAF), Ação Anarquista dos Liceus (LAF), Juventude Anarquista, Mulheres Anarquistas, MAKI e TAÇANKA fizeram um comunicado publicado no ContraInfo:

Comunicado

Hoje, com toda a raiva de que a vida se apodera contra os poderes, com a convicção num mundo livre, as bandeiras negras são desfraldadas em todo o mundo. Contra as empresas que exploram o nosso trabalho para lucrar mais; contra os Estados que assassinam muitos de nós em nome das fronteiras que forjaram; contra todos os poderes que enchem os seus bolsos com as nossas vidas por eles destruídas, tornando-nos mais pobres e fazendo os ricos ainda mais ricos; a rebelião está viva na raiva do anarquismo. A raiva contra os patrões, empresas, assassinos e estados, está-se a propagar em pleno dilúvio através das bandeiras negras. O ressentimento de ser negligenciadx, desaparecidx e assassinadx está-se a transformar em raiva e as ruas estão a arder por toda a parte.

Há exatamente seis anos no bairro Exarchia de Atenas, Alexandros Grigoropoulos foi morto aos 16 anos, porque era um anarquista. Morto por um bófia, pela  bala da sua arma, porque tinha transformado a sua cólera em rebelião e saído para a rua a apelar à vingança pelas vidas que tinham sido tomadas, porque não obedeceu aos poderes e resistiu a todo o custo, pela liberdade. No dia 6 de Dezembro de 2008, a bala que atingiu Alexis foi transformada no fogo da rebelião nas ruas.

Embora os assassinos tivessem continuado os seus ataques, a raiva contra aqueles que silenciaram um coração que batia pela liberdade incendiou as ruas de Atenas, Tessalónica, Istambul e em todo o lado.

Nikos Romanos, que estava com Alexis no dia em que aquele foi morto e compartilhava com ele a convicção de um mundo livre, está agora em cativeiro, porque é um anarquista. Romanos está cativo, porque não permaneceu em silêncio contra a injustiça, porque não desistiu, apesar da opressão do Estado, porque com a mesma convicção que a de seu companheiro assassinado continuou a sua luta contra os poderes. Aqueles que pensavam que podiam parar essa luta, matando Alexis, agora capturaram Nikos, esperando com isso parar mais um daqueles corações que batem para o anarquismo. Tal como em 2008, as ruas estão cheias de raiva contra o Estado, que continua a atacar Romanos através do isolamento, opressão e tortura. Enquanto Romanos mantém uma greve de fome desde 10 de Novembro, outros companheiros anarquistas ne prisão também iniciaram uma greve de fome de solidariedade; e a mesma voz ecoou nas ruas ardentes e nas celas dos prisioneiros resistentes: “Enquanto respirarmos e vivermos, que viva a anarquia!”

Os poderes que assassinaram Alexis em 2008 e que mantêm em cativeiro Nikos hoje, pensam que podem ignorar a crescente raiva contra a injustiça no mundo. Continuam a aprisionar, atacar e matar com base nessa ilusão.

No México, 43 estudantes que resistiram à política dos poderes que suprimem o seu futuro, desapareceram às mãos do Estado. Os seus corpos foram encontrados em valas comuns, vários dias depois. Apenas por serem negras, as pessoas são visadas pela repressão fascista de poder e tornam-se alvos das balas da polícia; e aquelxs que resistem à prisão são estranguladxs e assassinadxs pela polícia. Muitos de nossos irmãos, como Berkin, Ethem Ali, Ahmet resistiram pelas suas vidas e foram mortos pelo Estado policial. Enquanto aquelas e aqueles que resistem em Kobanê, para criar uma nova vida, como Arin, como Suphi Nejat, como Kader, são mortos pelos bandos, militares e soldados do Estado, aqueles e aquelas que estão nas ruas, em todos os cantos da região, abraçando a resistência de Kobanê, como Hakan, como Mahsun são alvejadxs pela polícia assassina do mesmo Estado…

Onde quer que se encontrem aquelxs que lutam contra a injustiça, que resistem para retomar as suas vidas, que lutam pela sua liberdade, estando nas ruas, há luta contra a opressão, tortura e morte. Os opressores pensam que podem desencorajar aquelxs que não obedeçam, encerrando-xs, removendo-xs ou matando-xs; um grito de liberdade nalgum lugar encontra eco em todas as direções. Das celas de Atenas ao México, das ruas de Ferguson a Istambul e às terras livres de Kobanê, o desejo de um mundo novo espalha-se como uma inundação. Agora, esta paixão pela liberdade está a crescer; a raiva contra os assassinatos alimenta o fogo da revolta nos corações

Esta revolta é dirigida contra o poder que rouba as nossas vidas, que procura destruir a nossa liberdade, que nos mata. Esta revolta é dirigida contra o capitalismo e do Estado. Esta revolta é dirigida contra todas as formas de cativeiro.

Com esta revolta pela liberdade nos nossos corações, o anarquismo está a crescer em toda a parte do mundo. E a nossa luta está a aumentar, de um canto ao outro do mundo, transportada pelas ondas de bandeiras negras.

Viva a Revolução, viva a anarquia!

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E mais, “Carta do grevista de fome Yannis Michailidis, no hospital (4/12)”, também de ContraInfo

O companheiro Yannis Michailidis encontra-se em greve de fome desde  17 de Novembro, como forma de solidariedade com o seu companheiro e irmão Nikos Romanos. Atualmente Yannis encontra-se internado sob forte escolta policial no hospital Tzaneio, no Pireu. Segue-se a tradução da sua carta mais recente (4 de Dezembro):

Escrevo estas linhas para expressar a emoção que me provocou a ampla e multiforme mobilização solidária realizada pelxs companheirxs, fora dos muros. Essa mobilização está a superar todas as minhas expectativas, tanto a nível de tamanho, de criatividade, de organização – coordenação como em persistência e agressividade, com ocupações de edifícios estatais e capitalistas de importância crucial, de canais de televisão e rádios, com concentrações e marchas organizadas em quase todas as grandes cidades do território, com ataques às forças repressivas e ataques guerrilheiros de todo o tipo. Porque é o que vence a saudade na minha cela e me faz sorrir, porque na noite de terça-feira não estava preso, encontrava-me entre vocês e sentia o calor das barricadas a arder.Porque seja qual for o resultado, a mera existência desta frente de luta é uma vitória em si mesma, tanto pela sua perspectiva imediata como pelo legado que deixa.

Sei muito bem que xs milhares de companheirxs que se implicaram nesta batalha – iniciada por Nikos – com muitas preocupações mas também com muita determinação, possuem enormes diferenças nas suas percepções e práticas de luta, tanto entre elxs, como também connosco. Mas através da diversidade floresce o crescimento. É este, exactamente, o significado da solidariedade anarquista, conecta sem identificar, une sem homogeneizar. E quando está orientada à ação funciona.

Quando os meios de engano massivo exclamam já que existe um problema de segurança nacional enquanto durar a greve de fome, dou-me conta de que não há luta perdida – o vazio deixado pelos pensamentos destroçados do desespero, provocado pela inércia prolongada da condição asfixiante da prisão, cobre-se de significado outra vez –   a insurreição está sempre a tempo.

Os nossos sonhos serão os seus pesadelos.

A anarquia combativa despertou e ruge.

Nada acabou, tudo começa agora.

SOLIDARIEDADE COM XS DETIDXS DO 2 DE DEZEMBRO

Para Nikos: Aguenta irmão, Fodestes-lhes muito bem a festa, até ao momento. Tu não te rendas, assim serão elxs os que não aguentarão mais . Ficarei a teu lado até à vitória final.

Para Athanasiou, ministro da justiça: Tenho muita fome. Se assassinares Nikos, a única coisa que poderá satisfazer a minha fome é o teu pescoço.

Yannis Michailidis

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Abaixo, fotos retiradas do site ContraInfo de manifestações em vários lugares:

“Solidariedade com Nikos Romanos, em greve de fome desde 10 de Novembro. Os nossos sonhos tornar-se-ão os seus pesadelos”

“Solidariedade com Nikos Romanos, em greve de fome desde 10 de Novembro. Os nossos sonhos tornar-se-ão os seus pesadelos”

“Liberdade para Romanos – Viva o anarquismo – Ação Revolucionária Anarquista (DAF)”

“Liberdade para Romanos – Viva o anarquismo – Ação Revolucionária Anarquista (DAF)”

 

Solidariedade urgente com o compa em greve de fome, em risco de morte – 12h – Praça Housey – LIBERDADE PARA NIKOS ROMANOS

Solidariedade urgente com o compa em greve de fome, em risco de morte – 12h – Praça Housey – LIBERDADE PARA NIKOS ROMANOS

"Turquia: Sabotagem em Istambul em solidariedade com Nikos Romanos"

“Turquia: Sabotagem em Istambul em solidariedade com Nikos Romanos”

Grécia – Manifestações Massivas de Solidariedade com o Anarquista Nikós Romanós, em Greve de Fome Há Mais de Três Semanas

Postado em 4 de Dezembro de 2014 no Portal Anarquista, Ex-Colectivo Libertário de Évora.
Fonte: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2014/12/04/grecia-manifestacoes-massivas-de-solidariedade-com-o-anarquista-nikos-romanos-em-greve-de-fome-ha-mais-de-3-semanas/

Milhares de pessoas encheram as ruas de Atenas na terça-feira à tarde (2 de dezembro) numa onda de protestos. Aproximadamente 10.000 pessoas participaram na manifestação de solidariedade com a luta do grevista de fome Nikos Romanós. Nikos está há 23 dias (hoje há 25 dias) em greve de fome, exigindo o seu direito de saída da prisão por razões educativas, conforme previsto na legislação relativa às permissões de saídas dos presos que são estudantes. Este direito é negado pelo regime Democrático, que não tem o menor escrúpulo em violar as suas próprias leis.

Em solidariedade com a sua luta estão em greve de fome três outros presos: Giannis Mijailidis há 15 dias, e André-Demetrio Burzukos e Demetrio Politis há dois dias. Em 28 de novembro, Heracles Kostaris, o outro preso-estudante a quem o Regime nega o direito de obter permissão de saída por razões educativas, terminou a sua greve de fome de 22 dias.

Esta foi uma das manifestações mais massivas de solidariedade na história do movimento contestatário no território do Estado grego. De acordo com as nossas estimativas e as de outros companheiros e mídias contrainformativos, o número de participantes na marcha oscilou entre 9.000 e 10.000. A faixa da cabeça da marcha dizia: “Grande força (alento) até à morte do Estado e do Capital”. A marcha esteve protegida em todo o percurso por grupos de manifestantes, a fim de evitar provocações por parte de policias uniformizados ou à paisana.

Os manifestantes reuniram-se na praça de Monastiraki, perto do bairro turístico de Atenas, onde várias faixa foram desfraldadas, entre elas uma que dizia: “A nossa revolta derrotará o medo”. A seguir os manifestantes marcharam até a praça principal de Sintagma (Constituição), onde está localizado o Parlamento, e depois para o Propileos da velha Universidade. Alguns manifestantes foram para a antiga Escola Politécnica, no bairro vizinho de Exarchia.

Quando a marcha entrou no bairro de Exarchia, dirigindo-se para a Escola Politécnica, eclodiram confrontos entre manifestantes e policiais. Estes grupos de manifestantes quebraram alguns multibancos, queimaram contentores de lixo e um conjunto de carros. Quase ao mesmo tempo foram erguidas barricadas e incendiados carros  e um autocarro fora do recinto da Escola Politécnica, onde haviam chegado vários dos manifestantes da marcha que ainda não tinha terminado.

De imediato começaram novos confrontos junto à Escola Politécnica. A Polícia não hesitou em atirar granadas para aturdir e gás lacrimogéneo no interior do recinto da Escola Politécnica, onde se refugiaram alguns dos manifestantes.

Manifestações de solidariedade com a luta de Nikos Romanós também foram realizadas nas cidades de Tessalônica, Patras, Canea, Heraclión, Rethimno, Agrinio, Mitilini, Esparta, Nauplia e Lixuri. Em todas as cidades as manifestações foram massivas, ainda que algumas delas se tenham realizado debaixo de chuva.

Adaptado daqui: http://verba-volant.info/pt/milhares-de-manifestantes-encheram-as-ruas-de-atenas-em-solidariedade-com-a-luta-do-grevista-de-fome-nikos-romanos

 

 

Dias de Ação Global rumo ao Primeiro Festival Mundial de Resistência e Rebeldias contra o Capitalismo

Poster-accion-global

 

Fontehttp://enlacezapatista.ezln.org.mx/2014/12/07/dias-de-accion-global-rumbo-al-primer-festival-mundial-de-las-resistencias-y-las-rebeldias-contra-el-capitalismo/
Tradução livre de Talita Rauber.

Convidamos vocês a participar dos dias de ação global para difundir toda a informação referente ao Primeiro Festival Mundial de Resistências e Rebeldias contra o Capitalismo.

Unam-se para panfletar, twittar, compartilhar, postar, pintar, conversar, grafitar, perifonear¹, brigadear² e transmitir a informação referente ao Festival, participem desta ação dias 8 e 15 de dezembro durante 24 h cada dia. Apropriem-se do espaço público e das frequências³.

Nas redes sociais, usem as hashtags: #festivalryr #rumboalfestival

Busquem por informação na página www.espejo30.org, achem no Facebook Espejo30 e no twitter@FestivalRyR

Sua participação é importante para difundir o Festival.

Notas de tradução:
¹ – perifonear: usar carros de som nas ruas.
² – brigadear: literalmente, é “formar brigada”, entretanto, por neologismos, surgiu o verbo “brigadear”, que quer dizer “Informar o que não informam os meios de comunicação, o que está oculto e que está por trás dessa manipulação da informação”, fonte aqui.
³ – frequências: referente a rádios.