Resenha: “From Bakunin to Lacan: Anarquismo Lacaniano e a Esquerda”

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Fonte: Literatura Anarquista

Resenha: Saul Newman, De Bakunin à Lacan: Anti-Autoritarismo e Deslocamento do Poder (Lexington Press).

1. O objetivo mais geral do novo livro de Saul Newman, From Bakunin to Lacan: Anti-Authoritarianism and the Dislocation of Power, é oferecer uma crítica ao modo pelo qual o poder, e especificamente o poder político, é comumente concebido. Ele evita a abordagem padrão a tais discussões que giram em torno de um abraço ou uma modificação de Marx, voltando-se, ao invés, à desprezada arena do anarquismo e articulando-a com pensadores atuais associados ao termo “pós-estruturalismo”. Newman argumenta que aquilo que ele chama de “local do poder”, a idéia de que os tratamentos dados ao poder parecem freqüentemente constrangê-lo conceitualmente a uma certa região ou tipo – com efeito, essencializando o poder numa categoria natural – não condiz com a verdadeira operação do poder. O poder, como tantos pensadores recentes argumentaram, é mais difuso e incircunscrito do que foram capazes de reconhecer os tratamentos progressistas tradicionais dados ao tema, especialmente o marxismo.

2. O livro se inicia com um tratamento do marxismo, mostrando que, para os marxistas, o local do poder é sempre na economia, e abordagens não-economicistas ao poder são desconsideradas. Aqui a discussão foca a idéia de que, desde que os marxistas freqüentemente pensaram o Estado como sendo determinado pelo poder econômico, não se embaraçaram em assumir o controle do Estado a fim de mudança nas relações econômicas. As conseqüências de tal pensamento, longamente criticado pelos anarquistas, manifestaram-se durante toda a história de nosso século.

3. Em contraste, o anarquismo vê acertadamente que o marxismo perdeu de vista o papel do poder de Estado nas relações sociais. Infelizmente, os anarquistas parecem querer colocar todo poder no nível do Estado, e assim simplesmente substituir um local de poder pelo outro. Ao seu ver, o Estado é o local do poder, e a resistência reside nos impulsos naturais de uma humanidade não-contaminada por tal poder. Elimine o estado, e as deletérias relações de poder cairão por si mesmas.

4. Nesse ponto, Newman volta-se, num interessante desvio das explicações padrão, ao anarquista Max Stirner, a fim de criticar o tipo de humanismo inerente ao pensamento de tantos outros anarquistas. Para Stirner, o humano não é um recurso natural de resistência não-contaminado, mas um local vazio, um projeto a ser realizado. Este projeto pode ser realizado igualmente por meios opressivos ou não-opressivos. A questão, então, é como conceber o poder e a resistência se nenhum deles encontra-se num local natural.

5. Michel Foucault começa esse processo através da análise dos meios polimorfos pelos quais opera o poder. Entretanto, vacila, pois, ao enxergar o poder em todo lugar, parece prescindir da possibilidade de conceitualizar a resistência sem retornar a um lugar externo e não-contaminado pelo poder. Esse lugar seria tão essencialista como aquele oferecido pelo anarquismo.

6. Deleuze e Guatarri, buscando novas categorias conceituais para o poder, minam a idéia de locais distintos para o poder e a resistência, especialmente com seu conceito de “máquina de guerra”. Entretanto, contrapondo o desejo ao social, acabam retornando à muitas categorias que sua obra pretende resistir.

7. Derrida, deslocando muito da estrutura oposicional que caracteriza o pensamento político (e outros), oferece uma abertura para re-conceber o poder e a resistência. Se o poder e a resistência estão entrelaçados a ponto de prescindir de uma separação em dois locais distintos, então um pensamento envolvendo categorias derrideanas, como differance e infra-estrutura, poderia ser mais apropriado para compreender esta operação. Derrida, entretanto, não oferece um tratamento ao sujeito da resistência, ao ator político.

8. Aqui, finalmente, Lacan, o verdadeiro herói de Newman neste livro, se torna relevante. Para Lacan, o poder contém sua própria falta. O significante é internamente fendido, permitindo que a resistência ocorra no poder e não fora dele. Se o sujeito lacaniano é incrustado no e resistente ao poder em sua estrutura mesma, então ambos poder e resistência existem sem locais distintos e essenciais, são dispersos e polimorfos, e podem ser pensados sem os problemas que caracterizaram os tratamentos dados de Marx à Deleuze e Guatarri. Um pensamento pós-anarquista, que leva a sério o impulso anti-autoritário do anarquismo, ao passo que se livra do tratamento humanista dado ao poder e a resistência, inicia-se a partir daqui.

9. Newman acredita que usando um framework lacaniano, também usado na obra de Ernesto Laclau, na sua discussão sobre a lógica do significante vazio, pode ao mesmo tempo abraçar uma ética da crítica e evitar qualquer caráter essencializante aos quais os termos da crítica poderiam prestar-se. Se isto soa como uma abordagem desconstrutiva de Derrida à linguagem, deveria. O que Newman busca fornecer é uma abordagem ao pensamento progressista que parte do anarquismo e do pós-estruturalismo, e não do marxismo, e vê nos impulsos por trás destes movimentos não só uma abordagem para conceber o poder, mas também, indissociavelmente, uma abordagem à linguagem.

10. Há diversos aspectos de From Bakunin to Lacan que particularmente o recomendam. Em primeiro, diferentemente de tantas explicações referentes aos citados pensadores, o livro é claro e coerente. As visões sumárias que fornece de filósofos tão difíceis como Lacan e Deleuze são ambas acuradas e legíveis. É uma virtude difícil de alcançar nesse tipo de trabalho. Em segundo, Newman afunilou uma vasta gama de visões num único programa de teoria política. Não se lê o livro como um conjunto de capítulos desconectados, mas como um movimento progressivo atravessando diversas visões em direção a uma abordagem teórica coerente em torno de uma concepção política. Finalmente, em contraste com minha própria obra, que focava Foucault, Deleuze e Lyotard em contraste a Derrida e Lacan, o livro de Newman busca articular um anarquismo alinhado a elementos desconstrutivos do pensamento francês atual.

11. A questão que resta para mim é se tal intento logrou êxito. Eu acredito que não, sobretudo pelas razões que, num primeiro momento, motivaram o meu afastamento de Derrida e Lacan. Não estou convencido de que utilizando uma abordagem desconstrutiva à linguagem e à política, haveria lugar para o tipo de ação coletiva que parece necessária ao sucesso político. A indeterminação, no meu entender, é uma base fraca para o pensamento e para a organização política. Ele tende a afastar as pessoas e não a juntá-las. Eu entendo que Newman põe em causa, e corretamente, que juntar também traz o risco de abraçar novamente conceitos essencializantes e formas autoritárias de poder. Para mim, parece que uma abordagem política adequada não pode se furtar a esse risco; sua tarefa é articular uma concepção de linguagem que enxergue o significado – e as categorias políticas que daí ascendem – como determinado, mas contingentemente, e não como necessariamente indeterminado. A escolha, em suma, me parece não residir unicamente entre a indeterminação derrideana/lacaniana (ou determinação sempre ameaçada) e uma determinação autoritária essencializante. Uma terceira possibilidade, e na minha opinião a mais acertada, seria a de uma determinação contingente, uma determinação que pode flutuar em volta das margens, ser criticada e alterada pela crítica genealógica ou outra crítica, mas que retenha seu poder de fornecer o tipo de margem ética que Newman busca (mas me parece não encontrar) em Derrida e Lacan.

12. Dito isto, recomendo altamente o livro a pesquisadores do pensamento progressista. Newman, para mim, parece estar correto em seu alvo, enxergando o anarquismo e não o marxismo como o ponto de partida apropriado para a teoria política progressista; e nisso, além do mais, seu trabalho está em consonância com a tendência atual dos movimentos anti-globalização ao redor do mundo. Se escolhemos finalmente Foucault/Deleuze/Lyotard ou Derrida/Lacan como herdeiros e modificadores do pensamento anarquista clássico, continua em aberto. Que Newman está fornecendo uma perspectiva interessante e original, enraizada no local certo, não pode ser negado.

Todd May é Professor de Filosofia na Clemson University. Escreveu consideravelmente sobre o pensamento de Michel Foucault e Gilles Deleuze. Seu quinto livro, Our Practices, Our Selves, Or, What it Means to be Human, foi recentemente publicado pela Penn State Press. Ele pode ser encontrado em mayt@clemson.edu

Fonte: Project Muse
http://muse.jhu.edu/login?uri=/journals/theory_and_event/v006/6.1may.html

May, Todd, 1955-
Lacanian Anarchism and the Left
Theory & Event – Volume 6, Issue 1, 2002

Nova colecção digital de textos sobre anarquismo

capturar14Fonte: Coletivo Libertário Évora

O projecto MOSCA (sobre o Movimento Social Crítico e Alternativo), sedeado na Universidade de Évora, editou um primeiro texto de uma nova colecção sobre anarquismo, em formato digital. Trata-se do texto de João Freire, ANARQUISMO E SOCIOLOGIA (2005), consistindo numa introdução sua a um debate organizado pelo Centro de Estudos Libertários naquela data, apenas ligeiramente retocado para a sua actual difusão. Cada uma das apresentações dos 4 “andamentos” foi seguida de debate com os circunstantes e suportada pela prévia distribuição de uns “textos de apoio”, a que se fazem algumas referências.

O texto encontra-se no arquivo do MOSCA e pode ser descarregado a partir desta ligação: http://mosca-servidor.xdi.uevora.pt/arquivo/index.php?p=digitallibrary%2Fdigitalcontent&id=1601&q=Jo%C3%A3o+Freire

[Reino Unido] Brighton: Crônica da manifestação em solidariedade com os presos no estado espanhol

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Fonte: ANA – Agência de Notícias Anarquistas

No domingo, 12 de abril, aproximadamente 40 pessoas participaram de um protesto contra a repressão na Espanha. A manifestação aconteceu em resposta a recente “Operação Piñata”, onde houve uma enorme (e barulhenta) incursão policial contra o movimento anarquista na Espanha. No momento, cinco pessoas permanecem detidas em regime de isolamento.

Desde as 18 horas, as pessoas foram chegando à praça central da Clock Tower. Com faixas e distribuindo folhetos, os manifestantes explicaram a quem passava por ali a situação repressiva na Espanha e o caso específico dos nossos companheiros. Também foram ecoados gritos contra a repressão e contra a polícia e as prisões (alguns em espanhol).

Meia hora após o início da concentração, os ativistas decidiram bloquear o tráfego por alguns minutos, caminhando até a Churchill Square. Lá, foi lido um comunicado em frente do Banco Santander e da O2 (Telefônica), duas das principais multinacionais espanholas. O grupo, então, voltou para a Clock Tower, onde terminou a ação.

A concentração contou com um número significativo de imigrantes do estado espanhol residente em Brighton e de companheiros de vários movimentos sociais da cidade. Grupos como Brighton-SolFed, Brighton Antifascists, Brighton Anarchist Black Cross e o Cowley Clube mostraram sua solidariedade.

Esta ação foi organizada por um grupo de ativistas preocupados com a situação na Espanha. Enquanto as condições de vida estão piorando, a classe dominante do país responde com a criminalização dos movimentos sociais e dos que lutam.

Agora, a solidariedade internacional é especialmente importante. Temos de mostrar que não temos medo, que estamos alertas e que nossos companheiros não estão sozinhos. A solidariedade continua.

Espanha cheira a Estado Policial!

Liberdade presos anarquistas!

Conteúdo relacionado:

http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2015/04/02/alemanha-berlim-solidariedade-com-detidos-na-operacao-pinata/

Das canções barulhentas que animam rebeldes: uma nota sobre Redson, a banda Cólera e a emergência do anarco-punk.

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Por Acácio Augusto *

Fonte: GEAPI – Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí

Você era um bom menino

mas um dia se cansou

de ser dominado

de tanta pressão

Cólera

O punk foi o grito de guerra que marcou um rompimento com as tecnologias disciplinares e, ao mesmo tempo, anunciou rebeldias contra os governos na sociedade de controle. Diante do fim do sonho, jovens que adotaram a revolta como atitude estética bradavam: não há futuro! Mais do que moda juvenil ou produto da indústria cultural — como querem as definições sociológicas de gabinete —, o punk rock deu forma, trilha e estética aos jovens que odiavam a família, a escola, a igreja, o exército, a polícia, o emprego, o Estado, enfim, toda e qualquer autoridade que se apresentasse a eles como tal. Tudo ou nada. Afirmava não ser preciso que alguém lhe autorizasse se seu querer era destruir uma sociedade que se apresentava tão podre quanto sua calça jeans, sua jaqueta de couro e seu coturno. Destruição!

No Brasil, o punk encontrou um país saindo de uma ditadura civil-militar e em um processo de democratização que fedia tanto quanto o chulé de garotos petulantes e mal-

criados oriundos dos bairros pobres da cidade de São Paulo. “O punk veio para pintar a asa branca de negro, atrasar o trem das onze e fazer da Amélia uma mulher qualquer”, declarou Clemente, da banda Inocentes, a um repórter da TV Cultura durante a realização, em 1982, do festival “O começo do fim do mundo”, realizado no SESC Pompéia, em São Paulo, com decisiva interferência do jornalista e dramaturgo Antonio Bivar.

O festival contou com uma prévia, meses antes, no antigo Salão Beta, dos estudantes

da PUC-SP, onde hoje é o Tucarena. Uma das bandas que tocaram nesse festival foi o Cólera.

O Cólera foi formado em 1979 pelos irmãos Pierre e Edson Pozzi, este adotando o nome punk de Redson, o filho vermelho, o som vermelho. Não cabe para um punk um obituário ou uma nota biográfica, mas o registro do ano de início de uma banda que, junto com Restos de Nada, amplificou em termos sonoros, estéticos e políticos o que havia de mais visceral e contundente no punk da periferia e do subúrbio de São Paulo.

Agora, o dia 27 de setembro de 2011, com a morte de Redson, marca o final da banda mais longeva do punk no Brasil: 32 anos de cólera, de revolta, de gritos de ódio. Finda uma obra feita com o que os punks chamam de do it yourself.

Sem grandes gravadoras, sem facilidades computacionais, sem patrocínios ou paitrocínios. O Cólera foi uma das primeiras bandas a gravar um disco com selo próprio, o Ataque Frontal; a primeira a se arriscar, em meados dos anos 1980, a tocar em squats e ocupações de quase toda Europa, com a ajuda de amigos cultivados por correspondências; a gravar, fazer shows, participar de manifestações e até, eventualmente, tocar em programas de TV, como o extinto Boca Livre, sem um esquema empresarial. A proximidade do punk com a autogestão e os anarquismos não foi mera coincidência ou afinidade ideológica: se tocaram pelo jeito de fazer as coisas e de se inventar no mundo.

Marcante, também, na existência de Redson e do Cólera, foi a temática recorrente em suas letras. Além daquelas sobre a vida de jovens na cidade, o combate à polícia, o ódio simultâneo ao consumismo, ao comunismo e ao fascismo, e as brigas pelas ruas, comuns a quase toda banda punk que se preze, foi a partir do disco “Pela paz em todo mundo”, de 1986, que temáticas como o pacifismo ativo, as preocupações ecológicas, o combate à homofobia, ao machismo e ao sexismo, o antimilitarismo e os alertas antinucleares passaram a fazer parte do repertório e da verve dos punks no Brasil.

Tal atenção para com a elaboração e temática das letras fez do Cólera procedência imediata do que depois se conhecerá como anarco-punk no Brasil, em especial por evidenciar e investir no rompimento com uma educação de costumes conservadores trazida de casa e sustentadas por muitos punks.

Impressionante, também, era a energia de Redson, Val e Pierre no palco: ágeis, sagazes e incansáveis. Qualquer um que fitasse o brilho nos olhos de Redson tocando e Das canções barulhentas que animam rebeldes cantando não conseguiria ficar indiferente a músicas como “Agir”, “Histeria”, “Subúrbio Geral”, “São Paulo”, “Duas Ogivas” ou “Quanto vale a liberdade?”.

Redson era um homem generoso, atento às bandas que desapareciam tão rápido quanto apareciam e defensor de uma atitude não violenta que se afastava de certa rabugice da maioria dos punks. Sabia que lutar contra fascismo não era matar e morrer estupidamente nas ruas da cidade. Atravessou, corajosamente, três décadas de punk como um quase infame que viu muita gente morrer, virar crente ou skinhead, casar e depois ver no punk um arroubo juvenil. Seguiu sem esmorecer insuflando a revolta de novos garotos que queriam “destruir o sistema”. Com guitarra em punho, com suas hesitações e contradições, mostrou com sua existência que é possível viver diferentemente do que se destina a você quando nasce. Mostrou que é possível deixar uma marca sem abrir mão da liberdade e sem “se entregar ao sistema”.

Hoje, abundam as chamadas bandas e gravadoras alternativas e independentes, e a internet ampliou a possibilidade de espalhar uma banda ou um som. A maioria dos jovens das periferias, encantados com o rap oriundo dos Estados Unidos, querem ser integrados e fazer sucesso. Os punks, na sua maioria, matam-se estupidamente na porta de shows e produzem ecumênicas alianças com skinheads. Parecem perdidos numa justificativa ideológica de brigas de gangue. Paradoxalmente, foi a ousadia de pessoas como Redson, no começo dos anos 1980, que abriu caminho para isso. O grito de revolta de trinta anos atrás, em pouco tempo foi respondido com essa pacificação violenta que oscila entre um punk que não produz mais algo como o Cólera e um rap que é quase unânime nos bairros pobres da cidade e nas rodinhas das classes médias politizadas.

A morte de Redson lembra que já faz trinta anos que a revolta eclodiu na cidade e que hoje ela está sufocada, ou impedida de aparecer, pela intensificação da comunicação e por uma recusa das condições de vida nos bairros pobres que se expressa como vontade de inclusão e expressão de assujeitamentos.

***

Conheci e convivi com Redson em momentos efêmeros e intermitentes. Não era um homem extraordinário, mas um sujeito incomum. Assisti muitos dos seus shows, em casas noturnas do centro e em bares imundos nas bordas mais ermas da cidade. O mais marcante era a energia e o brilho no olhar. Ao escrever sobre sua morte, por sugestão de um amigo, que sensivelmente notou minha perturbação com a notícia, dou-me conta de que cheguei à quarta página sem arriscar escrever na primeira pessoa do singular. De fato, a banda Cólera e seu front man, Redson, tem toda essa importância descrita acima, talvez até mais, e sua morte me levou a pensar sobre essa diferença entre o que foi possível de vivamente revoltado e rebelde num momento, e o que é tão raro hoje; como o punk rock abriu a possibilidade de um rompimento que hoje é dificilmente ensaiado.

A revolta contra a sociedade parece ter virado muro de lamentações. A rapidez e urgência do hardcore foi cedendo espaço ao peso e lentidão do rap. Redson morreu, tendo vivido à sua maneira, escapou do itinerário destinado a um jovem de periferia sem virar “macaco” da classe média. Como todo vivente não escapou da morte, mas viveu a intensidade da vida numa cidade estúpida que só poderia ser desafiada com a agressividade própria do

punk rock.

Das canções barulhentas que animam rebeldes Quando eu tinha 14 anos e um tremendo mal-estar de habitar um mundo que então se abria, foi muito bom ouvir, num disco de vinil ainda, Redson cantar: “Quanto vale a liberdade?/Pra vocês ela tem um preço/Quanto vale a confiança?/Não quero esperar/Não acredito no seu dinheiro/Onde está o seu caráter?/Deve estar perdido em algum beco/Horas você enlouquece/E depois quer fugir/Se refugia como um animal, como um animal/Dia após dia eu procuro ir em frente/Vê se me entende, não há razão, não há razão/Já não pode mais pensar/Olhe para tudo como está/Agora eu sei que não há preço/Mas me sinto acorrentado/Dia após dia, e não há razão, não há razão/Quanto vale a liberdade?/Quanto vale a liberdade?/Não importa, eu vou em frente/Não importa, eu vou em frente!” Que a revolta e o barulho, em vermelho e negro, que animou jovens como Redson siga existindo e seja capaz de inventar novos percursos de liberdade à sua maneira, como há trinta anos esse punk inventou.

*Acácio Augusto é doutorando em Ciências Sociais pela PUC-SP, professor no Cur-

so de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina e pesquisador no

Nu-Sol. Escreveu em parceria com Edson Passetti Anarquismos e educação,

Editora Autêntica, 2008.

Marcha Mundial Contra A MONSANTO

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Fonte: Portal Anarquista, ex-colectivo libertário de Évora

ESTE SÁBADO VÁRIAS CIDADES PORTUGUESAS MARCHAM CONTRA A MONSANTO

Lisboa, Porto, Coimbra, Funchal, Lagos, Setúbal e Faro

Este sábado, dia 23 de Maio pelas 15h, dezenas de milhares de indivíduos de todo o mundo irão juntar-se em protestos pacíficos espalhados pelos 6 continentes. Estão marcados eventos em 38 países, 428 cidades, todos eles contra a multinacional Monsanto. Em Portugal, estão convocadas marchas para Lisboa, Porto, Coimbra, Funchal, Lagos, Setúbal e Faro. [1]
Este movimento quer promover a consciencialização dos perigos das sementes geneticamente modificadas, para a saúde, agricultura e ambiente [2]. Alertar para os perigos do herbicida RoundUp (produto da Monsanto), composto essencialmente por glifosato que, segundo Organização Mundial de Saúde é cancerígeno [3]. Sendo o glifosato o herbicida mais vendido em Portugal nomeadamente por agricultores de transgénicos e convencionais e pelo estado português através de Municípios, empresas municipais , REFER, etc. Havendo uma relação comercial avultada entre a Monsanto e o Estado português[4]. Também queremos expor as políticas corruptas da Monsanto, nomeadamente a rotação de altos-cargos da administração publica nos EUA e UE, com cargos na Monsanto.
As sementes transgénicas comercializadas por multinacionais da biotecnologia agrícola, alem de serem geralmente estéreis, são protegidas através de patentes, o que impede os agricultores de produzirem e armazenarem sementes para o próximo cultivo, o que gera uma dependência a essas companhias e garante o poder da Monsanto e outras empresas de biotecnologia sobre a nossa alimentação. Exigir uma maior protecção dos nossos alimentos através da devida rotulagem dos produtos que contem OGM, inclusive quando estão presente na alimentação animal.
Na União Europeia vários países proíbem o cultivo de transgénicos, seja por via legal ou outra mais criativa: a Áustria, Hungria, França, Alemanha, Grécia, Luxemburgo, também a Bulgária, a Itália, o Luxemburgo e a Áustria. Queremos também divulgar para toda a população o mapa nacional de todos os campos de transgénicos [5].
Apoiamos os agricultores locais e biológicos que se dedicam a semear todos os dias um futuro mais positivo para as futuras gerações. Apoiamos a criação de redes de consumo de alimentos locais e biológicos, e a divulgação aos pequenos e médios agricultores de modos de produção agrícola livres de químicos e de sementes geneticamente modificadas.

Para mais informação sobre a Marcha contra a Monsanto 2015, visitawww.March-Against-Monsanto.com
O evento de Lisboa pode ser encontrado em:https://www.facebook.com/stopmonsantoportugal
Uma lista completa de eventos pode ser encontrada aqui: http://www.march-against-monsanto.com/events
[1] http://www.march-against-monsanto.com/press-release/
[2] http://www.stopogm.net/
[3] http://www.publico.pt/sociedade/noticia/ambientalistas-querem-banir-herbicida-mais-utilizado-em-portugal-1690295
[4] http://tinyurl.com/q4nqw9m de http://www.base.gov.pt/
[5] http://www.stopogm.net/cultivos
[6] http://stopogm.net/faqs#k

stopmonsanto

– Marcha Contra a Monsanto Setúbal –https://www.facebook.com/events/788368934579814/

– Marcha Contra a Monsanto Lisboa –https://www.facebook.com/events/1581254722145697/

– Marcha Contra a Monsanto Coimbra –https://www.facebook.com/events/480587455422343/

– Marcha Contra a Monsanto Porto – https://www.facebook.com/events/1573340366271296/

– Marcha Contra a Monsanto Funchal –https://www.facebook.com/events/924531354265128/

– Marcha Contra a Monsanto Faro – https://www.facebook.com/events/1831860383706009/

– Marcha Contra a Monsanto Lagos – https://www.facebook.com/events/690530481073665/

Anarco-Primitivismo

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Fonte: Epifenômenos

Por John Zerzan
 
 
 
 
Uma mudança é definitivamente essencial para o que a filosofia da anarquia significa. Em paises como Inglaterra, França e Turquia assim como nos Estados Unidos, existe um crescente interesse em o que é chamado anarco-primitivismo. Publicações americanas como por exemplo, Anarchy, Fifth State e Feral refletem esta mudança. Assim como Green Anarchist e Do or Die! na Inglaterra.
 
Aqui está um olhar, de uma perspectiva Americana, sobre o movimento.
 
1. Existe uma profunda crise em todos os níveis; individual, social, ambiental. O câncer do capitalismo tecnológico esta se expandindo com um impacto devastador.
 
2 . Liberalismo, esquerdismo, pacifismo são faces de uma falida pseudo-oposição a ordem dominante. A única oposição radical é a anarquia.
 
3. A anarquia é cada vez mais militante. Sabemos que aproximações por métodos manipuladores e submissão são falsos. Se nós e o planeta desejamos sobreviver e nos tornar livres, devemos quebrar as regras e revidar.
 
4. A anarquia é cada vez mais primitivista. Sabemos que a tecnologia não é “neutra”, e incorpora o sistema sugador de vidas que esta nos cercando. Civilização, que é baseada na divisão de trabalho e domesticação, também deve ser abolida. Sua lógica desdobradora tem nos levado para a atual condição de vazio, destruição e patologia.
 
5. Nosso objetivo é uma comunidade não-hierárquica e face a face. Todo obstáculo para tal deve ser removido. Um grande desmantelamento é necessário para que a natureza e cada individuo seja honrado. A descentralização completa é o objetivo.
 
6. Tecnologia e capital a uma monocultura massificada que escraviza toda vida. Produção em massa, fabrica, especialização, pensamento separatista é parte do problema, e não da solução.
 
7. Livre associação, autonomia, transparência, espontaneidade, comunhão com a natureza, diversão, criatividade são requisitos para uma existência saudável e livre. Produtividade, hierarquia, coerção, trabalho, consciência de tempo não.
 
8. Se nossa missão e nossa visão parece loucura, quão mais louco é não fazer nada efetivo para impedir a marcha mortal da compra e venda global? No futuro uma criança pode perguntar: “Como você deixou tudo isso chegar a esse ponto? O que você fez para parar?”
 
9. Com a infelicidade difundida está exposto muito das mentiras e condicionamentos que defende este sistema de não futuro, vemos que um diálogo aberto entre todos é essencial.
 
10. Voto, programas de reciclagem, reformismo, e protestos não têm conseguido realmente nada. Tem que haver um rompimento qualitativo com a Mega-maquina.
 
De que lado você está?
 
 
 
John Zerzan – Anarchist Action Collective, PO Box 11703, Eugene, Oregon 97440, USA

Ecologia Social é Pelegagem!?

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Fonte: Nodo50

A Ecologia Social é pelegagem ou a Pedagogia Libertária é mera retórica, para um falar e agir intelectualmente “confortante”?

Todas as idéias novas e constatação de fatos quando concebidos ou descobertos, a princípio, sempre são recebidos com a “desconfiança” do preconceito e a sua decorrente animosidade e desvalorização. Isto para apresentar uma forma mais amena de contrariedade.

Vide o que ocorreu com “livres–pensadores” como Copérnico, Giordano Bruno e Galileu Galilei na assim chamada idade média. Homens que podem representar o advento da série de questionamentos em diversos setores do saber e na visão de mundo que desembocou no “Renascimento” cultural e a redescoberta do próprio Ocidente.

No caso de Copérnico foi uma profunda e radical mudança de paradigma, chamada de revolução Copernicana, que consistiu na teoria de que a terra move-se em torno do sol e não o inverso, que era postulado dogmaticamente pela igreja. Consiste na oposição do geocentrismo da igreja ao heliocentrismo de Copérnico, pela qual a detentora do monopólio ideológico perdia, e perdeu, muito de sua influência e poder.

Em seguida, com o “Renascimento”, como autoproclamado pelos estetas da época, surgiram novos paradigmas como o antropocentrismo, que colaborou para a desconstrução do teocentrismo até este momento dominante neste processo de transformações do Ocidente.

Decorreu em seguida o mercantilismo, a reforma protestante e o racionalismo cartesiano, de base “mecanicista” e etc. sendo que este último erigiu–se como uma “nova moral religiosa da modernidade” e sua conseqüência direta foi uma visão extremamente utilitarista do mundo, subordinando–o à sua lógica “analógica”, “analítica” e “digital”, antes da cibernética, com os seus: racional ou irracional, certo ou errado, lucrativo ou não.

Este tipo de visão tem como prioridade secionar, atomizar o conhecimento e a sua experiência. Ele vê as partes de uma árvore ao invés da árvore, ou de um bosque. “Adestra” a visão do homem em relação ao mundo e à “natureza”, das coisas a uma determinada lógica. Este paradigma gera um “conforto”, uma “conformidade” do pensamento no que ele poderia inspirar de reflexões mais instigantes, obscuras e ansiosas, pois as grandes questões não-eleitas como utilitárias ou importantes, e a própria reflexão sobre esses valores, são deixadas de lado. É um “conforto” que gera “conformismo” intelectual e pensamento estático. Ela divide, escrutina, separa, seciona o conhecimento e conquista o imaginário social diminuindo o poder de intervenção e elaboração simbólica de outros saberes como as culturas e tradições ancestrais em relação à natureza, sua ética e visão do mundo e para com o mundo.

Estamos numa época de profundos conflitos, gerados pela “globalização”. Também dentro desta conjuntura há o florescimento, e o resgate de outras visões de mundo, ou o surgimento de outras. Podemos afirmar que estamos caminhando, se não houver nenhum “acidente”, para uma provável nova “revolução Copernicana”. Mas deixemos este ponto para mais adiante. Falemos agora das polêmicas surgidas dentro do “movimento libertário” a partir destas novas conjunturas.

Com a derrocada dos regimes do capitalismo estatal, como ex–URSS e leste europeu, ou seja, o fim da “guerra fria”, com o mundo todo se tornando um imenso burgo lamacento, onde espaços antes ocupados no imaginário social, e antes de tudo nos movimentos sociais, em que esquerda fetichizava o operário industrial urbano e colonizava com o seu programa outros setores, tais como camponeses, favelados e contestações de fundo étnico, dando–lhes uma dinâmica monolítica e unidimensional, e com a falência deste projeto, novos movimentos e alternativas começaram a surgir ocupando estes espaços, dentro de uma enorme multiplicidade. Estes movimentos são de todos os tipos e aspectos. Muitos são meras reivindicações como princípios em si mesmos, como o movimento dos consumidores “conscientes”. Outros de perfil que poderíamos chamar “não rigidamente” de “libertários”. E muitos outros fundamentalistas, como os religiosos, nacionalistas e “Nazis”.

Dos anos 60, séc. XX, até a atualidade, popularizou–se a revalorização das teses e práticas “libertárias anarquistas”, o surgimento e valorização de movimentos étnicos, indígena e negro por exemplo, de gênero e anti–patriarcais, gays, lésbicas e mulheres, e a verdadeira “febre”” que é o “movimento ecológico internacional”, sendo isto, em muito, herdeiro de um arcabouço teórico de origem anarquista, tendo como exemplo evidente a obra “Campos, fábricas e oficinas”, de Pedro Kropotkin, e um dos seus lemas mais importantes é sintomático em relação a isto, “pensar globalmente, agir localmente”. Apesar deste florescimento de movimentos, ousadias intelectuais e ativistas, o mundo não se tornou uma grande “aldeia–livre”.

Estas novas concepções, e as resgatadas, de movimentos e visões de mundo ainda estão sendo digeridas, e talvez o seu pleno potencial ainda seja embrionário e contraditório. Conflitos entre estes elementos não foram totalmente superados, e isto somente a prática social quotidiana poderá silenciosamente responder.

Para assinalar a partir do campo da ação e reflexão anarquista pode ser exemplificada brevemente ao nível geral a polêmica surgida recentemente a respeito da Ecologia social e da Ecologia profunda. Tentar-se-á tratar deste tema como um todo.

Com a popularização das “teses” políticas e ecológicas colocadas em pauta em todo mundo, mais fortemente a partir dos anos 60, nasceram duas vertentes neste debate de pensamento e ação radical que são a ecologia social, de influência nitidamente e diretamente anarquista, vide a obra de Murray Boockchin, anarquista norte–americano membro fundador do Instituto de Ecologia Social de Nova Iorque, e a chamada “Ecologia Profunda”, inicialmente sem ligações diretas com o anarquismo, inspirada na obra do filósofo norueguês Arne Naess e posteriormente adotada pela “eco-guerrilha”, ou sabotagem ecológica, pela organização chamada Earth First!, “A Terra Primeiro!”, fundada inicialmente nos EUA em 1979, pelo fuzileiro veterano da guerra do Vietnã, Dave Foreman, cujos princípios básicos da organização são: estrutura federalista e radicalmente descentralizada, não–violência, ação direta e ecologia profunda.

Entre estas duas vertentes existe uma certa animosidade mútua principalmente no campo teórico, já que a militância da EF! é mais forte e contem muitas individualidades e organizações ácratas. A EF! acusa os ecologistas sociais de excessivamente “antropocêntricos”, preocupados apenas com a remediação dos problemas ecológicos, vendo apenas uma parte da vida, o homem, e não atentando para o todo do planeta, a Mãe Terra, categoria forte na EF!. Da parte dos Ecologistas sociais, aviso, nem todos de matriz anarquista já que a ecologia social se pretende enquanto uma das diversas subdivisões da ciência, acusam a Ecologia profunda de misantrópica, alienada das questões sociais e excessivamente “biocêntrica”. Na linha de frente desta crítica está o próprio M. Boockchin. Como podem ver, está formada uma querela. Embora o próprio M. Boockchin no seu trabalho “Por uma ecologia social”, reconheça a proximidade nos últimos tempos da EF! com a IWW, órgão sindical de orientação libertária, fato deveras inovador neste país onde o sindicalismo tem a tendência e tradição de ser corporativo e atrelado ao paradigma do credo industrial capitalista.

Para complicar um pouquinho mais este quadro, há a posição de setores anarco–sindicalistas portugueses da FAI que acusam os signatários das teses do Boockchin de “neo–anarquistas” de direita, que abandonaram “a luta dos trabalhadores”. Fazendo uma breve análise destas questões, no caso específico dos anarco–sindicalistas, existe um equívoco em relação a este assunto. Primeiro por que estes não consideram estas questões. As suas avaliações são realizadas em categorias cristalizadas, desconectadas com o real, feitas na maioria das vezes de forma apriorística, e não que os companheiros sejam obrigados a uma “concordância” inexorável e a se tornarem PhDs em ecologia social, mas um pouquinho de sensibilidade e menos ortodoxias ajudariam bastante a sensibilizarem–se a novas e pertinentes questões. Talvez em Portugal seja um pouco como no Brasil. Em segundo, o anarco–sindicalismo ainda está atrelado ao paradigma da “luta econômica industrialista”, sendo que é observado que esta tendência e as suas organizações não são mais um movimento preponderante, e nem representam mais uma alternativa concreta de transformação social. Sua preocupação primordial é promover a luta econômica industrial com tintas “anárquicas”, mas estes hoje apenas sobrevivem em formas mumificadas e em discursos radicalmente ultrapassadas, convertendo–os assim em ortodoxos.

Em relação à dicotomia Ecologia Profunda e Ecologia Social, a questão às vezes é meio espinhosa, mas mesmo assim há de se aprender muito com a prática e a teoria das duas vertentes. A princípio, deve-se observar e esclarecer que no caso da Ecologia social esta não consiste numa organização e sim em uma elaboração teórica e proposta, como tantas outras teses anarquistas: o apoio mútuo, a desobediência civil, a ação direta, a autogestão etc. Nos EUA esta prática habita duas esferas: a acadêmica, como uma espécie sui generis de transdiciplinaridade, e o ponto programático, idéia-força, tese e princípio dos grupos organizados anarquistas. Porém existem grandes polêmica sobre os limites desta última esfera por parte de outros ecólogos sociais.

No caso da Ecologia Profunda, esta pode ser considerada como um conjunto de princípios éticos sobre toda forma de vida no planeta, seja humana ou não-humana, como são trabalhadas as categorias de discurso por parte dos ecólogos profundos. Como foi dito antes, a principal organização política que adota esta teoria é a já referida EF!, mas também há a incorporação de pequenos grupos pacifistas e de direitos e liberação animal.

A EF! advoga uma profunda transformação nas estruturas econômicas, políticas e das mentalidades. As suas “ações diretas” de eco-sabotagem são contra os agentes diretos da poluição e depredação da natureza. O alvo principal é o grande capital das megacorporações transnacionais e também nacionais. Tem se observado que nos últimos anos, nas fileiras da EF!, tem crescido bastante o número de militantes de orientação anarquista.

Visto isso, pode-se interpretar que as posições de luta pela melhoria da qualidade de vida das comunidades humanas com uma conseqüente transformação “profunda” da sociedade a pressupostos de defesa de quaisquer formas de vida e seus ecossistemas não são contraditórios e nem oponentes. A dicotomia entre antropocentrismo e biocentrismo é falsa. Mas ocorre um fato além da vaidade e briga por espaço político. Acontece realmente que adeptos da Ecologia profunda, eventualmente, e alguns setores, têm a tendência há um certo “fundamentalismo biológico preservacionista”, e talvez isto seja reflexo das proposições do próprio Foreman. Mas o seu empenho ativista, dedicação e base ética bem constituída na esfera da condução filosófica do ativismo, são invejáveis, mesmo se estes ainda engatinharem na clareza de sua análise social para a “comunidade humana”. Enquanto que com a ecologia social, esta tem claras e objetivas propostas em relação ao social, mas apenas principia-se em uma visão mais holística com outros elementos vitais ao ser humano e à vida. Prendem-se a vícios do passado que também atrapalham com que esta visão se amplie.

Estas teses e proposições ideológicas, metodológicas, filosóficas, científicas, práticas e éticas devidamente criticizadas são possivelmente intercambiáveis aqui no Brasil. Jamais devemos ser certos de nossas certezas em demais pois isto atrofia a prática, esteriliza a reflexão e dogmatiza o espírito, mas mesmo assim nas condições tropicais brasileiras talvez seja possível florescer uma “Ecologia social de visão profunda” como uma linha de interpretação do mundo e linha de ação. O nosso patrimônio biológico, multicultural, humano e social podem contribuir muito para com a nossa própria sociedade e por que não com o próprio planeta. Esta temática e este tipo de proposta com certeza enfrentaram (e enfrentam) resistências infundadas ou talvez preconceituosas.

Dado que os anarquistas brasileiros, muitos, mas não todos, sofrem de uma estranha doença “da auto-afirmação”, depois de anos de inação e auto-enclausuramento em conventos culturalistas, agora que estes estão começando a despertar para a ação nas gerações mais recentes sofrem desta estranha patologia, que é repetir retoricamente um anarco-comunismo datado combinado aos vícios da visão anarco-sindicalista com práticas de análise em “dogmatismos principistas” da esquerda tradicional. Mas esta crítica está associada apenas aos reprodutores da “velha escola” e “culturalistas de classe média” por que já existe uma nova geração composta de elementos sinceros e tolerantes que estão trabalhando para alavancar as lutas sociais vitais para a nossa sociedade.

Pois é nítido, empiricamente comprovado, que o paradigma cartesiano-mecanicista, “industrialista” e utilitarista-econômico hoje, com o processo de globalização, porá em cheque a humanidade e quaisquer formas de vida ameaçando severamente a Mãe Terra.

A militância libertária para este princípio de terceiro milênio além de não transigir com os seus princípios vitais incorporados nas lutas populares, deve ter uma atuação prática dentro de uma visão multidimensional, ou seja, signatária de novos paradigmas Holísticos e transdiciplinares filosóficos-científicos como também otimisadores de outras tradições, saberes; o intuitivo com o racional conjugado com os saberes populares e comunitários, e também dos saberes milenares dos povos ancestrais “originários”, africanos, indígenas e etc. Pois urge cada vez mais o rompimento com as metafísicas mistificadoras religiosas tanto quanto com os vícios e males do materialismo. Deixemos isto para o marxismo.

Neste tempo de demanda por transformações politico–sociais, é contatado que novas formas de conhecimento como a ecologia, que por acaso significa o “estudo da casa”, ou seja ambiente, universo, requer o trabalho sócio-cultural da consciência ambiental irmanado com a questão econômica. Economia significa administração da casa, do ambiente. Para continuarmos a viver e não meramente sobreviver como humanos devemos entender e lutar por quem vai “administrar”, respeitar ou arrumar a casa. Nós todos ou uma casta genocida?

Tanto se fala entre os anarquistas brasileiros e outros ativistas populares na defesa de uma concepção de acordo com a cultura popular brasileira e latino-americana e se faz tão pouco para implementá-la. O paradigma Holístico é uma janela que se abre para esta questão.

Afinal de contas o termo libertário hoje é um conceito muito amplo. Ele não é mais de nenhuma forma monopólio dos anarquistas, devemos ter consciência disto, pois dentro dos próprios princípios dos “autonomistas” europeus, por exemplo, admite-se que em outras culturas, de outros continentes surjam formas diversas de “libertários”. Os “Resistentes”, “Magonistas” e “Zapatistas” podem enquadrar-se neste caso, ou seja, sermos globais, internacionalistas, sem esquecermos de quem somos ou dos nossos rituais culturais comunitários.

O que se entende por “libertários” são aqueles que lutam e ao mesmo tempo têm como princípio a liberdade. Isto dado não apenas numa forma idealizada e abstrata, metafísica, e sim com práticas concretas como, ação direta, descentralização, democracia direta horizontalizada, fóruns coletivos públicos de deliberação e federalismo. Dentro destes princípios existe hoje uma grande multiplicidade de correntes e movimentos sociais adeptos tais como os autonomistas, movimento Zapatista no México, movimento Okupas na Espanha, movimentos ecológicos, ação global dos povos, movimentos indígenas etc. Somente dialogando apoiando, agindo conjuntamente e incentivando estas iniciativas contra o verdadeiro adversário da humanidade que é o capitalismo “globalitarista” promotor de guerras, genocídios e ecocídios, somente através de alianças em “rede” e horizontalizadas que as pessoas poderão resistir “globalmente.”

Desconstruindo quaisquer formas de obscurantismos, mentalidades confortantes e acomodadas mal-disfarçadas de principismo, poderá se construir uma democratização econômica com a descentralização produtiva, com gestão comunitária em rede gerando empregos saudáveis e para todos em oposição às concentrações da produção industrial que é hierárquica, sexista, anti-humana e poluidora. Características típicas da economia capitalista.

Pode-se afirmar que a vida na terra seja humana e não-humana, seja comunitária e que os ecossistemas estão além do que nossas arbitrárias medidas de valores supõem.

Para esclarecer melhor o que foi discutido neste ensaio é recomendada a leitura de obras dos autores clássicos tais como Petr Kropotkin, os irmãos Reclus e de autores recentes como Felix Guatarri, Cornelius Castoriadis, Fritjof Capra, Michel Foucault, Arne Naess, Murray Boockchin, Lewis Munford e Pierre Clastres.

Concluindo, para se trabalhar de forma concreta a consciência ambiental e ecológica, de nossa casa que é o mundo, com um processo de aprofundamento da tomada de consciência social é pertinente se trabalhar na educação popular incluindo na sua área temática e didática a educação ambiental. E esta Educação popular pode apoiar-se no seguinte tripé temático: pedagogia libertária, estudo e aplicação da ecologia social mesclada à ecologia profunda e práticas técnicas para a melhoria direta da comunidade feita em regime de mutirão.

A pedagogia libertária é a educação na vida e a ecologia é a ética na ciência conjugando um “modo de vida” voltado para a vida.

Coletivo Domingos Passos – São Gonçalo, 2001.

Socialismo, anarquismo e feminismo – Carol Ehrlich (1977)

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Fonte: Amor y Anarquia em 31 de maio de 2013, por Carol Ehrlich (1977)

“Você é uma mulher na sociedade capitalista. Você fica puta: com emprego, com as contas, com seu marido (ou ex), com a escola das crianças, com as tarefas domésticas, ser bonita, não ser bonita, ser vista, não ser vista (e no mesmo sentido não ser escutada), etc. Se você pensa em todas essas coisas, como elas se encaixam e o que tem que ser mudado, e ai você procura por algumas palavras para abarcar todos esses pensamentos juntos de forma abreviada, você quase tem que chegar em ‘feminismo socialista’”[1]

Tudo indica que um grupo de mulheres brilhantes teve de “inventar” o feminismo socialista como uma solução ao problema persistente do sexismo. “Socialismo” (em sua surpreendente variedade de formas) é popular para muitas pessoas hoje em dia, porque tem muito a oferecer: preocupação com xs trabalhadorxs, um corpo de teoria revolucionário para o qual as pessoas podem recorrer (tendo ou não lido), e alguns exemplos reais de países industrializados estruturados de forma diferente que os Estados Unidos e seus satélites.

Para muitas feministas, o socialismo é atrativo porque promete acabar com a desigualdade econômica para as mulheres trabalhadoras. Além disso, para aquelas mulheres que acreditam que uma análise exclusivamente feminista é muito estreita para abarcar todas as desigualdades existentes, o socialismo promete abrangê-la, enquanto se resguarda contra a diluição de sua perspectiva radical.

Por boas razões, então, as mulheres estão considerando se o “socialismo feminista” faz ou não sentido como uma teoria política. Para as feministas socialistas realmente parece ser ao mesmo tempo sensível e radical – pelo menos, a maioria delas evidentemente sente uma forte antipatia por algumas armadilhas reformistas e solipsísticas nas quais um crescente número de mulheres parece estar caindo.

Para muitas do tipo mais não-romanticas de nós, a Sociedade Amazônica, com seus exércitos de fortes matriarcas cavalgando ao por-do-sol, é irreal, mas inofensivo. Uma questão mais séria é a atual obsessão com a Grande Deusa e diversos outros objetos de culto, bruxaria, magia e fenômenos psíquicos. Como uma feminista preocupada em transformar a estrutura da sociedade, eu acho isso qualquer coisa menos inofensivo.

Primeiro ponto: Mais de 1400 mulheres foram para Boston em abril de 1976 para assistir a uma conferência de espiritualidade feminina que lida em grande parte com as coisas apontadas acima. Não poderia a energia investida em encantamentos, difundir as últimas idéias pagãs e ir a workshops de dança do ventre e rituais menstruais ter sido utilizada para alguns usos melhores e mais feministas?

Segundo ponto: De acordo com reportagens em um jornal feminista, um grupo de bruxas tentou levitar Susan Saxe para fora da cadeia. Se elas honestamente acharam que isso iria libertar Saxe, então elas estavam totalmente fora de sintonia com as realidades da opressão patriarcal. Se isso pretendia ser uma piadinha alegre, então por que ninguém está rindo?

O reformismo é um inimigo muito maior para os interesses das mulheres do que jogos psíquicos bizarros. Sei que “reformismo” é um nome que pode ser usado de modos que não são nem honestos nem muito úteis – principalmente para demonstrar a pureza ideológica de alguém, ou para dizer que trabalhos políticos concretos de qualquer tipo não valem a pena ser feitos porque são potencialmente cooptáveis. Em resposta, algumas feministas argumentaram persuasivamente que os tipos certos de reformas podem construir um movimento radical[2].

Da mesma forma, existem estratégias reformistas que gastam as energias das mulheres, que aumentam as expectativas de uma grande mudança e que são ilusórias e alienantes porque elas não podem atingir os fins. O melhor (ou pior) exemplo é a política eleitoral. Algumas socialistas (seduzidas pela noção de gradualismo) caem nessa. Anarquistas conhecem melhor. Você não pode se libertar através de meios não-libertadores; você não pode eleger um novo conjunto de políticos (não importa o quão sinceros sejam) para operar nas mesmas velhas instituições corruptas – que por sua vez governam você. Quando a Majority Caucus da National Organisation of Women (NOW) – a corrente radical dessa organização – pede para que as mulheres a sigam “fora do tradicional [mainstream], para a revolução”  através de meios que incluem a política eleitoral, elas vão todas se afundar na profundezas das coisas como elas são.

A política eleitoral é um tipo de armadilha óbvia e rotineira. Até muitas não-radicais aprenderam a evitá-la. Um problema mais sutil é o capitalismo disfarçado de empoderamento econômico feminista. Considere, por exemplo, o Feminist Economic Network. O nome pode talvez enganar você. Ostensivamente era uma rede de negócios alternativos configurada para destruir o capitalismo de dentro para fora por meio da criação de auto-suficiência econômica para mulheres. É uma idéia atraente. Contudo, o primeiro grande projeto do FEN começou em Detroit, abril de 1976. Por uma taxa anual de filiação de 1oo dólares, mulheres privilegiadas poderiam nadar em uma piscina particular, beber num bar privado e conseguir descontos em um punhado de boutiques. O FEN pagava a suas empregadas $2.50 por hora para trabalhar lá. Sua diretora, Laura Brown, anunciou essa empreitada como “o começo da revolução econômica feminista”[3].

Quando dois dos mesmos velhos jogos – política eleitoral e capitalismo – são rotulados de “revolução”, a palavra foi virada de ponta-cabeça. Não é surpresa que uma marca socialista de feminismo parece ser a fonte de sanidade revolucionária para muitas mulheres que não querem ser bruxas, guerreiras primitivas, senadoras ou pequenas empreendedoras, mas sim que querem acabar com o sexismo enquanto criam uma sociedade transformada. O feminismo anarquista pode dar um quadro teórico significativo, mas muitas feministas nunca ouviram falar disso, ou então o descartam como as senhoritas ajudantes de homens que lançam bombas.

O feminismo socialista oferece uma série de “lares” políticos. De um lado, existem os esquálidos, limitados quartéis dos setores da Velha Esquerda, como o Partido Comunista Revolucionário (formalmente a União Revolucionária), a Liga de Outubro e o Partido Internacional dos Trabalhadores. Pouquíssimas mulheres consideram eles habitáveis. Por outro lado, um bom número de mulheres está se movendo para os dispersos e ecléticos estabelecimentos construídos por grupos de esquerda mais novos, como o New American Movement, ou por diversas “união de mulheres” autônomas.

As novas feministas socialistas tem feito uma campanha enérgica e sensata para recrutar mulheres sem alinhamento. Contrariamente, os grupos da Velha Esquerda mais rígidos extensivamente rejeitaram a idéia em si de que lésbicas, separatistas e diversas outras desajustadas e inadequadas feministas poderiam trabalhar com os nobres herdeiros de Marx, Trotsky (apesar de que trostskistas são imprevisíveis), Stalin e Mao. Muitos rejeitaram a idéia de um movimento de mulheres autônomas que se importa só com questões das mulheres. Para eles,  está cheio de mulheres burguesas (o mais condenável de todos os jargões marxistas!) focadas em “fazer suas próprias coisas” e isso “divide a classe trabalhadora”, o que é uma suposição curiosa de que os trabalhadores são mais burros do que todo mundo. Alguns tem uma antipatia histérica por lésbicas: os grupos mais notórios são o Liga de Outubro e o Partido Comunista Revolucionário, mas eles não estão sozinhos. Nessa prática política, como em muitas outras,  a linha anti-lésbica segue a dos países comunistas. O PCR, por exemplo, lançou uma nota de posicionamento no começo dos anos 70 (de volta aos dias de pré-partido, quando era o pleno e velho Revolutionary Union), em que anunciava que homossexuais estão presos no lodo e na lama da decadência burguesa” e que a libertação gay é ” anti classe trabalhadora e contra-revolucionária”. Todos os grupos da velha esquerda são desconfortáveis com a idéia de que qualquer mulher fora do “proletariado” seja oprimida. A classe trabalhadora, é claro, é um conceito maravilhosamente flexível: nos atuais debates de esquerda, abrange desde trabalhadores da ponta da produção (ponto final) até um enorme grupo que inclui cada pessoa que vende seu trabalho por salário, ou que depende de alguém que o faz. Isso é praticamente todxs nós. (Então, Papa Kari, se 90% das pessoas dos Estados Unidos são a vanguarda, por que ainda não fizemos a revolução?)

As feministas socialistas mais novas têm tentado de todas as maneiras dos modos inventivos de manter uma coesão com o pensamento marxista-leninista, atualizá-lo e trazê-lo para o feminismo radical contemporâneo. Os resultados são as vezes peculiares. Em julho de 1975, as mulheres do New American Movement e um número de grupos autônomos realizaram a primeira conferência nacional sobre feminismo socialista. Não foi especialmente divulgado em massa previamente e todo mundo pareceu surpreso que tantas mulheres (mais de 1600, mais as deixadas de fora) quisessem passar a semana do 4 de julho em Ohio.

Lendo as palestras dadas na conferência, assim como os extensos comentários escritos por mulheres que compareceram[4], não é claro o que as organizadoras da conferência pensaram o que estavam oferecendo sob o nome de “feminismo socialista”. Os Princípios da União que foram elaborados antes da conferência incluía dois itens que foram sempre associados ao feminismo radical e que na verdade são tipicamente pensados como antíteses a uma perspectiva socialista. O primeiro princípio colocava: “Nós reconhecemos a necessidade de e apoio ao movimento de mulheres autônomas através do processo revolucionário”. O segundo dizia: “Nós concordamos que toda opressão, seja baseada na raça, classe, sexo ou lesbianismo está interrelacionada e que as lutas por libertação da opressão devem ser simultâneas e cooperativas”. O terceiro simplesmente comentou que o “feminismo socialista é uma estratégia para a revolução” e o quarto e último princípio convidava a manter a discussão “no espírito da luta e união”.

Isso é, claro, uma incrível miscelânea de princípios saborosos – um menu desenhado para atrair praticamente todo mundo. Mas quando feministas “socialistas” servem o movimento de mulheres independentes como o prato principal, e quando dizem que a opressão de classe é só mais uma de muitas opressões, não mais importante do que qualquer outra, então (como seus críticos marxistas dizem) não é mais socialismo.

No entanto, feministas socialistas não seguem as implicações do feminismo radical o tempo todo. Se o fizessem, aceitariam outro princípio: que estruturas não-hierárquicas são essenciais para uma prática feminista. Isso, é claro, é demais para qualquer socialista. Mas o que significa é que o feminismo radical é muito mais compatível com um tipo de anarquismo do que com o socialismo. Esse tipo é o anarquismo social (também conhecido como anarquismo comunista), não as variedades individualistas ou anarco-capitalistas.

Isso não será novidade para feministas acostumadas com os princípios anarquistas – mas poucas feministas são. Isso é compreensível desde que o anarquismo tem se virado entre uma má publicidade e nenhuma. Se as feministas se familiarizassem com o anarquismo, não estariam olhando tanto para o socialismo como um meio de combater a opressão sexista. As feministas tem de ser céticas a qualquer teoria social que vem com um conjunto embutido de líderes e seguidores, não importa o quão “democrática” essa estrutura centralizada se supõe ser. Mulheres de todas as classes, raças e circunstancias de vida tem estado na posição de receptoras da dominação por tempo demais para querer trocar um grupo de mestres por outro. Nós sabemos quem tem poder e (com poucas exceções isoladas) não somos nós.

Várias feministas anarquistas contemporâneas apontaram para as conexões entre anarquismo social e feminismo radical. Lynne Farrow disse que “o feminismo pratica o que o anarquismo prega”. Peggy Kornegger acredita que as “feministas tem sido há anos anarquistas inconscientes tanto na teoria quanto na prática”. E Marian Leighton coloca que ” a distinção refinadora entre feminismo radical e anarco-feminismo é a basicamente aquela em que se dá um passo de desenvolvimento teórico auto-consciente”[5].

Nós construímos autonomia

O processo sempre crescente de síntese

Para toda criatura viva

Nós espalhamos

Espontaneidade e criação

Nós aprendemos os prazeres da igualdade

De relacionamentos

Sem domínio

Entre irmãs.

Nós destruímos a dominação

Em todas as suas formas.

Essa canção apareceu no jornal It Aint Me Babe[6] cujo título principal dizia “acabe com todas a hierarquias”. Não se classificava como um jornal anarquista (ou anarco-feminista), mas as conexões são impressionantes. Exemplificou muito do que a libertação da mulher se tratava nos primeiros anos de ressurgimento do movimento. E é esse espírito que vai ser perdido se o híbrido socialista feminista se enraizar; se as adorações à deusa ou a nação lésbica convencerem às mulheres a estabelecerem novas formas de dominação-submissão.

Feminismo Radical e Feminismo Anarquista

Todas as feministas radicais e todas as feministas anarquistas-sociais estão preocupadas com um conjunto de questões em comum: controle sobre o próprio corpo; alternativas à família mono-nuclear e à heterossexualidade; novos métodos de criação de crianças que libertem mães/pais e crianças; auto-determinação econômica; acabar com os estereótipos sexuais na educação, na mídia, no trabalho; a abolição de leis repressivas; um fim à autoridade , direito de propriedade e controle masculin0s sobre as mulheres; prover às mulheres meios de desenvolver habilidades e tomar atitudes positivas; um fim para os relacionamentos emocionais opressivos; e o que os Situacionistas chamaram de “a reinvenção da vida cotidiana”.

Existem, então, muitas questões em que as feministas radicais e as feministas anarquistas concordam. Mas as feministas anarquistas estão preocupadas com algo mais. Porque são anarquistas, elas trabalham para acabar com todas as relações de poder, todas as situações em que alguém pode oprimir outra pessoa. Diferente de algumas feministas radicais que não são anarquistas, elas não acreditam que poder nas mãos das mulheres poderia levar a uma sociedade não-coercitiva. E diferente de muitas feministas socialistas, elas não acreditam que nada bom possa sair de um movimento de massas com uma liderança de elite. Em resumo, nem um Estado dos trabalhadores, nem um matriarcado vai acabar com a opressão de qualquer um. O objetivo, então, não é “conquistar” o poder, como socialistas incitam, mas abolir o poder.

Contrariamente a crença popular, todxs anarquistas sociais são socialistas. Isso é, querem tirar a riqueza das mãos de poucos e redistribuí-la entre todos os membros da comunidade. E acreditam que as pessoas precisam  contribuir umas com as outras como uma comunidade, ao invés de viver como indivíduos isolados. Para anarquistas, no entanto, os problemas centrais são sempre poder e hierarquia social. Se um estado – mesmo um estado representando os trabalhadores – continua, vai reestabelecer formas de dominação, e algumas pessoas não vão mais ser livres. As pessoas não são livres só porque estão sobrevivendo, ou até economicamente confortáveis. Elas são livres somente quando elas tem poder sobre suas próprias vidas. Mulheres, muito mais do que muitos homens, tem muito pouco poder sobre suas próprias vidas. Obter essa autonomia e insistir para que todxs a tenham, é o objetivo principal das anarquistas feministas.

O poder à ninguém, e poder a todxs: para cada umx o poder sobre sua própria vida, e não outros.[7]

Na prática

Essa é a teoria. E quanto a prática? Novamente, o feminismo radical e o anarquista tem muito mais em comum do que com o socialista. Ambos trabalham para criar estruturas alternativas e ambos levam a política do pessoal muito a sério. Feministas socialista são menos inclinadas a pensar que isso é particularmente vital para a prática revolucionária.

Desenvolver formas alternativas de organização significa construir self-help [especializadas e organizadas por mulheres] clínicas, ao invés de lutar para colocar uma radical no quadro de diretores de um hospital; significa grupos de vídeo e jornais de mulheres, ao invés de televisões e jornais comerciais; viver em coletivos, ao invés de famílias nucleares isoladas; centros de crise de estupro; cooperativas de comida; creches controladas pelos pais; escolas livres; cooperativas de editoras; grupos de radio alternativos, e assim em diante.

Ainda, não faz nenhuma melhoria construir instituições alternativas se as estruturas imitam os modelos capitalistas e hierárquicos dos quais somos tão familiarizadxs. Muitas feministas radicais reconheceram isso cedo: é por isso que elas trabalharam para mudar a maneira como as mulheres percebiam o mundo e a si mesmas (através de um grupo de tomada de consciência), e porque elas trabalharam para mudar as formas de relacionamento no trabalho e interações interpessoais (através dos grupos pequenos, sem líderes onde as tarefas eram rotativas e habilidades e conhecimento divididos). Elas estavam tentando fazer isso em uma sociedade hierárquica que não nos dá modelos a não ser os da desigualdade. Certamente, um conhecimento sobre teoria anarquista e modelos de organização teria ajudado. Equipadas desse conhecimento, as feministas radicais talvez teriam evitado alguns dos erros que fizeram – e talvez estivessem melhor capacitadas para superar algumas das dificuldades elas encontraram ao tentar simultaneamente transformar a si mesmas e a sociedade.

Tome, por exemplo, o debate ainda corrente das “mulheres fortes” e a questão intimamente ligada da liderança. A posição das feministas radicais pode ser resumida dessa forma:

1- As mulheres tem sido minorizadas porque estão isoladas umas das outras e estão emparelhadas com homens em relações de dominação e submissão.

2- Os homens não vão libertar as mulheres; as mulheres devem libertar a si mesmas. Isso não pode acontecer se cada mulher tenta se libertar sozinha. Assim, as mulheres devem trabalhar juntas em um modelo de ajuda mútua.

3- “A irmandade é poderosa”, mas as mulheres não podem ser irmãs se recapitulam padrões masculinos de dominação e submissão.

4- Novas formas organizacionais devem ser desenvolvidas. A forma básica é o pequeno grupo sem liderança; os comportamentos mais importantes são o igualitarismo, apoio mútuo e o compartilhamento de habilidades e conhecimento.

Se muitas mulheres aceitam isso, muitas mais não. Algumas eram contra desde o começo; outras viram de primeira que isso era difícil de por em prática, e lamentavelmente concluíram que um idealismo tão bonito nunca funcionaria.

Suporte ideológico àquelxs que rejeitam os princípios apresentados pelas “anarquistas inconscientes” foi dado em dois documentos que circularam rapidamente entre jornais e organizações de libertação das mulheres. O primeiro foi o discurso feito por Anselma dell’Olio no segundo Congresso por União das Mulheres, que aconteceu em maio de 1970 em Nova Iorque. O discurso, intitulado Divisão e Auto-Destruição no Movimento das Mulheres: Uma Carta de Desligamento [Resignation, abandono], dava os motivos de Dell’Olio para sair do movimento. O segundo documento foi A Tirania da Falta de Estrutura de Joreen, que apareceu pela primeira vez em 1972 na Segunda Onda. Ambos levantaram questões sobre práticas organizacionais e pessoais que foram, e ainda são, tremendamente importantes para o movimento das mulheres.

“Eu venho anunciar minha derradeira participação no movimento das mulheres… Eu fui destruída… Eu aprendi há 3 anos e meio atrás que as mulheres sempre foram divididas umas com as outras, que eram auto-destrutivas e repletas de raiva impotente. Eu nunca sonhei que veria o dia em que essa raiva, mascarada de um radicalismo pseudo-igualitário sob a bandeira de “pro-mulher”, se tornaria fascismo anti-intelectual assustadoramente vicioso da esquerda, e usado dentro do movimento para derrubar irmãs apontadas com toda sutileza e justiça de uma corte do Ku Klux Klan. Estou me referindo, é claro, ao ataque pessoal, evidente e odioso, que mulheres do movimento, as quais penosamente conseguiram algum grau de realização, foram submetidas… Se você é… realizada é imediatamente rotulada de uma aventureira oportunista, uma cruel mercenária, tentando ganhar fama e fortuna por aí em cima dos cadáveres de irmãs altruístas que queimaram suas habilidades e sacrificaram suas ambições pela glória maior do Feminismo… se você teve a desgraça de ser sincera e clara, você é acusada de ser louca por poder, elitista, racista, e por fim o pior adjetivo: IDENTIFICADA COM A MASCULINIDADE”[9]

Quando Anselma Dell’Olio deu esse adeus raivoso ao movimento, fez duas coisas: para algumas mulheres, trouxe a questão de como as mulheres podem em relações de poder desiguais entre elas sem destruir uma a outra. Para outras, causou quase o oposto – deu justificativa fácil para todas as mulheres que têm dominado outras mulheres de uma forma não-irmã. Qualquer uma que fosse envolvida com a libertação das mulheres naquele tempo sabe que a declaração de Dell’Olio foi retorcida por algumas mulheres exatamente dessa maneira: Chame a si mesma de assertiva (enérgica/segura), ou forte, ou talentosa e você pode dar outro nome a uma boa porção de comportamentos feios, insensíveis e opressores. As mulheres que se apresentam como heroínas trágicas destruídas por suas “irmãs” invejosas ou disfarçadas (e, é claro, muito menos talentosas) podem contar com a resposta compreensiva de algumas mulheres.

Da mesma forma, as mulheres que estavam envolvidas com o movimento naquele tempo sabem que o tipo de coisa que Dell’Olio falou sobre realmente aconteceram, e elas não deviam ter acontecido. Um conhecimento de teoria anarquista não é o bastante, é claro, para prevenir ataques indiscriminados a mulheres. Mas na luta de aprender novas formas de se relacionar e trabalhar umas com as outras, tal conhecimento poderia – só poderia – ter prevenido alguns desses erros destrutivos.

Ironicamente esses erros foram motivados pela aversão do feminismo radical pelas formas convencionais de poder, e o as relações pessoais desumanas que resultam de um grupo de pessoas tendo poder sobre outras. Quando as feministas radicais e as feministas anarquistas falam de abolir o poder, elas querem dizer se livrar de todas as instituições, todas as formas de socialização, todas as maneiras em que as pessoas são coercitivas com outras – e se sujeitam a serem coagidas.

Um problema maior surgiu ao definir a natureza da coerção no movimento das mulheres. A hostilidade contra a mulher “forte” surgiu porque ela poderia, pelo menos potencialmente, ser coercitiva com mulheres que fossem menos articuladas, menos auto-confiantes, menos contundentes do que ela. A coerção costuma ser muito mais sutil do que a força física ou a sanção econômica. Uma pessoa pode ser coercitiva com outra sem tirar seu emprego, ou golpeá-la ou a atirando na cadeia.

As mulheres fortes começaram com uma vantagem tremenda. Muitas vezes, elas sabiam mais. Certamente elas tinham há muito tempo superado a socialização traumatizante que enfatizou o comportamento passivo, tímido, dócil, conformista – o comportamento que ensinou as mulheres a sorrir quando não estão achando graça, a sussurrar quando querem gritar, a abaixar os olhos quando alguém olha agressivamente para elas. As mulheres fortes não estavam aterrorizadas de falar em público; elas não estavam com medo de fazer tarefas “masculinas”, ou de tentar algo novo. Ou pelo menos pareceu isso.

Ponha uma mulher “forte” no mesmo grupo pequeno que mulheres “fracas”, e ela se torna um problema: Como ela não domina? Como ela compartilha suas confidencias e habilidades arduamente adquiridas com suas irmãs? Do outro lado – como as mulheres “fracas” aprendem a agir por conta própria? Como alguém pode conceber a ajuda “mútua” numa situação de mão-única? De “irmandade” quando os membros “fracos” não se sentem iguais ao membro “forte”?

Essas são perguntas complicadas, sem respostas simples. Talvez o mais próximo que possamos chegar é com o lema anarquista, “um povo forte não precisa de líderes”. Aquelxs de nós que aprendemos a sobreviver dominando outrxs, assim como aquelxs que aprenderam a sobreviver aceitando a dominação, precisamos re-socializar nós mesmxs a sermos fortes sem jogar jogos de dominação-submissão, a controlar o que acontece conosco sem controlar xs outrxs. Isso não pode ser feito elegendo as pessoas certas para cargos ou seguindo a linha certa de partido; nem pode ser feito sentando e refletindo sobre nossos pecados. Nós reconstruímos nós mesmas e o mundo através da atividade, através de sucessos parciais, fracasso, e mais sucessos parciais. E a todo tempo ficamos mais fortes e auto-confiantes.

Se Anselma dell’Olio criticou a prática pessoal das feministas radicais, Joreen levantou algumas questões pesadas sobre a estrutura organizacional. A Tirania da Falta de Estrutura [10] mostrou que não existe isso de um grupo “sem estrutura” e as pessoas que alegam existir estão enganando a si mesmas. Todos os grupos tem uma estrutura; a diferença é se a estrutura está ou não explícita. Se está implícita, elites escondidas certamente existirão e controlarão o grupo – e todo mundo, xs líderes e xs lideradas, vai negar ou ficar confuso pelo controle que existe. Essa é a “tirania” da falta de estrutura. Para superar isso os grupos precisam definir estruturas explícitas, abertas, que sirva a associação.

Qualquer feminista anarquista, eu acho, concordaria com a análise dela – até esse ponto e nada além. Joreen também disse que os auto-entitulados “grupos sem liderança e sem estrutura” eram incapazes de ir além da teoria para a ação. Não somente sua falta de estrutura aberta, mas também seu pequeno tamanho e ênfase na tomada de consciência (teoria) estavam destinadas a fazer dele ineficaz.

Joreen não disse que os grupos de mulheres devem ser hierarquicamente estruturados. Na verdade ela tratou de uma liderança que seria “difusa, flexível, aberta e temporária”; para organizações que pretendiam construir responsabilidade, difusão do poder entre o maior número de pessoas, rotatividade de tarefas, compartilhar habilidades, e disseminar informação e fontes. Todos os bons princípios de organização do anarquismo social! Mas a minorização dela a cerca da tomada de consciência e sua preferência por organizações grandes regionais e nacionais estavam estreitamente ligadas a velha forma de fazer as coisas, e implicitamente aceitava a manutenção de estruturas hierárquicas.

Grupos grandes são organizados de forma que o poder e a tomada de decisões são delegadas para poucos – a não ser, é claro, que se esteja falando de uma rede horizontalmente coordenada de pequenos coletivos, o que ela não mencionou. Como um grupo como o NOW (Organização Nacional de Mulheres), com seus 60.000 membros em 1975, distribui tarefas, divide habilidades e assegura que todas as informações e fontes estejam disponíveis para todo mundo? Não consegue, é claro. Grupos assim tem um presidente, tem um quadro de diretores, um escritório nacional, e associados – alguns dos quais estão em filiais locais, alguns são membros isolados. Poucos desses grupos tem democracia direta e poucos ensinam seus membros novas formas de trabalhar e se relacionar uns com os outros.

O efeito infeliz de A Tirania da Falta de Estrutura é que pôs junto grandes organizações, estrutura formal e ações diretas bem sucedidas de uma forma que pareceu fazer sentido para muitas pessoas. Muitas mulheres sentiram que para combater a opressão social, uma organização grande era essencial, e que quanto maior melhor. A imagem é força confrontando força: Você não mata um elefante com uma pistola de ar, e você não derruba o Estado patriarcal com um grupo pequeno. Para mulheres que aceitam o argumento de que o maior tamanho está relacionada com a maior efetividade, as opções organizacionais parecem limitadas a grandes grupos liberais como o NOW ou a organizações socialistas que são organizações de massa.

Assim como muitas coisas que parecem fazer sentido, a lógica é defeituosa. “Opressão social” é uma reificação, uma entidade inventada, paralizante e exagerada que é basicamente no sentido de que as mesmas opressões acontecem com muitxs de nós. Mas as opressões, não importa o quão universais (penetrantes), o quão previsíveis, quase sempre nos são feitas por alguém – mesmo se essa pessoa está agindo como agente do Estado, ou como um membro da raça, gênero ou classe dominante. As investidas massivas da polícia sobre nossas forças organizadas são poucas; até o policial ou o chefe ou o marido que está exercendo sua porção de sexismo ou papel autoritário nos intersepta num dado ponto da nossa vida cotidiana. A opressão institucionalizada existe, em larga escala, mas raramente precisa ser atacada (na verdade, raramente pode ser atacada) por um grande grupo. Táticas de guerrilha feitas por um pequeno grupo – ocasionalmente até por um único indivíduo – servirão muito bem para retaliação.

Outro efeito infeliz da mentalidade da Tirania da Falta de Estrutura é que alimentou os estereótipos  das pessoas sobre anarquistas. (É claro que as pessoas só consomem algo se demandam por algo). Anarquistas sociais não são opostos à estrutura: nem sequer são contrários à liderança, desde que não acarrete nenhuma recompensa ou privilégio, e que seja temporária e específica para uma meta particular. No entanto, xs anarquistas, que desejam abolir uma estrutura hierarquizada, são quase sempre estereotipadxs como não querendo nenhuma forma de estrutura. Infelizmente, a imagem de um bando de mulheres anarquistas, desorganizadas e caóticas, vagando à deriva sem direção, pegou. Por exemplo, em 1976 a Quest relançou e editou a transcrição de uma entrevista que Charlott Bunch e Beverly Fisher deram para a Feminist Radio Network em 1972. De um lado, o mais interessante da entrevista é que xs editorxs da Quest sentiram que as questões estavam ainda em dia em 1976. [11] (“Nós vemos o mesmo desprezo por líderes e glorificação da falta de estrutura que existia há uns anos atrás” p.13). Mas o que Bunch tinha a dizer naquele tempo era também extremamente interessante: de acordo com ela, a ênfase em resolver problemas de estrutura e liderança era “um desejo anarquista muito forte. Era um desejo bom, mas irrealista” (p.4).

Anarquistas, acostumadxs a serem chamadxs de “irrealistas”, notarão que a irrealidade daquilo tudo aparentemente estava nos problemas que o movimento das mulheres estava tendo em organizar a si mesmo – problemas de liderança oculta, de “líderes” impostxs pela mídia, a dificuldade de alcançar mulheres interessadas mas não envolvidas, do super-representação de mulheres de classe média cheias de tempo sobrando, do movimento amorfo, da escassez de grupos com metas específicas que as mulheres possam aderir, da hostilidade contra mulheres que tentaram demonstrar liderança ou iniciativa. Uma acusação pesada! Ainda assim, esses problemas sérios não foram causados pelo anarquismo, nem serão sanados com doses de vanguardismo ou reformismo. E ao taxarem essas dificuldades organizacionais de “anarquistas”, as feministas ignoram uma rica tradição anarquista, enquanto ao mesmo tempo propõe soluções que são -embora aparentemente elas não saibam – anarquistas. Bunch e Fisher expuseram um modelo de liderança no qual todxs participam na formulação das decisões; e a liderança é específica para uma situação em particular e por tempo limitado. Fisher criticou o NOW por ter “uma liderança hierárquica que não tem responsabilidade com a vastidão de membros”(p.9) e Bunch colocou, “liderança são pessoas tomando iniciativa, dando meios das coisas acontecerem, tendo idéias e imaginação para começar algo, e apresentando habilidades particulares para areas diferentes”(p.8). Como elas sugerem que nós previnamos o silenciamento dessas mulheres sobre falsas noções de igualdade? “A única forma das mulheres pararem de depreciar mulheres fortes, é que elas mesmas sejam fortes” (p.12). Ou, como disse antes, um povo forte não precisa de líderes. E tenho o dito!

Situacionismo e feminismo anarquista

“Transformar o mundo e mudar a estrutura da vida são a mesma única coisa”. [12]

“O pessoal é político”. [13]

Os anarquistas estão acostumadxs a ouvir que elxs não tem uma teoria que ajude a construir uma nova sociedade. Na melhor das hipóteses, dizem paternalmente seus detratores, o anarquismo nos diz o que não fazer. Não permite burocracia ou estruturas hierárquicas; não deixa um grupo de vanguarda tomar as decisões; não pise em mim. Não pise em ninguém. De acordo com essas perspectiva, o anarquismo não é de forma alguma uma teoria. É um conjunto de práticas cautelosas, as vozes da consciência libertária – sempre idealista, as vezes um pouco truculenta, ocasionalmente anacrônica, mas um lembrete necessário.

Existe mais de um núcleo de verdade nessa objeção. Da mesma forma, existem variados pensamentos anarquistas que podem oferecer um enquadramento teórico para analisar o mundo e tomar atitudes para mudá-lo. Para as feministas radicais que querem dar esse “passo em direção a um desenvolvimento teórico auto-consciente” [14], talvez o maior potencial esteja no Situacionismo.

O valor do Situacionismo para uma análise anarca-feminista é que ele combina a consciência socialista dos primórdios da opressão capitalista com a ênfase anarquista em transformar tanto a vida pública como a privada. O ponto da opressão capitalista é importante: com muita frequencia anarquistas parecem esquecer que esse sistema econômico explora a maioria das pessoas. Mas com muita frequencia socialistas – especialmente marxistas – estão cegos para o fato de que as pessoas são oprimidas em todos os aspectos da vida: trabalho, lazer, cultura, relacionamentos pessoais – todos. E somente xs anarquistas insistem que as pessoas devem transformar as condições de suas vidas elas mesmas – ninguém pode fazer isso por elas. Nem o partido, nem o Estado, nem “organizadores”, nem ninguém.

Dois conceitos básicos do Situacionismo são “mercadoria” e “espetáculo”. O capitalismo fez de todas as relações sociais, relações de mercado: O Mercado manda em tudo. As pessoas não são apenas produtoras e consumidoras no estreito sentido econômico, mas a estrutura de sua vida cotidiana é baseada em relações financeiras. A sociedade “é consumida como um todo – o conjunto das relações sociais e estruturas é o produto central da economia de mercado” [15]. Isso inevitavelmente alienou as pessoas de suas vidas, não só do trabalho; consumir relações sociais faz da pessoa uma espectadora passiva de sua própria vida. O espetáculo, então, é a cultura que nasce da economia de mercado – o palco está montado, a ação de desenrola, nós aplaudimos quando pensamos que estamos felizes, nós bocejamos quando achamos que estamos entediados, mas não podemos deixar o show, porque não existe mundo fora do teatro para irmos.

Nos últimos anos, no entanto, o palco social tem começado a esfacelar-se, e assim existe a possibilidade de construir um outro mundo fora do teatro – dessa vez, um mundo real, onde cada umx de nós participa como sujeito e não como objeto. A frase situacionista para essa possibilidade é “a reinvenção da vida cotidiana”.

Como a vida cotidiana pode ser recriada? Criando situações que rompam com o que parece ser a ordem natural das coisas – situações que sacudam as pessoas para fora da forma costumeira de pensar e agir. Só então elas terão meios de agir, de destruir o espetáculo manufaturado e a economia da mercadoria- isto é, o capitalismo em todas as suas formas. Só assim elas estarão livres para criar vidas livres e não alienadas.

A congruência desse ativismo, a teoria do anarquismo social com a teoria do feminismo radical é surpreendente. Os conceitos de mercadoria e espetáculo são especialmente aplicáveis às vidas das mulheres. Na verdade, muitas feministas radicais descreveram eles em detalhe, sem localizá-los no quadro situacionista [16]. Fazer isso abrange a análise ao mostrar a situação da mulher como parte orgânica da sociedade como um todo, mas ao mesmo tempo sem jogar os jogos reducionistas do socialismo. A opressão das mulheres é parte da opressão geral da economia capitalista sobre as pessoas, mas não é menos uma opressão do que as outras. Nem – de uma perspectiva situacionista- você precisa ser de um tipo particular de mulher para ser oprimida; você não precisa ser parte do proletariado, tanto literalmente enquanto uma trabalhadora industrial, nem metaforicamente como alguém que não é rico. Você não tem que esperar ansiosamente por um manifesto socialista feminista para lhe dizer que você tem os requisitos – como dona de casa (reproduzindo a próxima geração de trabalhadores), como trabalhadora de escritório, como estudante ou profissional de classe média empregada pelo Estado (e assim parte da “nova classe trabalhadora”). Você não precisa ser parte do terceiro mundo, ou lésbica, ou idosa, ou alvo de políticas de bem-estar. Todas essas mulheres são objetos na economia de mercado; todas são espectadoras passivas do espetáculo. Obviamente, mulheres em algumas situações estão muito piores do que outras. Mas, ao mesmo tempo, nenhuma delas é livre em todas as áreas de suas vidas.

Mulheres e a Economia de Mercado

As mulheres têm um relacionamento dual com a economia de mercado – elas são ao mesmo tempo consumidoras e consumidas. Como donas de casa, elas são consumidoras de bens domésticos comprados com dinheiro que não pertence a elas, porque não foi “ganho” por elas. Isso deve dar a elas uma certa quantidade de poder de consumo, mas muito pouco poder sobre qualquer aspecto de suas vidas. Como jovens e heterossexuais solteiras, as mulheres consomem bens feitos para dar um alto preço no mercado do casamento. Como qualquer outra coisa –    como lésbica, ou como solteira em idade avançada, ou como mulher auto-suficiente com “carreira”, o relacionamento das mulheres com o mercado enquanto consumidoras não é tão bem definido. Se espera que elas comprem (e quanto melhor sua situação, mais se espera que elas comprem), mas para algumas categorias de mulheres, comprar não é definido primordialmente como o papel que uma mulher deve desempenhar.

Então o que mais é novidade? Não é a idéia da mulher como consumidora passiva, manipulada pela mídia e que se envolve com homens viscosos um cliche exagerado do movimento? Bem, sim – e não. Uma análise situacionista amarra o consumo de bens econômicos ao consumo de bens ideológicos, e então, nos diz para criarmos situações (ações de guerrilha em diversos níveis) que quebrem esse padrão de aceitação social do mundo como ele é. Sem acusações; não vou criticar mulheres que “compraram” a perspectiva de consumidora. Para aquelas que realmente compraram: isso foi vendido a elas como um meio de sobrevivência desde os primeiros momentos de suas vidas. Compre isso: Tornará você bonita e adorável. Compre isso: Vai deixar sua família mais saudável. Está deprimida? Se trate com um dia no salão de beleza ou com um novo vestido!

A culpa leva a inação. Somente a ação, para re-inventar a vida cotidiana e torná-la outra coisa, mudará as relações sociais.

O Presente

Pensando que ela era o presente

Eles começaram a empacotá-la antes do tempo.

Eles poliram seu sorriso

Eles abaixaram os seus olhos

Eles plugaram suas orelhas no telefone

eles fizeram cachinhos em seu cabelo

eles endireitaram os dentes

eles a ensinaram a enterrar seus desejos

eles derramaram mel pela sua goela a baixo

eles a fizeram dizer sim, sim e sim

eles a deixaram imobilizada

Aquela caixa tem meu nome,

disse o homem. É para mim.

E eles não estavam surpresos.

Enquanto eles sopravam beijinhos e me piscavam

ele levou pra casa. Colocou na mesa

onde seus amigos podiam averiguar

dizendo dance, dizendo mais rápido.

Ele a afundou para longe da saída

e queimou o nome dele mais fundo.

Depois ele a colocou em uma plataforma

debaixo dos holofotes

dizendo vai, dizendo mais forte

dizendo assim que eu queria

você me deu um filho.

Carole Oles [17]

As mulheres não são apenas consumidoras na economia de mercado; elas são consumidas como mercadoria. É disso que fala o poema de Oles, e isso é o que Tax chamou de “esquizofrenia feminina”. Tax constrói um monólogo interior para a dona-de-casa-mercadoria: “Não sou nada quando estou sozinha comigo mesma. Em mim mesma, não sou nada. Só sei que existo se sou desejada por alguém que é real, meu marido, e pelos meus filhos”.[18]

Quando as feministas descrevem a socialização nos papéis sexuais de mulher, quando elas apontam as características que garotas são ensinadas a ter (dependência emocional, infantilidade, timidez, preocupação em ser bonita, docilidade, passividade e assim vai), elas estão falando da fabricação cuidadosa de um produto – apesar de não se chamar assim normalmente. Quando elas descrevem a opressão da objetificação sexual, ou de viver em família nuclear, ou de ser uma Supermãe, ou de ser trabalhadora precarizada, subempregos com baixo salário que são ocupados majoritariamente por mulheres, elas também estão descrevendo a mulher enquanto mercadoria. As mulheres são consumidas por homens que as tratam como objetos sexuais; são consumidas por seus filhos (que elas mesmas produziram!) quando eles compram o papel da Supermãe; são consumidas por maridos autoritários que esperam que elas sejam servas submissas; e elas são consumidas por patrões que as mantém instáveis na força de trabalho ativa e que extraem o máximo trabalho pelo menor salário. Elas são consumidas por pesquisadores médicos que experimentam nelas novos e inseguros contraceptivos. São consumidas por homens que compram seus corpos nas ruas. São consumidas pelo Estado e pela Igreja, que esperam que proliferem a próxima geração pela glória de deus e do país; são consumidas por organizações políticas e sociais que esperam que elas “voluntariem” seu tempo e energia. Elas tem pouca noção de si mesmas porque sua pessoa enquanto identidade foi vendida para os outros.

Mulheres e o Espetáculo

É difícil consumir pessoas que travaram uma luta, que resistem à canibalização de seus corpos, mentes e suas vidas. Algumas pessoas tentam resistir, mas não o fazem de forma efetiva, porque não podem. É difícil localizar nosso carrasco, porque é tão difuso, tão familiar. Nós o conhecemos a vida inteira. É a nossa cultura.

Os situacionistas caracterizam nossa cultura como um espetáculo. O espetáculo nos trata a todxs como espectadorxs passivxs do que nos dizem ser nossas vidas. E a cultura-como-espetáculo cobre a tudo: nós nascemos nisso, somos socializadas nisso, vamos para a escola nisso, trabalhamos, relaxamos e nos relacionamos com outras pessoas dentro disso. Mesmo quando nos rebelamos contra isso,  a rebelião geralmente é definida pelo espetáculo. Alguém se importaria em fazer uma estimativa de quantos homens adolescentes sensíveis e alienados que há uma geração atrás  modelaram seu comportamento como James Dean em Juventude Transviada? Estou falando de um filme, cujos produtores capitalistas e cujo astro fizeram uma bagatela em dinheiro com seu espatáculo.

Os atos rebeldes, tendem então a serem atos contra o espetáculo, mas raramente diferem dele ao ponto de transcender o espetáculo. As mulheres tem uma série de comportamentos que demonstram insatisfação em ser o oposto do que se espera. Ao mesmo tempo esses atos são cliches da rebeldia, e assim são quase prescritas como válvulas de escape seguras que não alteram o teatro em nossas vidas. O que se espera que uma mulher rebelde faça? Podemos todos nomear as atitudes – elas aparecem em todos os jornais, no horário nobre da TV, nas lista dos best-sellers, nas revistas populares – e, é claro, na vida cotidiana. Num contexto em que se preza pela manutenção perfeita da casa, ela pode ser uma desleixada; em uma subcultura que preza por grandes famílias, ela pode se negar a ter filhos. Alguma outra insurgência previsível? Ela pode desafiar o padrão de binarismo sexual para mulheres casadas tendo um caso (ou muitos); ela pode beber; ou ela pode usar o que é visto como linguagem de “baixo calão”; ou ela pode ter uma crise nervosa; ou -se ela é adolescente- pode ter um impulso e fugir de casa e transar com muitos homens.

Qualquer uma dessas coisas pode tornar a vida de uma mulher individualmente mais tolerável (com frequência também fazem o contrário); todas elas são garantias para o discurso conservador de que a sociedade está ruindo. Mas esses tipos de insurreições previstas não a fizeram ruir ainda, e, por si só, não farão. Qualquer coisa menos que um ataque direto a todas as condições de nossas vidas não será o bastante.

Quando as mulheres falam de mudar os papéis sexuais destrutivos em que são socializadas, elas escolhem uma das 3 soluções possíveis: (a) garotas devem ser socializadas mais ou menos como garotos para serem independentes, competitivas, agressivas e assim por diante. Em poucas palavras, como é um mundo dos homens, as mulheres que querem se encaixar dele devem ser “como um dos caras”. (b) devemos glorificar o papel de gênero feminino e perceber que aquilo que havíamos chamado de fraqueza, na verdade é força. Devemos ser orgulhosas de ser maternais, provedoras, sensíveis, emotivas… e assim por diante. (c) As pessoas andrógenas são as únicas saudáveis: devemos erradicar as fronteiras artificiais que dividem a humanidade entre masculino e feminino, e ajudar ambos a se tornarem uma mistura do que há de melhor traço em cada.

Com esses três modelos, as possibilidades de soluções pessoais para problemas de opressão sexista são bem abrangentes: ficar solteira; viver em comunidade (com homens e mulher ou apenas com mulheres). Não ter filhos; não ter filhos homens; ter quantos filhos quiser, mas deixar que seus parentes cuidem ou pagar alguém/alguma instituição para cuidar deles. Ter um emprego; conseguir um emprego ainda melhor; fazer pressão para receber ações afirmativas. Ser uma consumidora informada; vestir a camisa de uma causa;  aprender karate; receber treinamento de auto-confiança. Desenvolver a lésbica dentro de você. Desenvolver sua identidade de proletariada. Tudo isso faz sentido em algumas situações, para algumas mulheres. Mas todas elas são soluções parciais para problemas muito maiores, e nenhuma delas implica necessariamente em ver o mundo de forma qualitativamente diferente.

Assim, vamos de soluções particulares para mais gerais. Destruir o capitalismo. Acabar com o patriarcado. Derrubar o heterossexismo. Todas são tarefas óbvias na construção de um mundo novo e verdadeiramente humano. Marxistas, outros socialistas, anarquistas sociais, feministas – todos concordariam. Mas o que o socialismo, e até alguns feminismos, deixam de fora é isso: devemos destruir todas as formas de dominação. Isso não é só um slogan, e é a tarefa mais difícil de todas. Significa que devemos enxergar através do espetáculo, destruir os cenários e palcos, saber que existem outras formas de fazer as coisas. Significa que devemos fazer mais que reagir em rebeliões programadas – devemos agir. E nossas ações serão feitas coletivamente enquanto cada um age anonimamente. Parece contraditório? Não é – mas será muito difícil de fazer. O indivíduo não consegue mudar muita coisa, por essa razão devemos agir juntxs. Mas esse trabalho deve ser feito sem líderes como conhecemos até então, sem delegar nenhum controle sobre o que fazemos e sobre o que queremos construir.

Os socialistas podem fazer isso? Ou as matriarcas? Ou o pessoal das viagens espirituais? Você sabe a resposta. Trabalhe com elxs quando fazer sentido que se deva trabalhar, mas não abra mão de nada. Não ceda nada a eles ou a nenhuma outra pessoa.

O passado nos leva a algum lugar se o forçamos a isso.

Caso contrário, ele nos mantém

em seu asilo sem portões.

Ou nós fazemos a história,

ou ela nos faz. [19]

  • 1. Barbara Ehrenreich, “What is Socialist Feminism?”, Win Magazine, June 3, 1976, p.4.
  • 2. The best of these arguments I’ve encountered are “Socialist Feminism; A Strategy for the Women’s Movement”, by the Hyde Park Chapter, Chicago Women’s Liberation Union, 1972; and Charlotte Bunch, “The Reform Tool Kit”, Quest, 1:1, Summer 1974, pp.37-51.
  • 3. Reports by Polly Anna, Kana Trueblood, C. Corday and S. Tufts, The Fifth Estate, May, 1976, pp. 13, 16. The ” revolution” failed: FEN and its club shut down.
  • 4. People who are interested in reading reports of the conference will find them in almost every feminist or socialist newspaper that appeared in the month or so after July 4th. Speeches by Barbara Ehrenreich, Michelle Russell, and the Berkeley-Oakland Women’s Union are reprinted in Socialist Revolution, No. 26, October-December 1975; and the speech by Charlotte Bunch, “Not for Lesbians Only”, appears in Quest, 2:2, Fall 1975. A thirty-minute audiotape documentary is available from the Great Atlantic Radio Conspiracy, 2743 Maryland Avenue, Baltimore, Maryland 21218.
  • 5. Farrow, “Feminism as Anarchism”, Aurora, 4, 1974, p.9; Kornegger, “Anarchism: The Feminist Connection”, Second Wave, 4: 1, Spring 1975, p.31; Leighton, “Anarcho-Feminism and Louise Michel”, Black Rose, 1, April 1974, p. 14.
  • 6. December, 1, 1970, p.11.
  • 7. Lilith’s Manifesto, from the Women’s Majority Union of Seattle, 1969. Reprinted in Robin Morgan (ed.), Sisterhood is Powerful. N.Y.: Random House, 1970, p.529.
  • 8. The best and most detailed description of the parallels between radical feminism and anarchist feminism is found in Kornegger, op cit.
  • 9. The speech is currently available from KNOW, Inc.
  • 10. The Second Wave, 2:1, 1972.
  • 11. “What Future for Leadership?”, Quest, 2:4, Spring 1976, pp.2-13.
  • 12. Strasbourg Situationists, Once the Universities Were Respected, 1968, p.38.
  • 13. Carol Hanisch, “The Personal is Political”, Notes from the Second Year. N.Y.: Radical Feminism, 1970, pp. 76-78.
  • 14. Leighton, op cit.
  • 15. Point-Blank!, “The Changing of the Guard”, in Point-Blank, October 1972, p.16.
  • 16. For one of the most illuminating of these early analyses, see Meredith Tax, “Woman and Her Mind: The Story of Everyday Life”, Boston: Bread and Roses Publication, 1970.
  • 17. Carole Oles, “The Gift”, in 13th Moon, II: 1, 1974, p. 39.
  • 18. Tax, op cit., p. 13.
  • 19. Marge Piercy, excerpt from “Contribution to Our Museum”, in Living in the Open. N.Y.: Knopf, 1976, pp.74-75.

De Chiapas a Rojava: mais do que apenas coincidências

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06 Feb 2015 Por Petar Stanchev
Kurdish Question: From Chiapas to Rojava – more than just coincidences

Tradução Talita Rauber, Co-Tradução e revisão: Andreza Cassolatto

Autonomia reúne duas revoluções: na esquerda e de baixo.

“Poder para o povo” só pode
ser posto em prática quando o poder exercido pelas elites sociais é
dissolvido nas pessoas. ”
-Murray Bookchin,Anarquismo pós-escassez

e63eba4a60c5a7383338249762b2606c_L_602x298Em grande parte desconhecida até recentemente, a cidade curda de Kobane atraiu a atenção mundial à sua forte resistência [i] contra a invasão do Estado Islâmico, e tornou-se um símbolo internacional, comparada à defesa de Madrid e Stalingrado. A bravura e heroísmo das Unidades de Defesa Popular e das Unidades de Defesa da Mulher (YPG e YPJ) foram elogiados por grande parte de grupos e indivíduos – anarquistas, esquerdistas, liberais e até mesmo direitistas expressaram solidariedade e admiração pelos homens e mulheres de Kobane em sua batalha histórica contra o que foi frequentemente considerado “fascismo” do Estado Islâmico. A grande mídia foi forçada a quebrar o silêncio sobre a autonomia curda, e logo vários artigos e notícias foram transmitidos e publicados, muitas vezes retratando a “dureza” e determinação dos combatentes curdos com uma certa dose de exotismo, é claro. No entanto, essa atenção foi muitas vezes seletiva e parcial – a verdadeira essência do projeto político em Rojava (Curdistão ocidental) foi deixada de lado e a mídia preferiu apresentar a resistência em Kobane como alguma exceção estranha à suposta barbárie do Oriente Médio. Sem surpresa, a estrela vermelha, brilhando nas bandeiras vitoriosas do YPG/YPJ não era uma imagem agradável aos olhos das potências ocidentais e dos seus meios de comunicação. Os cantões autônomos de Rojava representam uma solução caseira para os conflitos no Oriente Médio, que engloba a democracia de base e direitos étnicos, sociais e de gênero, e tudo isso sendo rejeitado tanto pelo terror do Estado Islâmico como também pela democracia liberal e pela economia capitalista. Embora o Ocidente tenha preferido ficar em silêncio sobre esta questão, este fundamento ideológico é a chave para a compreensão do espírito que escreveu a epopeia de Kobane, e que fascinou o mundo, como o ativista curdo e acadêmico, Dilar Dirik, afirmou recentemente [ii].

Enquanto as batalhas em cada rua e canto da cidade intensificava, Kobane deu um jeito de cativar a imaginação da esquerda e, especificamente, da esquerda libertária como um símbolo de resistência e luta, e logo isso estava posto no panteão de algumas da mais emblemáticas batalhas da humanidade, assim como a defesa de Madrid contra os fascistas nos anos 1930. Não foi à toa que o Grupo Turco Marxista Leninista (MLKP) se juntou às YPG/YPJ no campo de batalha, levantou a bandeira da república espanhola sobre das ruínas da cidade no dia de sua libertação e chamou pela formação das Brigadas Internacionais[iii], seguindo o exemplo da revolução espanhola. Não era apenas pela batalha de Kobane em si, mas pela essência libertária dos cantões de Rojava, pela implementação de uma democracia de base de direta, pela participação das mulheres e dos diferentes grupos étnicos dentro de um governo autônomo que se deram as comparações à revolução espanhola. Outra associação brevemente mencionada em vários artigos – a revolução em Rojava e seu governo autônomo foi comparado aos Zapatistas e sua autonomia no sul do México. A importância dessa comparação pode ser crucial para entender o paradigma da luta revolucionária no Kurdistão e o que isso significa para aqueles que acreditam que outro mundo é possível.

O movimento zapatista é provavelmente um dos elementos mais simbólicos e influenciadores da imaginação revolucionária no mundo após a queda dos regimes estado-socialistas no final dos anos 80 e início dos anos 90. Na manhã de 1º de Janeiro de 1994, uma guerrilha armada e desconhecida, composta por indígenas maias, tomou as principais cidades da parte sul do estado do México – Chiapas. A operação militar foi levada adiante com uma brilhante estratégia somada à inovação da internet, o que facilitou que a mensagem se espalhasse aos revolucionários, que ecoou no globo para inspirar a solidariedade internacional e fazer emergir o movimento de Alter-Globalização. Os Zapatistas se rebelaram contra o capitalismo neoliberal e contra o genocídio cultural e social da população indígena do México. Ya Basta, Já Basta, era seu grito de guerra que emergiu na noite dos “500 anos de opressão”, como dito na Primeira Declaração da Selva Lacandona. Os Zapatistas revoltaram-se quando o capital global estava celebrando o “fim da história” e a ideia de que a revolução social parecia ser um anacronismo romântico que pertencia ao passado. O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) foi forçado para fora das cidades em 12 dias de intensas batalhas com o exército federal, mas mostrou-se que a profunda organização horizontal das comunidades indígenas não poderia ser erradicada por qualquer intervenção militar ou terror. O porta-voz mascarado do exército rebelde, Subcomandante Marcos, desafiou a noção de vanguarda histórica como oposta à revolução de base, que não tem objetivo de tomar o poder, mas abolir o poder, e esse conceito se tornou central para a maioria dos movimentos anti-capitalistas de massa desde então – das ocupações em Seattle e Genova à Syntagma e Puerta del Sol e, inclusive, o Movimento Occupy.

Onde estão as semelhanças com a revolução de Rojava?

Do Marxismo-Leninismo à Autonomia – uma trajetória histórica compartilhada

As raízes da autonomia democrática em Rojava pode ser entendida apenas através da história do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), organização que tem sido central no movimento de libertação curda desde sua criação em 1978. O PKK foi estabilizado como uma organização guerrilheira Marxista Leninista no Norte do Curdistão, parte do estado turco, combinando as ideologias de libertação nacional e social. Ele cresceu para ser uma força guerrilheira significativa sob a liderança de Abdullah Ocalan e desafiou o segundo maior exército da OTAN em um conflito que revindicou a vida de mais de 40 mil pessoas. O estado turco desalojou centenas de milhares e supostamente usou tortura, assassinatos e estupros contra a população civil, mas não foi bem sucedido ao quebrar o pilar da resistência curda. Desde sua implementação, o PKK expandiu sua influência tanto na Turquia como nas outras partes do Curdistão. A força de liderança política na Revolução de Rojava – o Partido da União Democrática (PYD) é filiado ao PKK através da União das Comunidades Curdas (CKC), organização de cúpula que abrange vários grupos politico revolucionários, compartilhando ideias do PKK. A ideologia, que une diferentes grupos civís e revolucionários ao KCK, é chamada de confederalismo democrático e é baseada nas ideias do anarquista estadunidense chamado Murray Bookchin, que argumentou a favor de uma sociedade não-hierárquica baseada na ecologia social, no municipalismo libertário e na democracia direta.

Embora os Zapatistas sejam famosos pelo seu governo autônomo e pela rejeição da noção de vanguarda histórica, as raízes da organização também são relacionadas ao marxismo-leninismo e, assim como no caso do PKK, a ideia de auto-governo e revolução vinda de baixo foram um produto de uma longa evolução histórica. O EZLN foi fundado em 1983 por um grupo de guerrilhas urbanas, predominantemente marxista-leninistas, que decidiram começar uma célula revolucionária entre a população indígena em Chiapas, organizar uma força de guerrilha e tomar o poder através da guerra de guerrilha. Logo eles perceberam que seu dogma ideológico não era aplicável às realidade indígenas e começaram a aprender as tradições comunitárias de governo do povo indígena. Assim, o Zapatismo nasceu como uma fusão entre o Marxismo, a experiência e o conhecimento da população nativa que têm resistido ambos contra a Espanha e, mais tarde, contra o estado mexicano.

Essa trajetória ideológica compartilhada demonstra uma virada histórica na compreensão do processo revolucionário. O levante e o estabelecimento zapatista da autonomia em Chiapas marcou uma ruptura com as estratégias de guerrilha tradicionais, inspirada predominantemente pela revolução cubana, esta se fez mais do que clara na carta do porta-voz do EZLN, Subcomandante Marcos, escreveu para a organização do Movimento de Libertação Nacional Basco, ETA:

“Eu cago em todas as vanguardas revolucionárias neste planeta. [iv]”

Não era a vanguarda para liderar o povo agora; era o próprio povo para construir a revolução a partir de baixo e sustentá-la como tal. Esta é a lógica que o PKK tem encaminhado na última década sob a influência de Murray Bookchin e essa mudança demonstra uma evolução da organização de um “movimento para o povo” a “um movimento do povo”.

Cantões e Caracóis – liberdade aqui e agora

Provavelmente, a semelhança mais importante entre a revolução em Rojava e em Chiapas é a reorganização social e política que está acontecendo em ambos os lugares, a qual é baseada na ideologia libertária das duas organizações.

A autonomia zapatista em sua forma atual origina-se do fracasso das negociações de paz com o governo mexicano, após a revolta em 1994. Durante as negociações de paz, os rebeldes exigiram que o governo aderisse aos acordos de San Andres, que dão aos povos indígenas o direito à autonomia, autodeterminação, educação, justiça e de organização política, com base na sua tradição bem como no controle conjunto sobre a terra e os recursos das áreas que pertencem a eles. Esses acordos nunca foram implementadas pelo governo e, em 2001, o presidente Fox apoiou uma versão editada que foi votada no Congresso, mas que não atendia às exigências dos zapatistas e dos outros grupos de resistência. Este evento foi rotulado como “traição” e levou o EZLN a declarar dois anos depois a criação das cinco zonas rebeldes, centradas em cinco Caracoles (caracóis) que servem como centros administrativos. O nome Caracoles veio para mostrar o conceito revolucionário do Zapatistas – estamos fazendo-o nós mesmos, nós aprendemos no processo e nós avançamos, lentamente, mas avançamos. Os Caracoles [v] incluem três níveis de governo autônomo – comunidade, município e Conselho do Bom Governo. Os dois primeiros são baseados em assembleias de base enquanto que os Conselhos de Bom Governo são eleitos, mas com a intenção de obter o maior número possível de pessoas para participar do Governo ao longo dos anos através de um princípio de rotação. A autonomia tem o seu próprio sistema educacional, de saúde e de justiça, bem como as cooperativas, produzindo café, gado, artesanato etc.

Aprendemos enquanto fazemos as coisas, nós não conhecíamos sobre autonomia e nem sabíamos que iríamos construir algo parecido. Mas nós aprendemos e melhoramos coisas, e aprendemos com a luta – disse-me o meu Zapatista guardião Armando, quando visitei o território autônomo no final de 2013. A liberdade só poderia ser praticada aqui e agora, e revolução foi um processo de desafiar constantemente o status-quo e construir alternativas a isso.

Os cantões de Rojava realmente lembram a autonomia em Chiapas. Eles foram proclamados pela PYD dominante em 2013 e funcionam através das assembleias populares e conselhos democráticos estabelecidos. Mulheres participam igualmente na tomada de decisão e estão representadas em todos os cargos eletivos, que são sempre compartilhados por um homem e uma mulher. Todos os grupos étnicos são representados no governo e suas instituições. Saúde e educação também são garantidas pelo sistema de Confederalismo democrático e, recentemente, a primeira universidade de Rojava, a Academia Masepotamia, abriu as suas portas com planos para desafiar a estrutura hierárquica da educação, e para fornecer uma abordagem diferente à aprendizagem.

Assim como é no caso dos zapatistas, a Revolução em Rojava vislumbra-se como uma solução para os problemas em todo o país, não como uma expressão de tendências separatistas. Este sistema democrático genuíno, como alegado pela delegação de acadêmicos da Europa e da América do Norte [vi], que visitou Rojava recentemente, aponta para um futuro diferente do Oriente Médio, baseado na participação direta, a emancipação das mulheres e na paz étnica.

Revolução das Mulheres

O gênero sempre foi central para a revolução zapatista. A situação das mulheres antes da disseminação da organização e da adoção de liberação das mulheres como central para a luta, foi marcada pela exploração, marginalização, casamentos forçados, violência física e discriminação. É por isso que Marcos alega que a primeira revolta não foi aquela de 1994, mas a adoção da Lei Revolucionária das mulheres’, em 1993, configurando um enquadramento para a igualdade de gênero e justiça e garantindo os direitos das mulheres no território rebelde para autonomia pessoal, emancipação e dignidade. Hoje as mulheres participam de todos os níveis de governo e têm suas próprias cooperativas e estruturas econômicas para garantir sua independência económica. As mulheres formavam e ainda formam uma grande parte das fileiras da força de guerrilha zapatista e tomam posições elevadas em seu mandamento. A tomada de San Cristobal de las Casas, a cidade mais importante que as tropas zapatistas capturou durante a revolta em 1994, também foi comandada por mulheres, encabeçada por Comandanta Ramona, que também foi o primeiro Zapatista a ser enviado para cidade do México para representar o movimento.

Não é difícil comparar o envolvimento em massa de mulheres indígenas de Chiapas nas fileiras Zapatistas à participação das mulheres na defesa de Kobane e na YPJ – as Unidades de Proteção a Mulheres, ambos descritos de maneira sensacionalista [vii] pela mídia ocidental nos últimos meses. Entretanto, sua coragem e determinação na guerra contra o Estado Islâmico é um produto de uma longa tradição da participação feminina na luta armada pela libertação social no Kurdistão. Mulheres desempenharam um papel central no PKK e isso está, sem dúvida, conectado à importância do gênero na luta curda. A Revolução Rojava tem uma forte ênfase na libertação das mulheres como indispensável para a libertação social. O quadro teórico que colocou o desmantelamento do patriarcado no coração da luta é chamado “jinealogia”, um conceito desenvolvido por Abdullah Ocalan. A aplicação deste conceito resultou em um nunca visto fortalecimento da mulher não apenas no contexto do Oriente Médio, mas também no contexto do feminismo liberal ocidental. As assembleias das mulheres, estruturas cooperativas e milícias femininas são o coração da revolução, que é considerada incompleta se não destruir a estrutura patriarcal da sociedade, que é um dos fundamentos do capitalismo. Janet Biehl, uma artista e escritora independente, escreveu após sua recente viagem a Rojava que mulheres da revolução curda tem o papel ideológico do proletariado das revoluções século XX.

A ecologia da liberdade

A ecologia da liberdade é, provavelmente, o mais importante dos trabalhos de Bookchin e seu conceito de ecologia social foi adotado por revolucionários em Rojava. Sua Idea de que “a noção de dominação da natureza pelo homem vem da real dominação do homem pelo homem” liga patriarcado, destruição ambiental e capitalismo e aponta para a abolição deles como o único meio para uma sociedade justa. Como uma abordagem holística também é defendida e implementada pelos Zapatistas. Sustentabilidade tem sido um importante ponto de ênfase, especialmente depois da criação dos Caracoles em 2003. O governo autônomo tem tentado recuperar sabedoria ancestral, relacionada ao uso sustentável da terra, e combinar isso com outras práticas ecológicas. Esta lógica não é apenas uma questão de melhorar as condições de vida nas comunidades e evitar o uso de agroquímicos, é a rejeição de toda uma noção de que agricultura industrial em larga escala é superior à forma “primitiva” do povo indígena de trabalhar com a terra, e como isso é um poderoso desafio da lógica de neoliberalismo.

O caminho até a autonomia – o novo paradigma revolucionário

As similaridades entre o sistema de confederalismo democrático que está sendo desenvolvido no Curdistão ocidental e a autonomia em Chiapas vão muito além de poucos pontos que acentuei neste artigo. De slogans como “Ya Basta” adaptado em curdo como “êdî bese” até a democracia de base, estruturas econômicas comunitárias e participação das mulheres, a trajetória similar que o Movimento Curdo e os Zapatistas tem trilhado demonstra a ruptura decisiva com a noção vanguardista do Marxismo-Leninismo e uma nova abordagem para a revolução, que vem de baixo e almeja a criação e uma sociedade livre e não-hierárquica.

Embora ambos movimentos receberam algumas censuras ásperas [viii] de integrantes sectários de esquerda, o fato de que os únicos importantes e bem sucedidos experimentos em mudança social radical originam-se de grupos não ocidentais, marginalizados e colonizados vem como um tapa na cara dos “revolucionários” brancos e dogmaticamente privilegiados do norte do globo que dificilmente tem sido bem sucedidos em desafiar a opressão em seus próprios países mas tendem a acreditar em seus julgamentos de que o que é ou não uma real revolução.

A revolução em Rojava e Chiapas são poderosos exemplos para o mundo, demonstrando a enorme capacidade de organizações de base a e importância de ligações comunitárias como opositores a atomização capitalista social. Por último, mas não menos importante, Chiapas e Rojava devem fazer muitos da esquerda, incluindo alguns anarquistas, jogarem no lixo sua mentalidade colonial e dogmatismo ideológico.

Um mundo sem hierarquia, dominação, capitalismo e destruição ambiental ou, como dizem os Zapatistas, um mundo onde cabem muitos mundos, é frequentemente descrito como “utópico” e “impraticável” pela grande mídia, estruturas educacionais e políticas. Entretanto, não é uma miragem futura que vem dos livros – ele está acontecendo aqui e agora e os exemplos dos Curdos e Zapatistas são uma poderosa arma para fazer valer nossa capacidade de imaginar uma mudança radical real em uma sociedade, assim como um modelo com o qual podemos aprender em nossas lutas. As estrelas vermelhas que brilham sobre os Chiapas e Rojava vertem luz sobre o caminho à libertação e, se precisarmos resumir em uma palavra o que junta estas duas lutas, ela seria, definitivamente, Autonomia.

Notas:

[i] Dicle, Amed (2015) Kobane Victory, How it Unfolded. URL: http://kurdishquestion.com/index.php/insight-research/analysis/kobane-victory-how-it-unfolded.html

[ii] Dirik, Dilar (2015) Whi Kobane Did Not Fall. URL: http://kurdishquestion.com/index.php/kurdistan/west-kurdistan/why-kobani-did-not-fall.html

[iii] International Brigades Form in Rojava (2014) URL: http://beforeitsnews.com/alternative/2015/01/international-brigades-form-in-rojava-no-pasaran-video-3100250.html

[iv] Marcos (2003) I Shit on All Revolutionary Vanguards on This Planet. URL: http://roarmag.org/2011/02/i-shit-on-all-the-revolutionary-vanguards-of-this-planet/

[v] Oikonomakis, Leonidas (2013) Zapatistas Celebrate 10 Years of Autonomy With Escuelita.   http://roarmag.org/2013/08/escuelita-zapatista-10-year-autonomy/

[vi] Joint Statement of the Academic Delagation to Rojava. URL: https://zcomm.org/znetarticle/joint-statement-of-the-academic-delegation-to-rojava/

[vii] Dirik, Dilar (2014) Western Fascination With “Badass” Kurdish Women. URL:http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2014/10/western-fascination-with-badas-2014102112410527736.html

[viii] Anarchist Federation Statement on Rojava (2014)  URL: http://www.afed.org.uk/blog/international/435-anarchist-federation-statement-on-rojava-december-2014.html

1 de Maio – Dia do trabalhador – Dia de Luto e luta

1-de-maio

Fonte: Anarkio.Net

1º de Maio é dia do TRABALHADOR!

Um dia de rebelião, não de descanso! Um dia não ordenado pelos vozeros arrogantes das instituições que tem aprisionado o mundo do trabalhador! Um dia em que o trabalhador faz suas próprias leis e tem o poder de executá-las! Tudo sem o consentimento nem aprovação dos que oprimem e governam. Um dia em que com tremenda força a unidade do exército dos trabalhadores se mobiliza contra os que hoje dominam o destino dos povos de toda nação. Um dia de protesto contra a opressão e a tirania, contra a ignorância e a guerra de todo tipo. Um dia para começar a desfrutar oito horas de trabalho, oito horas de descanso, oito horas para fazer o que nos dê vontade.”

Essa era a convocatória do 1° de maio de 1886, dia em que 5.000 greves com 340.000 grevistas, se espalharam pelos Estados Unidos. Chicago foi palco de muita luta, repressão, mortes e injustiças. É importante resgatar a memória do 1º de Maio e recuperar a história para entender que o Dia do trabalhador não é dia de festas é o dia de lembrar nossos mortos, dia de luta e resistência!

Trouxemos pⒶra voc’s a história do 1º de Maio, como nasceu este dia e porque(m) ele é comemorado. Este pequeno vídeo relata a verdadeira história do primeiro de Maio e como as lutas dos trabalhadores anarquistas conseguiram a redução da jornada, 8 horas de trabalho, 8 horas de lazer, 8 horas de repouso.

Ao contrário do que os partidos, os sindicatos pelegos, os burgueses e os Estados tentam nos fazer acreditar com seu revisionismo histórico, o primeiro de maio é um dia de origem anarquista, decorrente das agitações pela jornada de trabalho de 8 horas, à qual 5 anarquistas de Chicago deram suas vidas. Há vasta literatura sobre os fatos reais do primeiro de maio, então reproduzimos abaixo um texto sucinto mas bastante informativo.

Maio já foi um mês diferente de qualquer outro. No primeiro dia desse mês as tropas e as polícias ficavam de prontidão, os patrões se preparavam para enfrentar problemas e os trabalhadores não sabiam se no dia 2 teriam emprego, liberdade ou até a vida.

Hoje, tudo isso foi esquecido. A memória histórica dos povos é pior do que a de um octogenário esclerosado, com raros momentos de lucidez, intercalados por longos períodos de amnésia. Poucos são os trabalhadores, ou até os sindicalistas, que conhecem a origem do 1° de maio. Muitos pensam que é um feriado decretado pelo governo, outros imaginam que é um dia santo em homenagem a S. José; existem até aqueles que pensam que foi o seu patrão que inventou um dia especial para a empresa oferecer um churrasco aos “seus” trabalhadores. Também existem – ou existiam – aqueles, que nos países ditos socialistas, pensavam que o 1° de maio era o dia do exército, já que sempre viam as tropas desfilar nesse dia seus aparatos militares para provar o poder do Estado e das burocracias vermelhas.

As origens do 1° de maio prendem-se com a proposta dos trabalhadores organizados na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) declarar um dia de luta pelas oito horas de trabalho. Mas foram os acontecimentos de Chicago, de 1886, que vieram a dar-lhe o seu definitivo significado de dia internacional de luta dos trabalhadores.

No século XIX era comum (situação que se manteve até aos começos do século XX) o trabalho de crianças, grávidas e trabalhadores ao longo de extenuantes jornadas de trabalho que reproduziam a tradicional jornada de sol-a-sol dos agricultores. Vários reformadores sociais já tinham proposto em várias épocas a ideia de dividir o dia em três períodos: oito horas de trabalho, oito horas de sono e oito horas de lazer e estudo, proposta que, como sempre, era vista como utópica, pelos realistas no poder.

Com o desenvolvimento do associativismo operário, e particularmente do sindicalismo autônomo, a proposta das 8 horas de jornada máxima, tornou-se um dos objetivos centrais das lutas operárias, marcando o imaginário e a cultura operária durante décadas em que foi importante fator de mobilização, mas, ao mesmo tempo, causa da violenta repressão e das inúmeras prisões e mortes de trabalhadores.

Desde a década de 20 do século passado, irromperam em várias locais greves pelas oitos horas, sendo os operários ingleses dos primeiros a declarar greve com esse objetivo. Aos poucos em França e por toda a Europa continental, depois nos EUA e na Austrália, a luta pelas oitos horas tornou-se uma das reivindicações mais freqüentes que os operários colocavam ao Capital e ao Estado.

Quando milhares de trabalhadores de Chicago, tal como de muitas outras cidades americanas, foram para as ruas no 1° de maio de 1886, seguindo os apelos dos sindicatos, não esperavam a tragédia que marcaria para sempre esta data. No dia 4 de maio, durante novas manifestações na Praça Haymarket, uma explosão no meio da manifestação serviu como justificativa para a repressão brutal que seguiu, que provocou mais de 100 mortos e a prisão de dezenas de militantes operários e anarquistas.

Alberto Parsons um dos oradores do comício de Haymarket, conhecido militante anarquista, tipógrafo de 39 anos, que não tinha sido preso durante os acontecimentos, apresentou-se voluntariamente à polícia tendo declarado: “Se é necessário subir também ao cadafalso pelos direitos dos trabalhadores, pela causa da liberdade e para melhorar a sorte dos oprimidos, aqui estou”. Junto com August Spies, tipógrafo de 32 anos, Adolf Fischer tipógrafo de 31 anos, George Engel tipógrafo de 51 anos, Ludwig Lingg, carpinteiro de 23 anos, Michael Schwab, encadernador de 34 anos, Samuel Fielden, operário têxtil de 39 anos e Oscar Neeb seriam julgados e condenados. Tendo os quatro primeiros sido condenados à forca, Parsons, Fischer, Spies e Engel executados em 11 de novembro de 1887, enquanto Lingg se suicidou na cela. Augusto Spies declarou profeticamente, antes de morrer: “Virá o dia em que o nosso silêncio será mais poderoso que as vozes que nos estrangulais hoje”.

Este episódio marcante do sindicalismo, conhecido como os “Mártires de Chicago”, tornou-se o símbolo e marco para uma luta que a partir daí se generalizaria por todo o mundo.

O crime do Estado americano, idêntico ao de muitos outros Estados, que continuaram durante muitas décadas a reprimir as lutas operárias, inclusive as manifestações de 1° de maio, era produto de sociedades onde os interesses dominantes não necessitavam sequer ser dissimulados. Na época, o Chicago Times afirmava: “A prisão e os trabalhos forçados são a única solução adequada para a questão social”, mas outros jornais eram ainda mais explícitos como o New York Tribune: “Estes brutos [os operários] só compreendem a força, uma força que possam recordar durante várias gerações…”

Seis anos mais tarde, em 1893, a condenação seria anulada e reconhecido o caráter político e persecutório do julgamento, sendo então libertados os réus ainda presos, numa manifestação comum do reconhecimento tardio do terror de Estado, que se viria a repetir no também célebre episódio de Sacco e Vanzetti.

A partir da década de 90, com a decisão do Congresso de 1888 da Federação do Trabalho Americana e do Congresso Socialista de Paris, de 1889, declararem o primeiro de maio como dia internacional de luta dos trabalhadores, o sindicalismo em todo o mundo adotou essa data simbólica, mesmo se mantendo até ao nosso século como um feriado ilegal, que sempre gerava conflitos e repressão.

Segundo o historiador do movimento operário, Edgar Rodrigues, a primeira tentativa de comemorar o 1 de maio no Brasil foi em 1894, em São Paulo, por iniciativa do anarquista italiano Artur Campagnoli, iniciativa frustrada pelas prisões desencadeadas pela polícia. No entanto, na década seguinte, iniciaram-se as comemorações do 1 de maio em várias cidades, sendo publicados vários jornais especiais dedicados ao dia dos trabalhadores e números especiais da imprensa operária comemorando a data. São Paulo, Santos, Porto Alegre, Pelotas, Curitiba e Rio de Janeiro foram alguns dos centros urbanos onde o nascente sindicalismo brasileiro todos os anos comemorava esse dia à margem da legalidade dominante.

Foram décadas de luta dos trabalhadores para consolidar a liberdade de organização e expressão, que a Revolução Francesa havia prometido aos cidadãos, mas que só havia concedido na prática à burguesia, que pretendia guardar para si os privilégios do velho regime.

Um após outro, os países, tiveram de reconhecer aos novos descamisados seus direitos. O 1° de maio tornou-se então um dia a mais do calendário civil, sob o inócuo título de feriado nacional, como se décadas de lutas, prisões e mortes se tornassem então um detalhe secundário de uma data concedida de forma benevolente, pelo Capital e pelo Estado em nome de S. José ou do dia, não dos trabalhadores, mas numa curiosa contradição, como dia do trabalho. Hoje, olhando os manuais de história e os discursos políticos, parece que os direitos sociais dos trabalhadores foram uma concessão generosa do Estado do Bem-Estar Social ou, pior ainda, de autoritários “pais dos pobres” do tipo de Vargas ou Perón.

Quanto às oitos horas de trabalho, essa reivindicação que daria origem ao 1º de maio, adquiriu status de lei, oficializando o que o movimento social tinha já proclamado contra a lei. Mas passado mais de um século, num mundo totalmente diferente, com todos os progressos tecnológicos e da automação, que permitiram ampliar a produtividade do trabalho a níveis inimagináveis, as oitos horas persistem ainda como jornada de trabalho de largos setores de assalariados! Sem que o objetivo das seis ou quatro horas de trabalho se tornem um ponto central do sindicalismo, também ele vítima de uma decadência irrecuperável, numa sociedade onde cada vez menos trabalhadores terão trabalho e onde a mutação para uma sociedade pós-salarial se irá impor como dilema de futuro. Exigindo a distribuição do trabalho e da riqueza segundo critérios de eqüidade social que o movimento operário e social apontou ao longo de mais de um século de lutas.
*Membro do Centro de Estudos Cultura e Cidadania – Florianópolis (CECCA)

1ª de maio por Eduardo Galeano.

A desmemoria/4

Chicago está cheia de fábricas. Existem fábricas até no centro da cidade, ao redor do edifício mais alto do mundo. Chicago está cheia de fábricas, Chicago está cheia de operários.
Ao chegar ao bairro de Haymarket, peço aos meus amigos que me mostrem o lugar onde foram enforcados, em 1886, aqueles operários que o mundo inteiro saúda a cada primeiro de maio.
– Deve ser por aqui – me dizem. Mas ninguém sabe. Não foi erguida nenhuma estátua em memória dos mártires de Chicago na cidade Chicago. Nem estátua, nem monólito, nem placa de bronze, nem nada.
O primeiro de maio é o único dia verdadeiramente universal da humanidade inteira, o único dia no qual coincidem todas as histórias e todas as geografias, todas as línguas e as religiões e as culturas do mundo; mas nos Estados Unidos, o primeiro de maio é um dia como qualquer outro. Nesse dia, as pessoas trabalham normalmente, e ninguém, ou quase ninguém, recorda que os direitos da classe operária não brotaram do vento, ou da mão de Deus ou do amo.
Após a inútil exploração de Haymarket, meus amigos me levam para conhecer a melhor livraria da cidade. E lá, por pura curiosidade, por pura casualidade, descubro um velho cartaz que está como que esperando por mim, metido entre muitos outros cartazes de música, rock e cinema.
O cartaz reproduz um provérbio da África: Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador.”
Página 115/116, “O livro dos Abraços”.

DIA DE MAIO – DIA INTERNACIONAL DO TRABALHO – A HISTÓRIA

1 de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, comemora a luta histórica da classe trabalhadora em todo o mundo, e é reconhecido na maioria dos países. Os Estados Unidos da América e Canadá estão entre as exceções. Isso apesar do fato de que o feriado começou na década de 1880 nos EUA, ligadas a batalha pela jornada de oito horas , e os anarquistas de Chicago .

A luta pela jornada de oito horas começou na década de 1860. Em 1884, a Federação de Negócios organizada e Sindicatos dos Estados Unidos e do Canadá , organizado em 1881 (e mudando seu nome em 1886 para Federação Americana do Trabalho ) aprovou uma resolução que afirmava que “oito horas constituirão um dia de trabalho legal de partir e após 1 de Maio de 1886, e que nós recomendamos para organizações de trabalho em todo este distrito que eles assim direcionar suas leis como se conformar com esta resolução ” . No ano seguinte, a Federação repetiu a declaração de que um sistema de oito horas era para entrar em vigor em 1 de Maio de 1886. Com trabalhadores sendo forçados a trabalhar dez, doze e quatorze horas por dia, apoio ao movimento de oito horas cresceu rapidamente . Nos meses anteriores a 1 de Maio de 1886, milhares de trabalhadores, organizados e não organizados, os membros da organização Cavaleiros do Trabalho e da federação, foram atraídos para a luta. Chicago foi o principal centro da agitação por um dia mais curto. Os anarquistas estavam na vanguarda do Sindicato Central de Chicago, que consistia de 22 sindicatos em 1886, entre eles os sete maiores da cidade.

Durante as greves da estrada de ferro de 1877, os trabalhadores haviam sido violentamente atacada pela polícia e exército dos Estados Unidos. Uma tática semelhante de terrorismo de Estado foi preparado pela burocracia para combater o movimento de oito horas. A polícia e da Guarda Nacional foram aumentados em tamanho e recebeu armas novas e poderosas financiados por empresários locais. Do Clube Comercial de Chicago comprou uma metralhadora $ 2000 para a Guarda Nacional de Illinois para ser usado contra os grevistas. No entanto, até 1 º de maio, o movimento já havia vencido os ganhos para muitos trabalhadores de Chicago. Mas em 3 de maio de 1886, a polícia disparou contra uma multidão de grevistas no McCormick Harvester Machine Company, matando pelo menos um atacante, ferindo gravemente cinco ou seis outros, e ferindo um número indeterminado. Anarquistas convocaram uma reunião em massa no dia seguinte em Haymarket Square para protestar contra a brutalidade.

A reunião transcorreu sem incidentes, e pelo tempo que o último orador estava na plataforma, a reunião das chuvas já estava terminando, com apenas cerca de duas centenas de pessoas restantes. Foi então uma coluna policial de 180 homens marcharam para a praça e ordenou a reunião a se dispersar. Ao final da reunião, uma bomba foi atirada na polícia, matando um instantaneamente, outras seis pessoas morreram depois. Cerca de setenta policiais foram feridos. A polícia respondeu disparando contra a multidão. Quantos civis foram feridos ou mortos desde bullits polícia nunca foi apurado exatamente. Embora nunca foi determinado que jogou a bomba, o incidente foi usado como uma desculpa para atacar os anarquistas e do movimento dos trabalhadores em geral. Polícia saquearam as casas e escritórios dos suspeitos radicais, e centenas foram presos sem acusação. Um reinado de terror da polícia varreu Chicago. Encenação “raids” nos bairros operários, a polícia arredondado para cima todos os anarquistas conhecidos e outros socialistas. “Faça as incursões em primeiro lugar e olhar para cima a lei depois!” aconselhou publicamente o advogado do Estado.

Os anarquistas, em especial, foram perseguidos, e oito de Chicago de mais ativos foram acusados ​​de conspiração para assassinato em conexão com o bombardeio de Haymarket. Um tribunal canguru encontrados todos os oito culpados, apesar da falta de evidência de ligar qualquer um deles para a bomba-chamas, e eles foram condenados a morrer. Em 09 de outubro de 1886, a revista semanal Cavaleiros do Trabalho publicado em Chicago, realizada na página 1 o seguinte anúncio: “Na próxima semana vamos começar a publicação das vidas dos anarquistas anunciados em outra coluna.”

O anúncio, realizado na página 14, leia-se: ” A história de anarquistas , contadas por eles próprios; Parsons, Spies, Fielden, Schwab, Fischer, Lingg, Engle, Neebe A única verdadeira história dos homens que afirmam que eles são. condenado a sofrer a morte para o exercício do direito de liberdade de expressão : a sua associação com o trabalho, socialista e anarquista Sociedades, seus pontos de vista quanto aos objetivos e objetos dessas organizações, e como eles esperam para realizá-los, também a sua ligação com o Chicago Haymarket caso . Cada homem é o autor de sua própria história, que aparecerá apenas nos “Cavaleiros do Trabalho” , durante os próximos três meses, – o grande papel de trabalho dos Estados Unidos, um de 16 páginas semanário, que contém todas as últimas estrangeira e notícias de trabalho doméstico do dia, histórias, dicas domésticas, etc Um papel cooperativo possuído e controlado por membros dos Cavaleiros do Trabalho , e mobilado para a pequena quantia de US $ 1,00 por ano . Adress todas as comunicações para Cavaleiros do Trabalho Publishing Company , 163 Washington St., Chicago, Illinois ” Ainda este jornal e do papel de alarme publicou as autobiografias dos homens Haymarket.

Albert Parsons, August Spies, Adolf Fischer e George Engel foram enforcados em 11 de Novembro de 1887. Louis Lingg se suicidou na prisão. As autoridades entregue os corpos para os amigos para o enterro, e um dos maiores cortejos fúnebres da história do Chicago foi realizada. Estima-se que entre 150.000 a 500.000 pessoas alinharam a rota seguida pelo cortejo fúnebre dos mártires de Haymarket. Um monumento aos homens executados foi revelado 25 de junho de 1893 no cemitério Waldheim em Chicago. Os três restantes, Samuel Fielden, Oscar Neebe e Michael Schwab, foram finalmente perdoados em 1893.

Em 26 de junho de 1893, o governador de Illinois, John Peter Altgeld, emitiu a mensagem perdão em que ele deixou claro que ele não estava concedendo o perdão, porque ele acreditava que os homens tinham sofrido o suficiente, mas porque eles eram inocentes do crime para o qual havia sido julgado, e que eles e os homens enforcados haviam sido vítimas de histeria, os júris embalados e um juiz preconceituoso. Ele observou que os réus não foram provados culpados, porque o Estado “nunca descobriu quem foi que jogou a bomba que matou o policial, e as evidências não mostram qualquer ligação entre os réus eo homem que atirou nele.”

Dia Internacional dos Trabalhadores é a comemoração do evento Revolta de Haymarket , em Chicago , em 1886. Em 1889, o primeiro congresso da Segunda Internacional, reunião em Paris para o centenário da Revolução Francesa e da Exposição Universal (1889) , na sequência de uma iniciativa do Federação Americana do Trabalho , convocaram protestos internacionais em 1890 aniversário dos protestos de Chicago. Estes foram tão bem sucedidos que May Day foi formalmente reconhecida como um evento anual no segundo congresso da Internacional em 1891.

Não é de surpreender que o Estado, líderes empresariais, dirigentes sindicais mainstream, e os meios de comunicação querem esconder a verdadeira história do Primeiro de Maio. Na sua tentativa de apagar a história eo significado do Dia de maio, o governo dos Estados Unidos declarou 01 de maio como “Lei Day”, e deu os trabalhadores em vez do Dia do Trabalho, a primeira segunda-feira de Setembro – um feriado desprovido de qualquer significado histórico.

No entanto, em vez de suprimir os movimentos operários e anarquistas, os acontecimentos de 1886 ea execução dos anarquistas de Chicago, os porta-vozes do movimento para a jornada de oito horas, mobilizou muitas gerações de radicais. Emma Goldman, um jovem imigrante na época, depois apontou para o caso de Haymarket como o seu nascimento político. Em vez de desaparecer, o movimento anarquista apenas cresceu na esteira de Haymarket.

Como trabalhadores, devemos reconhecer e comemorar o Dia de maio, não só pela sua importância histórica, mas também como um tempo para organizar em torno de questões de importância vital de hoje para a classe trabalhadora em sentido lato, ou seja, as bases – as pessoas vistas como uma classe em contraste com os superiores de renda e / ou classificação – economicamente e / ou políticos / administrativos.