Anarquia ou Barbárie

Identidade Fluida

Anarquia ou Barbárie

12 de dezembro: Trabalhadores, não escravos – Que a Greve Geral seja realmente geral

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Tradução e Fonte: FARJ

Comunicado da Federação dos Comunistas Anarquistas (FdCA), organização anarquista da Itália, sobre a Greve Geral ocorrida dia 12 de dezembro


Comunicado original: http://www.fdca.it/sindacale/2014/12dicembre.htm

12 DE DEZEMBRO: TRABALHADORES, NÃO ESCRAVOS  QUE A GREVE GERAL SEJA REALMENTE GERAL

Depois de 2 meses de greves e manifestações que culminaram com a greve social do 14 de novembro, o ciclo de lutas contra o Jobs Act, lei de estabilidade, destrava-Itália e Boa escola, chegaram a um ponto importante com a greve do 12 de dezembro decretada pela Confederação Geral do Trabalho Italiana (CGIL) com a adesão da União Italiana do Trabalho (UIL). Mesmo levando em conta fatores condizentes como o confronto entre a direção do Partido Democrático e direção da CGIL, da resposta desta última à tentativa de deslegitimação do maior sindicato italiano por parte do governo, esta greve esta para assumir a importância de grandes acontecimentos históricos do proletariado italiano. De fato este é um dos períodos mais difíceis das ultimas décadas para os trabalhadores, aos quais o ataque do capital e do governo na Itália respondem às exigências do grande capital e da oligarquia financeira que detém o comando no mundo inteiro.

O domínio totalitário do mundo financeiro gerou um dos últimos ataques à condição de vida dos trabalhadores e as decisões do Governo Renzi estão aí para demonstrar a total fidelidade aos dogmas do liberalismo mais autoritário. O “Jobs Act” é mais um, e não último, dos ataques que a casta patronal está desencadeando contra os trabalhadores, com o cancelamento de direitos e conquistas em anos de lutas. A necessidade para os patrões de sufocar o trabalho de cada sindicato que não se curve às suas exigências de concorrência capitalista, a chantagem do posto de trabalho num mar de desempregados e de empregados pobres fazem com que se desencadeie em todos os lugares a guerra entre pobres, aquela concorrência entre explorados que é a verdadeira razão do nascimento das formas sindicais.

Por isso hoje a Greve Geral pode ser realmente Geral, que doa a Governo e Patrões, que revele finalmente o próprio objetivo político e cultural. Uma greve que não tenha nada de autorreferencial e que tenha que responder à violência do ataque às condições proletárias com forte hipoteca sobre a possibilidade dos trabalhadores de se organizarem coletivamente no futuro próximo, tem de ser uma greve que reivindique aquele mesmo direito de greve, que em vários lugares tenta-se fazer passar por um privilégio entre os tantos possuídos pelos trabalhadores.

Uma greve que tem de ser uma etapa de uma ação sindical européia, que ultrapasse as contradições itálicas para chegar ao coração do monstro, às políticas econômicas do Banco Central Europeu (BCE) e da oligarquia financeira que continua a nomear governos fiéis em toda Europa.

Uma jornada, aquela do dia 12, que deve encher-se pela oposição social às politicas liberais, às ilusões governistas sustentadas pela mídia sempre disposta à colaboração com a direita politica, sempre dispostos a inventá-la para o prazer de eleitores distraídos.

Para não cair nas alternativas da direita liberal é importante reconquistar as praças e ruas com uma oposição difusa, feita de comportamentos e de escolhas corajosas. Uma greve para ressaltar que a solidariedade de classe é para nós fundamental e que estamos dispostos sempre a reconstruí-la sobre as ruínas do enfrentamento com o capital, reagindo à crescente repressão que atinge os operários como aqueles que lutam pelo direito à moradia, à água, à saúde e à escola pública, os precários como aqueles que lutam contra as grandes obras inúteis e contra os tratados internacionais sobre as mercadorias.

Hoje está em jogo a sobrevivência da defesa coletiva dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras e não só, diante de escolhas políticas que tentam nos desarmar para segregar-nos num futuro de escravos, impotentes de reagir à violência das políticas dos patrões. Hoje na praça temos que estar em muitos se queremos mudar a marca de políticas autoritárias de uma Europa que procura seu espaço imperialista através da compressão social.

Nós comunistas-anarquistas e libertários, estaremos com aqueles que combatem este projeto. Se o espaço europeu é o nosso espaço mínimo, que seja território de solidariedade e de justiça social.

ALTERNATIVA LIBERTÁRIA/FdCA

Uma visita à Assembleia Popular da Cinelândia

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Assembleia Popular 09.10.13 foto de Leila Hol

 

Por Samuel Victor

Ao final das tardes de quarta-feira já é comum encontrar nas escadarias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro os integrantes da Assembleia Popular da Cinelândia. A aparente normalidade do ato se desmente nos passos desacelerados dos transeuntes que vem ou vão do trabalho, e nos olhares curiosos sobre as pessoas nas escadarias e sobre a insistente faixa negra que chama à reunião que deve começar logo mais às 19hs no centro da praça.

A Assembleia Popular da Cinelândia surgiu como resposta à desocupação do Ocupa Câmara e à prisão de 70 ativistas, no dia 15 de outubro do ano passado, num ato bárbaro da polícia militar e do governo do estado em que detiveram 200 pessoas e destruíram toda a estrutura da ocupação, pondo fim à resistência que durava mais de 2 meses. Após se recuperarem do ocorrido, os ativistas se reorganizaram e decidiram continuar com as reuniões que já realizavam na ocupação, mas agora sob o formato da Assembleia Popular da Cinelândia. Continuariam, assim, ocupando a Cinelândia, fazendo frente à política corrupta e autoritária com a política combativa, horizontal e popular. Mas também criariam, sem deixar de lado a atividade política, uma forma de se proteger que consistiria na própria organização da assembleia.

Nas noites de quarta, militantes de diversos coletivos ou independentes, indivíduos de diferentes ideologias se reúnem na praça para discutir problemas e ações políticas na cidade. A assembleia não é um coletivo, nem espaço próprio de um coletivo. Sua forma fluida e descentralizada garante em certa medida a segurança dos ativistas das garras do Estado que a todo o momento tenta criminalizar o movimento das ruas e criar falsas acusações de organização criminosa. Se perguntar a algum integrante mais ativo nas reuniões sobre a organização da assembleia, ele te responderá que ela nasce toda quarta à noite e se dissolve ao final da mesma noite. As reuniões se dividem normalmente em três partes: informes, propostas e deliberações. Elas seguem sem liderança, sem hierarquia, com regras decididas pelo conjunto dos participantes da assembleia. O espaço é aberto e preza pelo empoderamento popular, podendo, inicialmente, qualquer um trazer propostas para ser abraçada ou não pelo consenso daqueles presentes no dia. Algumas reuniões podem até mesmo ser temáticas.

Nessa linha de ação a Assembleia Popular construiu suas lutas desde a desocupação do Ocupa Câmara. Como não poderia deixar de ser, os temas principais dos encontros no início foram a criminalização dos movimentos sociais e a luta pelo direito ao transporte. A assembleia apoiou a construção de atos, além de servir de espaço para debates. O transporte público acabou por ser um ponto forte nos encontros iniciais, inclusive com a organização conjunta com o MPL do Rio e de Niterói do 1º Ato Contra o Aumento da Passagem, no final de 2013.

Desde então a assembleia participou em diversas lutas, como a dos atos contra a Copa, pela libertação de Rafael Braga Vieira e contra a farsa eleitoral. Hoje os lutadores sociais que resistem na Cinelândia têm dedicado seus esforços também na luta por justiça no caso da morte da Ana Carolina, jovem que morreu vitimada pelo descaso no atendimento da UNIMED quando sofria uma crise de apendicite, esperando 24h para ser atendida. A luta é por justiça para a família de Ana Carolina e de denúncia das relações corruptas na saúde que vitimam a população.

A Assembleia Popular da Cinelândia continua resistindo contra a tirania do Estado.

*Esse relato foi construído a partir de considerações de alguns ativistas que participam atualmente da Assembleia Popular da Cinelândia e dos documentos que podem ser visualizados no grupo da assembleia no Facebook. Sendo assim ele não representa posição geral da Assembleia Popular, mesmo que tenha sido consenso a permissão para que o relato fosse escrito pelo autor do mesmo, que decidiu pedir permissão para fazê-lo.

México: El Rebozo, uma cooperativa autogestionada

Fonte: : Agência de Notícias Anarquistas, em 12 de dezembro de 2014.

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A p r e s e n t a ç ã o:

El Rebozo, somos uma cooperativa autogestionada que caminha com xs que creem e fazem outra política/outra cultura em seu andar.

Associar-se em liberdade. Criar novas relações de convivência e resistência.

Somos COOPERATIVA para refletir a natureza de nossas relações, baseadas no consenso e o fazer coletivo entre nós e apoio mútuo com companheirxs de outros espaços organizados.

Carregando o futuro, caminhando o presente.

El Rebozo, porque é uma ferramenta artesanal e cotidiana que tem muitos usos. Tecido que se pendura em nossas costas, nos protege do frio e da chuva, com ele se carregam sonhos, tradições e a própria vida. El rebozo, se usa para curar feridas e até de mortalha para enterrar a nossos mortos.

Autogestionar as lutas. Organizar e fixar-nos em comunidade.

Rechaçamos o trabalho assalariado e as relações de dependência e alienação que este constrói. Por isto decidimos recuperar a capacidade de sustentar nossas vidas e nossas lutas, reapropriando-nos da possibilidade de dirigi-las até onde decidirmos. Da mesma maneira nos enredamos com outros projetos autônomos tecendo relações de intercâmbio e reciprocidade que ampliam nossa resistência.

Vemos a autogestão como um passo necessário para a construção de autonomia.

Aprender coletivamente. Compartilhar saberes, multiplicar e amplificá-los.

Rechaçamos a escola como único espaço obrigatório para preparar-se para a vida. A desescolarização para nós implica romper com a forma mental, de fazer individual e de relacionar-nos que aprendemos nas instituições educativas capitalistas. Des-aprender e re-aprender, se é possível ludicamente, o que nos é verdadeiramente útil para viver e converter-nos em uma pequena comunidade de aprendizagem móvel e aberta, onde compartimos novas maneiras de criar e fazer as coisas juntxs de maneira convivial.

Irromper desde a inquietude. Rebelar-se/Revelar-se. Criar novas relações de convivência e resistência. Desafiar, subverter, transformar, desprender, iniciar.

Somos aderentes à Sexta Declaração da Selva Lacandona do EZLN: pensamos que nenhuma mostra de dignidade pode vir de cima, de onde os poderosos só distribuem desprezo, despojo, exploração e repressão. Por isso nos somamos aos esforços ativos na reconstrução da sociedade desde baixo através da organização e da prática de novas relações sociais. Não queremos relações baseadas sobre a imposição do poder, do saque, da exploração, da violência e o individualismo, quer dizer, não queremos relações patriarcais.

Buscamos construir em nossa prática cotidiana relações baseadas sobre o respeito, a comunidade, o companheirismo e a autonomia. Em particular nos focamos em recuperar coletivamente a capacidade autônoma de analisar o mundo que vivemos e difundir ferramentas para esta análise. Por isso consideramos que El Rebozo é também um espaço político, tão só uma ferramenta mais para desmantelar o Estado e destruir o patriarcado e seus múltiplos sistemas (capitalista-neoliberal-financeiro).

Despertar imaginários, recuperar práticas, intercambiar experiências, soltar a palavra.

Nosso trabalho está focado na produção textual e gráfica e em sua difusão. Todo o material que produzimos e intercambiamos busca amplificar e nutrir as culturas em resistência e em construção de outro mundo, despertando imaginários para a recuperação de práticas ancestrais assim como para a criação de novas experiências organizativas. Cremos que o exercício de análise e reflexão é fundamental na hora de empreender caminhos alternativos ao que propõe o sistema, por isso tratamos de facilitar o aceso aos materiais que podem nos ajudar em nossas buscas, intercambiando com companheirxs de diferentes latitudes, no esforço de globalizar as lutas e as esperanças.

Vales Centrais de Oaxaca, México

Cooperativa El Rebozo

elrebozo.wordpress.com

Tradução: Sol de Abril

Decrescimento ou barbárie!

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Entrevista especial com Serge Latouche

Fonte IHU – Instituto Humanitas Unisinos

“O consumo diminuirá em substância, enquanto seu valor continuará aumentando”, avalia o economista francês Serge Latouche, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, a crise financeira e o caos ambiental instalados no planeta farão o capitalismo reencontrar “a lógica de suas origens, ou seja, crescer às custas da sociedade”. Ao ser questionado sobre a possibilidade de conciliar crescimento econômico e sustentabilidade, ele é enfático: “Impossível. É preciso renunciar ao crescimento enquanto paradigma ou religião”.

Segundo ele, o PIB não pode mais crescer, e a “única possibilidade para escapar ao pauperismo” é “retornar aos elementos fundamentais do socialismo”.

Serge Latouche, além de economista, é sociólogo, antropólogo, professor de Ciências Econômicas na Universidade de Paris-Sul e presidente da Associação Linha do Horizonte. É doutor em Filosofia, pela Université de Lille III, e em Ciências Econômicas, pela Université de Paris, diplomado em Estudos Superiores em Ciências Políticas, pela Université de Paris, e diretor de pesquisas. Entre suas publicações, citamos, La déraison de la raison économique (Paris: Albin Michel, 2001),  Justice sans limites – Le défi de l’éthique dans une économie mondialisée. (Paris: Fayard, 2003) e La pensée créative contre l’économie de l’absurde. (Paris: Parangon, 2003)

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Em que sentido o decrescimento pode ser uma alternativa ao caos financeiro, do meio ambiente e do atual modelo econômico?

Serge Latouche – Se proclamarmos que o crash financeiro desencadeado pelo abuso dos subprimes é uma boa coisa, então, embora ele seja o iniciador de uma crise bancária e econômica que corre o risco de ser longa, profunda e talvez mortal para o sistema, podemos ser taxados de provocação. No entanto, para os opositores do crescimento, esta crise constitui o sinal anunciador do fim de um pesadelo.
Não se trata, por certo, de negar que esta crise irá atingir com o desemprego milhões de pessoas e gerar sofrimentos para os deserdados do Norte e do Sul. Porém, e acima de tudo, o decrescimento escolhido não é o decrescimento sofrido. O projeto de uma sociedade de decrescimento é radicalmente diferente do crescimento negativo, aquele que agora já conhecemos. O primeiro é comparável a uma cura de austeridade empreendida voluntariamente para melhorar o próprio bem-estar, quando o hiperconsumo vem nos ameaçar pela obesidade. O segundo é a dieta forçada, podendo levar à morte pela fome. Nós o dissemos e repetimos bastantes vezes. Não há nada pior do que uma sociedade de crescimento sem crescimento. Sabe-se que a simples desaceleração do crescimento mergulha nossas sociedades no descontrole, em razão do desemprego, do aumento do abismo que separa ricos e pobres, dos atentados ao poder de compra dos mais desprovidos e do abandono dos programas sociais, sanitários, educacionais, culturais e ambientais que asseguram um mínimo de qualidade de vida. Pode-se imaginar que enorme catástrofe pode originar uma taxa de crescimento negativo. Esta regressão social e civilizatória é precisamente o que nos espreita, se não mudarmos de trajetória.

IHU On-Line – Como manter o equilíbrio entre crescimento econômico e meio ambiente?

Serge Latouche – Impossível. É preciso renunciar ao crescimento enquanto paradigma ou religião.

IHU On-Line – Quais são os limites e as possibilidades de criar uma economia nova, mais sustentável? Quais seriam os seus princípios?

Serge Latouche – Hoje em dia, a festa acabou: já não há mais margens de manobra. A torta, isto é, o produto interno bruto, não pode mais crescer. Mais ainda (e nós o sabemos muito bem há longo tempo, embora nos recusemos a admiti-lo), a economia não deve crescer. A única possibilidade para escapar ao pauperismo, tanto no Norte como no Sul, é a de retornar aos elementos fundamentais do socialismo, mas sem esquecer, desta vez, a natureza: repartir o bolo de maneira equitativa. Ele era trinta a cinquenta vezes menor em 1848 e, no entanto Marx, mas também John Stuart Mill, já pensavam que o problema não era o volume da torta, mas sua injusta repartição! Como, crescendo, a torta se tornou cada vez mais tóxica – as taxas de crescimento da frustração, seguindo a fórmula de Ivan Illich, excedendo amplamente as da produção –, era inevitavelmente necessário modificar a receita. Inventamos, então, uma bela torta com produtos biológicos, de uma dimensão razoável para que nossos filhos e nossos netos pudessem continuar a produzi-la, e a compartilhamos equitativamente. As partes não serão talvez muito grandes para nos tornar obesos, mas a alegria estará no encontro marcado. Com outras palavras, ela nos oferece a oportunidade de construir uma sociedade ecossocialista e mais democrática. Tal é o programa do decrescimento, única receita para sair positiva e duradouramente da crise de civilização em que vivemos.

IHU On-Line – Como conciliar crescimento e decrescimento numa mesma sociedade?

Serge Latouche – Uma lógica de crescimento e um projeto de decrescimento são incompatíveis, mas o projeto de decrescimento visa fazer crescer a alegria de viver, restaurando a qualidade de vida (um ar mais sadio, água potável, menos estresse, mais lazer, relações sociais mais ricas etc.).

IHU On-Line – Alguns especialistas dizem que, com a crise internacional, a economia de muitos países irá desacelerar. Este processo poderá apresentar soluções concretas para o Planeta, ou, ao contrário, a desaceleração representa um processo negativo?

Serge Latouche – As duas opções são possíveis. Infelizmente, nem a crise econômica e financeira nem o fim do petróleo são necessariamente o fim do capitalismo, nem mesmo da sociedade de crescimento. O decrescimento só é viável numa “sociedade de decrescimento”, isto é, no quadro de um sistema que se situa sobre outra lógica. A alternativa é, por conseguinte, esta: decrescimento ou barbárie! Uma economia capitalista ainda poderia funcionar com uma grande escassez dos recursos naturais, um desregramento climático, o desmoronamento da biodiversidade etc. É a parte de verdade dos defensores do desenvolvimento durável, do crescimento verde e do capitalismo do imaterial. As empresas (pelo menos algumas) podem continuar a crescer, a ver sua cifra de negócios aumentar, bem como seus lucros, enquanto as fomes, as pandemias, as guerras exterminariam nove décimos da humanidade. Os recursos, sempre mais raros, aumentariam mais que proporcionalmente de valor. A rarefação do petróleo não prejudica, bem ao contrário, a saúde das firmas petroleiras. Se isso não vale da mesma forma para a pesca, existem substitutivos para o peixe, cujo preço não pode crescer na proporção de sua raridade. O consumo diminuirá em substância, enquanto seu valor continuará aumentando. O capitalismo reencontrará a lógica de suas origens, ou seja, crescer às custas da sociedade.

IHU On-Line – Qual é a marca socioecológica do Planeta? Já existe um déficit ecológico?

Serge Latouche – E como! Mais de 40%, segundo os últimos dados disponíveis. Nosso sobre-crescimento econômico se furta aos limites da finitude da biosfera. A capacidade regeneradora da Terra já não consegue mais seguir a demanda: o homem transforma os recursos em rejeitos mais rapidamente do que a natureza consegue transformar esses rejeitos em novos recursos (1).

Se tomarmos como índice do “peso” ambiental de nosso modo de vida sua “pegada” ecológica em superfície terrestre ou espaço bioprodutivo necessário, obtém-se resultados insustentáveis, tanto do ponto de vista da equidade nos direitos de extração da natureza quanto do ponto de vista da capacidade de carga da biosfera. O espaço disponível sobre o planeta Terra é limitado. Ele representa 51 bilhões de hectares.

Todavia, o espaço “bioprodutivo”, ou seja, útil para a nossa reprodução, é apenas uma fração do total, ou seja, em torno de 12 bilhões de hectares (2). Dividido pela população mundial atual, isso dá aproximadamente 1,8 hectares por pessoa. Tomando em conta as necessidades de materiais e de energia, aqueles que são necessários para absorver dejetos e rejeitos da produção e do consumo (cada vez que queimamos um litro de essência, nós necessitamos de cinco metros quadrados de floresta durante um ano para absorver o CO2!) e acrescentando a isso o impacto do habitat e das infraestruturas necessárias, os pesquisadores que trabalham para o Instituto californiano “Redifining Progress” [Redefinindo o progresso] e para o World Wild Fund (WWF) calcularam que o espaço bioprodutivo consumido por pessoa da humanidade era de 2,2 hectares na média.

Os homens já deixaram, portanto, a vereda de um modo de civilização durável que necessitaria limitar-se a 1,8 hectares, admitindo que a população atual permaneça estável. Desde já vivemos, portanto, a crédito. Além disso, este empreendimento médio oculta muito grandes disparidades. Um cidadão dos Estados Unidos consome 9,6 hectares, um canadense 7,2, um europeu 4,5, um francês 5,26, um italiano 3,8.

Mesmo havendo grandes diferenças no espaço bioprodutivo disponível em cada país, estamos bem longe da igualdade planetária. (2) Cada americano consome em média em torno de 90 toneladas de materiais naturais diversos, um alemão 80, um italiano 50 (ou seja, 137 kg por dia). Em outros termos, a humanidade já consome perto de 40% mais que a capacidade de regeneração da biosfera. Se todo o mundo vivesse como nós franceses, seriam necessários três planetas, e precisaríamos de seis para seguir nossos amigos americanos. Mesmo o Brasil já ultrapassa (em torno de 15%) a cifra sustentável.

Notas:

1.- WWF, Rapport planète vivant [Relatório planeta vivo] 2006, p. 2.
2.- Um hectare de pasto permanente, por exemplo, é considerado como equivalente a 0,48 ha de espaço bioprodutivo e, para uma zona de pesca, 0,36. Wackemagel, Mathis, O nosso planeta se está exaurindo. In: Economia e Ambiente. O desafio do terceiro milênio. EMI, Bolonha 2005. (Nota do entrevistado)
3.- Gianfranco Bologna (org.), Itália capaz de futuro. WWF-EMI, Bolonha, 2001, pp. 86-88. (Nota do entrevistado)

Chamado Internacional de Solidariedade axs Presxs da Copa, via CNA-PoA

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Fonte: https://cnapoa.wordpress.com/2014/12/04/chamado-internacional-de-solidariedade-axs-presxs-da-copa/


Retiramos de CNARIO

Chamado internacional para ações de solidariedade xs presxs da Copa

No dia 12 de julho, na véspera da final da Copa do Mundo, a Polícia do Rio de Janeiro prendeu 19 ativistas, visando desarticular o grande protesto marcado para o dia da final, sob a justificativa de que elxs teriam participado de atos “violentos” nas revoltas do ano passado e de que estariam planejando outras ações na manifestação da final da Copa do Mundo. No total 23 mandados de busca e apreensão e de prisão temporária foram cumpridos contra pessoas acusadas de participar de movimentos sociais, os mandatos eram de 5 dias de prisão preventiva, 4 pessoas conseguiram escapar do sequestro da policia.

Xs ativistas foram levados à Cidade da Policia no Rio de Janeiro, um grande complexo de delegacias construído para dar conta da repressão àquelxs que contestam os mega-eventos e a lógica da cidade mercado. Nesse grande complexo se encontra a DRCI, Delegacia de Repressão aos crimes de Informática, que desempenha atualmente o papel da histórica Delegacia de Ordem Política e Social, a famigerada DOPS criada em 1924 para reprimir xs anarquistas, utilizada principalmente durante o Estado Novo e mais tarde no Regime Militar de 1964, com o objetivo de controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder. Em seguida foram todxs encaminhadxs para o complexo penitenciário de Bangu.

Alguns dias depois foi concedido um habeas corpus que libertou 18 dos ativistas que estavam presxs. Logo em seguida, a justiça decretou novamente a prisão dessas 18 pessoas, que no entanto escaparam e permaneceram foragidxs. Camila, Igor Pereira e Elisa (Sininho) continuaram presxs por volta de 10 dias, quando foi concedida liberdade provisória à todxs, menos para Caio Silva e Fábio, presos em janeiro deste ano acusados de homicídio. Xs ativistas passam por um momento difícil de criminalização e perseguição, mesmo esperando julgamento em liberdade, não podem deixar a cidade nem participar de manifestações e aglomerações públicas. Nesse mês de dezembro, Igor Mendes foi preso novamente e mais 2 compas ficaram foragidxs, acusadxs de descumprirem a ordem judicial e terem participado de um ato público pacífico no último 15 de outubro, representando, segundo a justiça, uma ameaça a ordem pública. Mais prisões podem surgir a qualquer momento e os julgamentos que acontecem ao longo dos próximos meses ainda pode levá-los a condenação. A Polícia afirmou que as prisões são baseadas em investigações que vem ocorrendo em segredo de justiça desde Setembro de 2013 contra a Frente Independente Popular (FIP), black blocs e outros grupos de ativistas, acusados de formação de quadrilha. A metodologia da polícia é o monitoramento, e a quebra do sigilo e da privacidade das pessoas. Xs 23 militantes são indiciados por uma extensa e absurda lista de infrações que vão desde quadrilha armada, até porte de explosivo, depredação de patrimônio público e privado, resistência e lesão corporal, e corrupção de menores.

O estado que fez mais presas e presos políticos no Rio pra que pudesse ocorrer uma partida futebol é o mesmo estado que fecha escolas, que mata nas favelas e que fez a Copa. Com essas prisoes o Estado brasileiro escreveu mais uma página em sua história, foi o dia em que todas as máscaras caíram, nem só a do Estado, mas também de partidos e grupos que o querem como ele é, que participam dessa tal democracia, dessa tal representatividade parlamentar. Neste dia o Estado disse com todas as letras “GUERRA CONTRA O POVO”, não de forma subliminar, mas pra quem quisesse ouvir. Nas favelas já se sabe disso há muito tempo, as marchas de junho/julho de 2013 também tentaram avisar, mas dessa vez foi em horário nobre e com todas as letras. Onde toda a população viu que o mesmo Estado que cria as leis às rompe quando bem entende, assim como sempre fez com a população pobre e negra durante toda a história de genocídios do Estado brasileiro.

Convidamos à todxs a organizar ações em solidariedade xs presxs da Copa em sua cidade. Não podemos nos calar diante da terrorismo de Estado do governo brasileiro e da ditadura da FIFA. Todos sabem da importância das revoltas em massa que ocorreram no Brasil desde junho de 2013 até agora, pois foram um marco na história desse povo, um momento de ruptura com as estruturas vigentes, um grito de basta para diversas opressões e violências históricas contra o povo. As forças de repressão querem a todo custo conter a indignação da população amedrontando xs ativistxs por meio da perseguição, querem retomar o controle e conformar as pessoas à voltarem a miséria da vida cotidiana e para isso estão dispostas a jogar na cadeia todxs aquelxs que não recuarem nessa luta. Nossxs companheirxs precisam de todo o apoio para vencermos mais essa batalha e se manterem nas ruas, nas assembleias e na mobilização popular.

Nenhum passo atrás! Ninguém fica pra trás! Pelo fim imediato das perseguições!

Dezembro de 2014,

Cruz Negra Anarquista – Rio de Janeiro

“Das celas de Atenas ao México, das ruas de Ferguson a Istambul e às terras livres de Kobanê, o desejo de um mundo novo espalha-se como uma inundação”

“Uma modesta expressão de solidariedade a Nikos Romanos, a partir de Tampere, Finlândia”

“Uma modesta expressão de solidariedade a Nikos Romanos, a partir de Tampere, Finlândia”

Neste dezembro tem acontecido manifestações mundiais de solidariedade com Nikós Romanós, o qual está preso na Grécia e em greve de fome há 29 dias pelo direito de liberdade e de estudar em uma universidade, direito este que foi negado pelas autoridades, o que o fez iniciar a greve de fome. Além de solidariedade para com Alexis, seu compa que foi morto em dezembro de 2006 por policiais, por causa de sua resistência e luta por liberdade; em 2013, Nikós foi preso por “expropriação de uma agência bancária”.

Manifestações na Grécia mesmo, em Madrid, Finlândia, Berlim, Istambul, …

Os coletivos Ação Revolucionária Anarquista(DAF), Ação Anarquista dos Liceus (LAF), Juventude Anarquista, Mulheres Anarquistas, MAKI e TAÇANKA fizeram um comunicado publicado no ContraInfo:

Comunicado

Hoje, com toda a raiva de que a vida se apodera contra os poderes, com a convicção num mundo livre, as bandeiras negras são desfraldadas em todo o mundo. Contra as empresas que exploram o nosso trabalho para lucrar mais; contra os Estados que assassinam muitos de nós em nome das fronteiras que forjaram; contra todos os poderes que enchem os seus bolsos com as nossas vidas por eles destruídas, tornando-nos mais pobres e fazendo os ricos ainda mais ricos; a rebelião está viva na raiva do anarquismo. A raiva contra os patrões, empresas, assassinos e estados, está-se a propagar em pleno dilúvio através das bandeiras negras. O ressentimento de ser negligenciadx, desaparecidx e assassinadx está-se a transformar em raiva e as ruas estão a arder por toda a parte.

Há exatamente seis anos no bairro Exarchia de Atenas, Alexandros Grigoropoulos foi morto aos 16 anos, porque era um anarquista. Morto por um bófia, pela  bala da sua arma, porque tinha transformado a sua cólera em rebelião e saído para a rua a apelar à vingança pelas vidas que tinham sido tomadas, porque não obedeceu aos poderes e resistiu a todo o custo, pela liberdade. No dia 6 de Dezembro de 2008, a bala que atingiu Alexis foi transformada no fogo da rebelião nas ruas.

Embora os assassinos tivessem continuado os seus ataques, a raiva contra aqueles que silenciaram um coração que batia pela liberdade incendiou as ruas de Atenas, Tessalónica, Istambul e em todo o lado.

Nikos Romanos, que estava com Alexis no dia em que aquele foi morto e compartilhava com ele a convicção de um mundo livre, está agora em cativeiro, porque é um anarquista. Romanos está cativo, porque não permaneceu em silêncio contra a injustiça, porque não desistiu, apesar da opressão do Estado, porque com a mesma convicção que a de seu companheiro assassinado continuou a sua luta contra os poderes. Aqueles que pensavam que podiam parar essa luta, matando Alexis, agora capturaram Nikos, esperando com isso parar mais um daqueles corações que batem para o anarquismo. Tal como em 2008, as ruas estão cheias de raiva contra o Estado, que continua a atacar Romanos através do isolamento, opressão e tortura. Enquanto Romanos mantém uma greve de fome desde 10 de Novembro, outros companheiros anarquistas ne prisão também iniciaram uma greve de fome de solidariedade; e a mesma voz ecoou nas ruas ardentes e nas celas dos prisioneiros resistentes: “Enquanto respirarmos e vivermos, que viva a anarquia!”

Os poderes que assassinaram Alexis em 2008 e que mantêm em cativeiro Nikos hoje, pensam que podem ignorar a crescente raiva contra a injustiça no mundo. Continuam a aprisionar, atacar e matar com base nessa ilusão.

No México, 43 estudantes que resistiram à política dos poderes que suprimem o seu futuro, desapareceram às mãos do Estado. Os seus corpos foram encontrados em valas comuns, vários dias depois. Apenas por serem negras, as pessoas são visadas pela repressão fascista de poder e tornam-se alvos das balas da polícia; e aquelxs que resistem à prisão são estranguladxs e assassinadxs pela polícia. Muitos de nossos irmãos, como Berkin, Ethem Ali, Ahmet resistiram pelas suas vidas e foram mortos pelo Estado policial. Enquanto aquelas e aqueles que resistem em Kobanê, para criar uma nova vida, como Arin, como Suphi Nejat, como Kader, são mortos pelos bandos, militares e soldados do Estado, aqueles e aquelas que estão nas ruas, em todos os cantos da região, abraçando a resistência de Kobanê, como Hakan, como Mahsun são alvejadxs pela polícia assassina do mesmo Estado…

Onde quer que se encontrem aquelxs que lutam contra a injustiça, que resistem para retomar as suas vidas, que lutam pela sua liberdade, estando nas ruas, há luta contra a opressão, tortura e morte. Os opressores pensam que podem desencorajar aquelxs que não obedeçam, encerrando-xs, removendo-xs ou matando-xs; um grito de liberdade nalgum lugar encontra eco em todas as direções. Das celas de Atenas ao México, das ruas de Ferguson a Istambul e às terras livres de Kobanê, o desejo de um mundo novo espalha-se como uma inundação. Agora, esta paixão pela liberdade está a crescer; a raiva contra os assassinatos alimenta o fogo da revolta nos corações

Esta revolta é dirigida contra o poder que rouba as nossas vidas, que procura destruir a nossa liberdade, que nos mata. Esta revolta é dirigida contra o capitalismo e do Estado. Esta revolta é dirigida contra todas as formas de cativeiro.

Com esta revolta pela liberdade nos nossos corações, o anarquismo está a crescer em toda a parte do mundo. E a nossa luta está a aumentar, de um canto ao outro do mundo, transportada pelas ondas de bandeiras negras.

Viva a Revolução, viva a anarquia!

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E mais, “Carta do grevista de fome Yannis Michailidis, no hospital (4/12)”, também de ContraInfo

O companheiro Yannis Michailidis encontra-se em greve de fome desde  17 de Novembro, como forma de solidariedade com o seu companheiro e irmão Nikos Romanos. Atualmente Yannis encontra-se internado sob forte escolta policial no hospital Tzaneio, no Pireu. Segue-se a tradução da sua carta mais recente (4 de Dezembro):

Escrevo estas linhas para expressar a emoção que me provocou a ampla e multiforme mobilização solidária realizada pelxs companheirxs, fora dos muros. Essa mobilização está a superar todas as minhas expectativas, tanto a nível de tamanho, de criatividade, de organização – coordenação como em persistência e agressividade, com ocupações de edifícios estatais e capitalistas de importância crucial, de canais de televisão e rádios, com concentrações e marchas organizadas em quase todas as grandes cidades do território, com ataques às forças repressivas e ataques guerrilheiros de todo o tipo. Porque é o que vence a saudade na minha cela e me faz sorrir, porque na noite de terça-feira não estava preso, encontrava-me entre vocês e sentia o calor das barricadas a arder.Porque seja qual for o resultado, a mera existência desta frente de luta é uma vitória em si mesma, tanto pela sua perspectiva imediata como pelo legado que deixa.

Sei muito bem que xs milhares de companheirxs que se implicaram nesta batalha – iniciada por Nikos – com muitas preocupações mas também com muita determinação, possuem enormes diferenças nas suas percepções e práticas de luta, tanto entre elxs, como também connosco. Mas através da diversidade floresce o crescimento. É este, exactamente, o significado da solidariedade anarquista, conecta sem identificar, une sem homogeneizar. E quando está orientada à ação funciona.

Quando os meios de engano massivo exclamam já que existe um problema de segurança nacional enquanto durar a greve de fome, dou-me conta de que não há luta perdida – o vazio deixado pelos pensamentos destroçados do desespero, provocado pela inércia prolongada da condição asfixiante da prisão, cobre-se de significado outra vez –   a insurreição está sempre a tempo.

Os nossos sonhos serão os seus pesadelos.

A anarquia combativa despertou e ruge.

Nada acabou, tudo começa agora.

SOLIDARIEDADE COM XS DETIDXS DO 2 DE DEZEMBRO

Para Nikos: Aguenta irmão, Fodestes-lhes muito bem a festa, até ao momento. Tu não te rendas, assim serão elxs os que não aguentarão mais . Ficarei a teu lado até à vitória final.

Para Athanasiou, ministro da justiça: Tenho muita fome. Se assassinares Nikos, a única coisa que poderá satisfazer a minha fome é o teu pescoço.

Yannis Michailidis

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Abaixo, fotos retiradas do site ContraInfo de manifestações em vários lugares:

“Solidariedade com Nikos Romanos, em greve de fome desde 10 de Novembro. Os nossos sonhos tornar-se-ão os seus pesadelos”

“Solidariedade com Nikos Romanos, em greve de fome desde 10 de Novembro. Os nossos sonhos tornar-se-ão os seus pesadelos”

“Liberdade para Romanos – Viva o anarquismo – Ação Revolucionária Anarquista (DAF)”

“Liberdade para Romanos – Viva o anarquismo – Ação Revolucionária Anarquista (DAF)”

 

Solidariedade urgente com o compa em greve de fome, em risco de morte – 12h – Praça Housey – LIBERDADE PARA NIKOS ROMANOS

Solidariedade urgente com o compa em greve de fome, em risco de morte – 12h – Praça Housey – LIBERDADE PARA NIKOS ROMANOS

"Turquia: Sabotagem em Istambul em solidariedade com Nikos Romanos"

“Turquia: Sabotagem em Istambul em solidariedade com Nikos Romanos”

Grécia – Manifestações Massivas de Solidariedade com o Anarquista Nikós Romanós, em Greve de Fome Há Mais de Três Semanas

Postado em 4 de Dezembro de 2014 no Portal Anarquista, Ex-Colectivo Libertário de Évora.
Fonte: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2014/12/04/grecia-manifestacoes-massivas-de-solidariedade-com-o-anarquista-nikos-romanos-em-greve-de-fome-ha-mais-de-3-semanas/

Milhares de pessoas encheram as ruas de Atenas na terça-feira à tarde (2 de dezembro) numa onda de protestos. Aproximadamente 10.000 pessoas participaram na manifestação de solidariedade com a luta do grevista de fome Nikos Romanós. Nikos está há 23 dias (hoje há 25 dias) em greve de fome, exigindo o seu direito de saída da prisão por razões educativas, conforme previsto na legislação relativa às permissões de saídas dos presos que são estudantes. Este direito é negado pelo regime Democrático, que não tem o menor escrúpulo em violar as suas próprias leis.

Em solidariedade com a sua luta estão em greve de fome três outros presos: Giannis Mijailidis há 15 dias, e André-Demetrio Burzukos e Demetrio Politis há dois dias. Em 28 de novembro, Heracles Kostaris, o outro preso-estudante a quem o Regime nega o direito de obter permissão de saída por razões educativas, terminou a sua greve de fome de 22 dias.

Esta foi uma das manifestações mais massivas de solidariedade na história do movimento contestatário no território do Estado grego. De acordo com as nossas estimativas e as de outros companheiros e mídias contrainformativos, o número de participantes na marcha oscilou entre 9.000 e 10.000. A faixa da cabeça da marcha dizia: “Grande força (alento) até à morte do Estado e do Capital”. A marcha esteve protegida em todo o percurso por grupos de manifestantes, a fim de evitar provocações por parte de policias uniformizados ou à paisana.

Os manifestantes reuniram-se na praça de Monastiraki, perto do bairro turístico de Atenas, onde várias faixa foram desfraldadas, entre elas uma que dizia: “A nossa revolta derrotará o medo”. A seguir os manifestantes marcharam até a praça principal de Sintagma (Constituição), onde está localizado o Parlamento, e depois para o Propileos da velha Universidade. Alguns manifestantes foram para a antiga Escola Politécnica, no bairro vizinho de Exarchia.

Quando a marcha entrou no bairro de Exarchia, dirigindo-se para a Escola Politécnica, eclodiram confrontos entre manifestantes e policiais. Estes grupos de manifestantes quebraram alguns multibancos, queimaram contentores de lixo e um conjunto de carros. Quase ao mesmo tempo foram erguidas barricadas e incendiados carros  e um autocarro fora do recinto da Escola Politécnica, onde haviam chegado vários dos manifestantes da marcha que ainda não tinha terminado.

De imediato começaram novos confrontos junto à Escola Politécnica. A Polícia não hesitou em atirar granadas para aturdir e gás lacrimogéneo no interior do recinto da Escola Politécnica, onde se refugiaram alguns dos manifestantes.

Manifestações de solidariedade com a luta de Nikos Romanós também foram realizadas nas cidades de Tessalônica, Patras, Canea, Heraclión, Rethimno, Agrinio, Mitilini, Esparta, Nauplia e Lixuri. Em todas as cidades as manifestações foram massivas, ainda que algumas delas se tenham realizado debaixo de chuva.

Adaptado daqui: http://verba-volant.info/pt/milhares-de-manifestantes-encheram-as-ruas-de-atenas-em-solidariedade-com-a-luta-do-grevista-de-fome-nikos-romanos

 

 

Entrevista com um comunista libertário ucraniano: “Os anarquistas se tornaram o maior obstáculo à anarquia”

Fonte: Aqui, postado pela FARJ – Federação Anarquista do Rio de Janeiro – Organização Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira, em 03/12/2014.

Entrevista com um comunista libertário ucraniano:
“Os anarquistas se tornaram o maior obstáculo à anarquia”

Donetsk, cidade no sudeste da Ucrânia é palco de confrontos entre separatistas pro russos e a população ucraniana. Um militante comunista libertário que lá vive e milita, nos deu alguns instrumentos para compreender quais são as forças presentes e as razões da letargia do movimento libertário.

Qual é a situação na Ucrânia?

A vida continua com duas realidades paralelas: as pessoas continuam com sua vida cotidiana, com as crianças ao redor, com o mesmo lugar dos mortos, da violência, do ódio. A divisão da sociedade se reforça a cada dia. É uma revolução política da burguesia nacional, em um contexto de guerra civil e de uma intervenção mal dissimulada da Rússia.

 

Qual é a composição social dos manifestantes do sudeste e dos de Maïdan?

Maïdan e os separatistas do sudeste não diferem muito um do outro. Os dois agrupam uma diversidade de classes sociais, intelectuais, empregadas(os), empresários, ruralistas, estudantes, lupemproletariado, antigos militares…Todos viraram reféns e marionetes dos clãs econômicos.

As pessoas de Maïdan colocaram no poder novas oligarquias e a gente do sudeste deixou de dormir por conta da família do presidente deposto Yanoukovitch e de seu mestre em Moscou. Toda essa retórica é perfumada pelo nacionalismo, como resultado das feridas sangrentas e da cólera durante décadas. Na realidade, o inimigo está no Kremlin, no Capitólio americano e no parlamento alemão. Os líderes de Maïdan assim como os líderes separatistas, são frações da burguesia nacional e de seus componentes radicais.

À leste, eles intimidam as pessoas com o partido de direita Pravyi Sektr (Setor de Direita), e lhes chamam ao combate do fascismo, mesmo que eles se inspirem no fascismo imperial da nação russa. Em Donetsk, segundo sua lógica, você pode escolher em ser russo ou ser um fascista. Em uma palavra, você está abatido ou está morto. Isso aconteceu em Maïdan e acontece agora no sudeste.

 

O que se pode dizer sobre o referendum do 11 de maio (1)?

É um referendum marcado por seus postos de votação sem observador e sob o olhar atento de pessoas disfarçadas. Foi uma farsa inscrita em uma estratégia visando criar repúblicas populares independentes, e depois pedir sua admissão na federação russa. Mas tem uma grande parte das pessoas de Donetsk e de sua região que são partidários de uma Ucrânia unida. Os separatistas são melhores organizados, têm os melhores recursos administrativos e o apoio do estado vizinho, isso é tudo.

 

Você acha que tem especialistas russos no sudeste?

Eu não acho, eu tenho certeza. E muitos dentre eles estão nas bases de treinamento nas regiões de Donetsk e Lugansk, onde grupos de 400 a 500 habitantes e voluntários da Rússia treinam sob a direção de instrutores militares (…) A maioria das pessoas que defendem a bandeira separatista são habitantes, trabalhadores ordinários ou veteranos das forças armadas. Mas um número significativo e que organiza o processo com autoridade, é formado por voluntários da Rússia. O fornecimento de armas e de dinheiro vem da Rússia. O chefe atual do governo em Donetsk, que se proclama “República Popular”, é Boroday. Estratégia desenhada pela administração do Kremlin.

 

Tem alguma possibilidade dos protestos se transformarem numa revolução social?

Neste momento, é um cenário improvável. Uma revolução social é possível unicamente na presença de dois fatores: uma demanda das massas por uma transformação radical e a organização política de viés revolucionário dos anarquistas, que será capaz de defender o processo de mudança.

Na realidade, não há nenhuma demanda por uma revolução social. A única mudança imaginada está no interior do quadro político. E mesmo esses tímidos rebentos de anti-autoritarismo que puderam se manifestar, se não forem sustentados por uma organização revolucionária e anti-autoritária forte, serão destruídos pela agenda política da burguesia e pelos partidos nacionalistas.

 

Quais são as perspectivas para os anarquistas no contexto atual?

O principal problema do movimento anarquista é a ausência de uma organização anarquista. Os anarquistas têm estado incapazes de usar a situação porque estão presos às ilusões anti-organizacionistas.

A organização é uma incubadora, uma escola, uma sociedade de apoio mútuo e uma plataforma produtiva para idéias e projetos; mas o mais importante, ela é um instrumento para a realização das idéias, um instrumento de influência e um instrumento de luta. Ela não pode ser substituída por grupos de afinidade.

Os anarquistas de hoje, como em 1917, perderam a oportunidade de serem influentes no processo. A RKAS (2) reivindicando o anarquismo plataformista de Makhno sobreviveu a muitas crises, se implicando na greve dos mineiros, e teve muitos projetos a longo prazo, mas que não foram sem desacordos e cisões internas.

A gente pode se lembrar da propaganda anti-eleitoral da cisão da RKAS, a Mezhdunarodnyj Souz Anarkhistov [3] em Donetsk. Os divisionistas argumentaram sobre o prentenso autoritarismo da RKAS. Uma vez liberados da “ditadura do escritório organizacional da RKAS”, que lhes fez ir às minas e usinas propagandear o jornal Anarquia, e discutir com os sindicatos e com as cooperativas, e construir uma “guarda negra” auto-disciplinada, eles mostraram suas capacidades estratégicas e ideológicas colando cartazes feitos à mão contendo a seguinte mensagem “Não vá às eleições, coma legumes”.

 Todas as tentativas para construir uma organização através do projeto RKAS deram lugar a uma cruzada contra “o autoritarismo e extremismo”. Finalmente os anarquistas se tornaram o maior obstáculo à anarquia. Eu recorro a esse paradoxo para chamar a sua atenção sobre esta velha doença “a anti-organizacão”, destruidora e irresponsável (…)Talvez a RKAS renasça se dando conta de todos os seus erros e se modernizando, talvez nós criaremos algo novo (…) Nós não a abandonaremos e nós não desapareceremos.

 

Em que você está engajado neste momento?

Infelizmente eu não posso lhe dizer tudo. Caso contrário, muita gente e eu mesmo teremos múltiplos problemas, e nós temos muitos projetos para o futuro. Oficialmente a RKAS foi dissolvida, mas seu núcleo se movimenta nas ações ilegais.

 

Este texto é um resumo, reformulado por Jacques Dubart, de uma entrevista com um mlitante da RKAS – Confederação Revolucionária dos Anarco-sindicalistas _ acessível sobre anarkismo.net, traduzido do texto publicado em inglês no 9 de agosto.

[1] Referendum de auto determinação, assim que Donetsk “pediu” sua anexação à Rússia.

[2] Confederação Sindical Anarquista Internacional.

[3] União Internacional dos Anarquistas.